11 setembro 2007

A OUTRA COMUNIDADE


Já li os contos de Teolinda Gersão, em especial " A Dedicatória" e "O Leitor". O poder da literatura e o fascínio dos livros no seu melhor. Dia 25 lá estaremos, espero.
MN

08 setembro 2007

28 DE SETEMBRO



Capitu e Maria Eduarda no exílio dourado de Paris. Alguma amargura. Uniões desfeitas: uma pelo ciúme, a outra pela catástrofe grega da relação incestuosa.
Intertexto com Machado de Assis ("Dom Casmurro") e Eça de Queirós ("Os Maias") em pano de fundo.
Dizia a autora:
"... o encontro de duas personagens femininas maiores do imaginário ficcional em língua portuguesa...
... O texto que se segue, "Madame", terminado em 1997, é pois o resultado de um projecto de espectáculo, que foi sendo adiado, até ter agora a sua estreia programada para o mês de Abril do ano 2000, com o apoio oficial do Brasil e de Portugal, a ser encenado por Ricardo Pais e interpretado pelas actrizes Eunice Munõz e Eva Wilma."
Este é o desafio de leitura a que nos lançamos. Bom trabalho, caros leitores!

15 agosto 2007

"AS HORAS NUAS" - Lygia Fagundes Telles


SEI APENAS AQUILO QUE UM GATO PODE SABER. Mas digo que para entender a alma duma mulher não chega às vezes a vida dum homem. Nisso terei eu algumas vantagens com as minhas vidas múltiplas: compreender uma mulher como esta, dona de mim mesmo, que me mandou castrar para que fosse só seu e de mais ninguém – Rosa, Rosa Ambrósio, Rosana, actriz que pisou os palcos da glória, agora um pouco envelhecida, ainda por cima alcoólatra, ou alcoólica, nem a terapia lhe tem valido. Rosana perdeu homens: Miguel, o primeiro amor, chamado na juventude ao convívio dos deuses; Gregório, o legítimo, embora já dormissem em camas separadas, levado por um enfarte que foi um suicídio; Diogo, o secretário, muito mais novo do que ela, saído da sua vida pelo próprio pé. Por isso vive quase só, comigo e com uma empregada, a Diú, já que com Cordélia, a filha, não pode contar. Cordélia, uma jovem com uma singular atracção por homens velhos, todos na casa dos sessenta, velhos perversos a quem falta o vigor e a honestidade do amor juvenil. Minha filha, coitadinha, não deixe que eles se babem sobre as suas carnes, não permita que façam porcarias consigo – mas isto não sou eu que digo, é uma dor que Rosana tem dentro de si, é um grito dela. De todos os amantes só Diogo sabia declinar-lhe o nome: ROSA ROSAE. Talvez por isso tenha sido tão custosa a separação.



Rahul. Rahul é o meu nome. Já tive vidas de gente, já fui menino numa moradia de venezianas verdes, ou de persianas verdes, vivi um singular episódio de amor numa casa com átrio, peristilo e um jardim florido onde havia uma mesa com tampo de mármore e pés de bronze imitando patas de leão. Outras eras. Vestia uma túnica e era jovem. Hoje sou uma bola de pêlo com patas almofadadas, língua rugosa, um sexo inexistente e estes olhos da alma atravessando os tempos.



Ananta Medrado, trinta e um anos, virgem, é a psicanalista que assiste Rosana. O cavalo do desejo à desfilada no corpo, ou no andar de cima onde habita um misterioso vizinho, ou dentro da alma, lugar onde acontecem tantas coisas que não sabemos explicar. Quem poderia imaginar ao vê-la assim com a sua bata de médica, sentada no consultório à cabeceira do divã, tratando a minha dona – uma diva no divã – fazendo correr o rio das palavras na memória dos afectos perdidos? Ananta desapareceu e nunca mais foi encontrada, o assunto está na Delegacia das Pessoas Desaparecidas. Um problema. Não, um teorema. Um teorema é um problema onde metemos Deus: teo + rema. Isto dizia Gregório, o meu dono, um ataque cardíaco que foi suicídio. Ananta desapareceu para se refugiar em algum lugar a domar o cavalo bravo do desejo, trinta e um anos, ninguém a castrou, isto é o que pensa Rosana, a minha dona.



