22 março 2008

Veríssimo e Keats



Em Janeiro quando lemos Clarissa de Érico Veríssimo, o personagem melancólico, Amaro, poeta e pianista é um amante da poesia do inglês John Keats (1795/1817) poeta da geração de românticos ingleses como Shelley, Byron. Dele cita «A thing of beauty is a joy forever» do Livro I da sua obra Endymion (1818):




A thing of beauty is a joy for ever: Its loveliness increases; it will never Pass into nothingness; but still will keep A bower quiet for us, and a sleep Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing. Therefore, on every morrow, are we wreathing A flowery band to bind us to the earth, Spite of despondence, of the inhuman dearth

Uma coisa bela é uma alegria para sempre:
A sua graça aumenta; nunca
Desaparecerá; mas sempre manterá
Um abrigo sossegado para nós, e um sono
Cheio de doces sonhos, e saúde, e calma respiração.
Portanto, em cada dia, entrelaçamos
Uma fita florida que nos liga à terra,
Apesar do desânimo, da inumana penúria


Outra obra citada de Keats é A SONG ABOUT MYSELF (c.1818), da qual reproduzo a 1ª parte:

I.
There was a naughty boy,
A naughty boy was he,
He would not stop at home,
He could not quiet be —
He took
In his knapsack
A book
Full of vowels
And a shirt
With some towels,
A slight cap
For night cap,
A hair brush,
Comb ditto,(idem)
New stockings
For old ones
Would split O!
This knapsack
Tight at’s back
He rivetted close
And followed his nose
To the north,To the north,
And follow’d his nose
To the north.

O poema que escolhi para ilustrar a sua obra foi o sugestivo

La Belle Dame Sans Merci, John Keats, 1795-1821

(A Bela Dama sem Piedade)(1819)


Oh, o que te pode torturar, triste criatura ,
Vagueando solitária e desoladamente?
O junco do lago murchou
John William Waterhouse, 1893E o canto dos pássaros cessou.

Oh, o que te pode torturar, triste criatura,
Tão desalentada e desditosa
O esquilo fechou o seu celeiro,
E a colheita foi feita.

Vejo um lírio na tua fronte,
Com angústia orvalhada e gotas de febre,
E na tua face uma rosa esmaecida,
Também cedo definhada.

Encontrei uma dama nos prados,
Tão bela, uma criança das fadas:
O seu cabelo era longo, o andar leve,
E os seus olhos selvagens.

Segui-a a passo no meu cavalo,
E nada mais vi todo o dia;
Pois ela inclinava-se de relance, e cantava
Uma canção de fadas.

Fiz uma grinalda para a sua fronte,
E também pulseiras, e fragrâncias do local;
Ela fitou-me como se de verdade amasse ,
E gemeu docemente.

Ela descobriu raízes de doces delícias,
E mel selvagem, e orvalho como maná,
E numa língua estranha certamente disse,
‘Amo-te de verdade!’

Conduziu-me à sua gruta de elfos,
E ali mirou-me e profundamente suspirou,
E ali fechei-lhe os olhos selvagens e tristes--.
Beijado até adormecer.

E ali descansamos no musgo,
E ali sonhei, oh! Maus desígnios,
O último sonho que jamais sonhei
Na fria colina.
Vi reis pálidos, e também príncipes,
Pálidos guerreiros, todos pálidos de morte;
Que gritavam--.’A bela Dama sem piedade
Mantém-te em servidão!’.

Vi os seus lábios esfomeados no crepúsculo,
Com horríveis bocas que abertas me avisavam,
E acordei e ali me encontrei,
Na fria colina.

Por isso aqui permaneço,
Vagueando solitária e desoladamente,
Apesar do junco do lago ter murchado,
E o canto dos pássaros ter cessado.

Na obra de Veríssimo, Um Lugar ao Sol, o nosso Amaro, amante dos românticos ingleses, resolve a sua vidinha de forma bem prosaica abdicando da beleza em prol do estômago e do aconchego da carne... Os tempos estavam difíceis. Como sempre estão...

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