Tenho saudades de Gregório. Antes de Rosana desfazer as estantes e dar sumiço nos livros ainda vinha pela noite visitar o refúgio da biblioteca. Eu deitava-me na transparência das suas pernas, ronronando a minha asma como uma chaleira fervente, e mesmo assim parecia que me sentia e afagava-me o dorso peludo com a nuvem da mão. Depois desapareceu de vez. Tenho saudades de Gregório, tenho saudades de tudo o que fui. Hoje sou um simples gato saído de um livro para falar de uma história.



Uma história? Nem tenho a certeza.




( Publicado em www.sonhocomandavida.blogspot.com em 15 de Julho de 2006 - M. Nunes )

22 julho 2007

27 DE JULHO, 21 HORAS, BIBLIOTECA DE S. DOMINGOS DE RANA

Não é imperativo que o medo se vincule a um princípio de racionalidade. Quantos medos não sabemos explicar? Serão melhores ou piores do que aqueles cujos nomes conhecemos?







Quem é que, na infância, não subiu a árvores?




M.N.

24 junho 2007

OS PASSOS DE RICARDO REIS



Aqui, no Alto de Santa Catarina, com imagem de empréstimo por ter falhado a pilha da máquina fotográfica, terminou o nosso itinerário. No Alto de Santa Catarina, a ver navios, lendo em Camões a paixão do Adamastor por Tétis, filha de Dóris e Nereu, e procurando nos prédios em redor o segundo andar onde Ricardo Reis, com escândalo das vizinhas, recebia Lídia e Marcenda.

23 junho 2007

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS (I)


Os viciosos leitores descobrindo, junto ao decrépito edifício do Hotel Bragança, por entre um misto de assombro e arroubo contemplativo, a "pedra rectangular, embutida e cravada num murete que dá para a Rua Nova do Carvalho, dizendo em letra de ornamento, Clínica de Enfermedades de los Ojos y Quirúrgicas, fundada em 1870 por A. Mascaró."

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS (II)


Nas Escadinhas do Duque, depois da visita à Igreja de S. Roque e à sua Capela de São João Baptista

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS (III)



Abrigados da chuva no pórtico do Teatro de São Carlos

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS ( IV )


Na Estação do Rossio a nota simbolista de uma escultura de D. Sebastião, o Desejado

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS ( V )



No Rossio, com o Teatro Nacional em fundo e a sombra protectora de D. Pedro IV (afinal não se trata de Maximiliano do México)

09 junho 2007

OS PASSOS DE RICARDO REIS ( segundo o romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis" de José Saramago) - dia 16 de Junho


Num dia cinzento de Janeiro de 1936 Ricardo Reis vai à bilheteira do Teatro Nacional comprar uma poltrona para a peça Tá Mar de Alfredo Cortez. Dona Palmira Bastos é Ti Gertrudes, Dona Amélia Rey Colaço faz de Maria Bem e Dona Lalande de Rosa. Mas pouco lhe interessa a arte de tão notáveis actrizes ou a excelência da dramaturgia em cena. Ricardo Reis não vai ao teatro pela arte de Talma e de Sara Bernhardt, vai por Marcenda, com quem se quer fazer encontrado, pois sabe de fonte certa que ela ali estará nessa noite, na companhia de seu pai, assistindo à representação da peça sobre a vida dos pescadores da Nazaré.
Ricardo Reis nem repara no elegante edifício neoclássico – a casa de Garrett. Se não tivesse a alma e os sentidos embotados pelo orvalho do amor, daria conta da beleza do pórtico da fachada – de seis colunas jónicas – que suporta um frontão triangular encimado pelas estátuas de Gil Vicente, ao centro, e de Talia e Melpómene nos extremos. E veria no frontão o tímpano esculpido representando Apolo e as Musas. Ricardo Reis, como poeta clássico, é íntimo de todas as musas, especialmente das suas, com os nomes de Neera, Cloe e Lídia.
Antes de ir para o teatro, à noite, ainda sente na pele as delícias carnais de Lídia ( não se trata da musa, mas da criada do hotel); come um bife no Martinho do Rossio, assiste a uma partida de bilhar – tudo coisas tão vulgares, tão comezinhas, que nem parecem de um poeta que trata por tu os metros de Horácio, que convive com as odes de Safo, Píndaro e Alceu.
Um homem na mudança da idade atrás de um rabo de saia de vinte e três anos! Bem lhe chegou Fernando Pessoa numa das suas extraordinárias aparições.
-
Manuel Nunes

28 abril 2007

AINDA "O MANDARIM" ( III )

O que ficou da abordagem desta obra de Eça de Queirós?
O autor abandona a análise pura e dura da realidade humana ( tal como fizera em “O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio”) e deixa-se ir pelas veredas do sonho, do sobrenatural e do idealismo. A verdade é que, mesmo assim, e apesar da exortação que, nesse sentido, é feita na comédia do prólogo, não ficam imunes à sua crítica as pequenas e grandes contradições da burguesia lisboeta, os dislates de uma sociedade assente no servilismo e na hipocrisia, assim como a figura do imperialismo que, no século dezanove, fazia da China um país semicolonizado pelo capitalismo internacional, às ordens de todos os Camilloffes que por lá estanciavam.
Eça retoma neste romance a parábola do mandarim – o cometimento de um crime impune de onde resulta uma grande vantagem para quem o pratica ou consente - que tem raízes em Chateaubriand ( “Le Génie du Christianisme “), e foi usada, entre outros, por Balzac (“Le Père Goriot” ).
A “moralidade discreta” anunciada no já citado prólogo desemboca afinal na grande máxima que Teodoro, o protagonista, lança aos leitores no final da narrativa: “Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!”. Só que este Teodoro é bicho que não merece confiança: dizendo-se ateu convicto, mandava rezar missas por alma do mandarim que o obsidiava e dedicava-se a um culto muito especial de Nossa Senhora das Dores. Por fim, acaba por legar os seus milhões ao Demónio. É caso para se dizer que vivia com Deus e o Diabo.


Manuel Nunes

AINDA "O MANDARIM" ( II )

Eça vestido com uma cabaia chinesa: uma cabaia de mandarim, de seda verde, bordada a flores de amendoeira.

AINDA "O MANDARIM" ( I )

Teodoro, no quiosque Repouso Discreto, tecendo horas de seda e oiro aos pés pequeninos da generala...

25 abril 2007

27 de ABRIL, 21 HORAS

1º AMIGO (bebendo conhaque e soda, debaixo de árvores, num terraço à beira-d´água)

Camarada, por estes calores de Estio que embotam a ponta da sagacidade, repousemos do áspero estudo da Realidade humana... Partamos para os campos do Sonho, vaguear por essas azuladas colinas românticas onde se ergue a torre abandonada do Sobrenatural, e musgos frescos recobrem as ruínas do Idealismo... Façamos fantasia!...

2º AMIGO

Mas sobriamente, camarada, parcamente!... E como nas sábias e amáveis alegorias da Renascença, misturando-lhe sempre uma Moralidade discreta...

(Comédia inédita, do prólogo de "O Mandarim")

PASSEIO EM SINTRA ( III )

Subindo a Serra em desfocado artístico

PASSEIO EM SINTRA ( II )

Nas ruínas da Capela de S. Pedro



PASSEIO EM SINTRA ( I )

O João perante o túmulo de Ferreira de Castro



18 abril 2007

PASSEIO A SINTRA - Guia: CRISTINA

Comunidade de Leitores da
Biblioteca de S. Domingos
de Rana


Passeio a Sintra
Sábado, 21. Abril. 2007
Tema: Ferreira de Castro

Percurso com cerca de 4,8 Km
Duração média: + - 3 horas





Pontos de partida e passagem:

1. Largo Rainha D. Amélia – Palácio Nacional de Sintra
Subindo a Rua das Padarias (da Periquita), depois à esquerda pelas escadinhas até à Rua da Ferraria, e à direita até ao…
2. Largo Ferreira de Castro, onde começa a…
3. Rampa da Pena, que se vai subindo pelo asfalto, serpenteando, serpenteando, até ao…
4. Cruzamento para os Capuchos. Aqui vira-se à esquerda e continua-se a subir até ao…
5. Portão dos Lagos do Parque da Pena. É um bom local para parar um bocadinho, antes de seguir até à entrada do
6. Castelo dos Mouros, onde se passa a porta giratória (depois de se comprar o bilhete!). A partir daqui é sempre a descer, na direcção do Castelo, até à…
7. Capela de S. Pedro (sec. XII) e, mais abaixo, o…
8. Túmulo de Ferreira de Castro (1898-1974). Continua-se a descida até à…
9. Casa do Adro, onde viveu Hans Christian Andresen e segue-se para a…
10. Igreja de Santa Maria (séc. XII), de estilo romano-gótico de três naves. Daqui avança-se pela Calçada dos Clérigos até à…
11. Fonte da Sabuga, de origem medieval e reconstruída nos finais do séc. XVIII. Continuando a descida, vamos ter ao…
12. Museu Ferreira de Castro, para uma visita e para assistirmos ao filme sobre o escritor Ferreira de Castro e à Conferência sobre “A Casa Grande de Romarigães” (17h).

Atenção: Calçado e roupa confortável; água, alguma comidita e um livrito leve…

22 março 2007

30 de Março!





Pois cá ando a ler "A Demanda de D. Fuas Bragatela". Mas isto de leituras, meus caros amigos, é como as cerejas. E já vou no "Lazarilho de Tormes", obra do século XVI fundadora da narrativa picaresca. Se puderem, vejam as semelhanças.
Manuel Nunes

24 fevereiro 2007

PLANO DE TRABALHO PARA 2007


30 de Março:







" A Demanda de Dom Fuas Bragatela " de Paulo Moreiras



27 de Abril:

"Dom Casmurro" de Machado de Assis

" O Mandarim" de Eça de Queirós

EM ABRIL, EM DATA A DESIGNAR, PASSEIO PELA SERRA DE SINTRA: " EM TORNO DA MEMÓRIA DE FERREIRA DE CASTRO".


25 de Maio:



" O Retrato de Dorian Gray" de Oscar Wilde


EM MAIO, EM DATA A DESIGNAR, PASSEIO EM LISBOA: "OS PASSOS DE RICARDO REIS - DO HOTEL BRAGANÇA A S. PEDRO DE ALCÂNTARA, DO ROSSIO AO ALTO DE SANTA CATARINA", SEGUINDO O ROMANCE DE JOSÉ SARAMAGO "O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS".
29 de Junho:

"Cândido" de Voltaire

"Lillias Fraser" de Hélia Correia

27 de Julho:
"A Pomba" de Patrick Suskind
"A História do Senhor Sommer" de Patrick Suskind



31 de Agosto:




"As Horas Nuas" de Lygia Fagundes Telles

"Os Maias" de Eça de Queirós

28 de Setembro:

"O Primeiro Amor" de Turguenev

"Madame" de Maria Velho da Costa (A abordagem desta obra reclama o conhecimento de

"Os Maias" de Eça de Queirós e de "Dom Casmurro" de Machado de Assis)



26 de Outubro:

"Quatrocentos Mil Sestércios" de Mário de Carvalho



30 de Novembro:

"O Outono do Patriarca" de Gabriel Garcia Marquez



28 de Dezembro:

"Um Cântico de Natal" de Charles Dickens

"O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo" de Germano Almeida

28 janeiro 2007

ABERTURA



DIA 23 DE FEVEREIRO DE 2007, 21 HORAS,
REUNIÃO DA COMUNIDADE DE LEITORES.
ESPERAMOS POR TI.