03 agosto 2009

As nossas Cidades (In)visíveis












Évora

Lisboa, Mapa do séc. XVI




Velha Porta, Évora


Palácio e Quinta do Marquês de Pombal, Oeiras







Rossio, Lisboa




















Café no Quartier Latin, Paris




Vale de Alcântara, Lisboa



Paris

























Zocalo, Cidade do México















Rialto, Veneza

Recanto, Veneza


















Piazza del Campo, Siena















Marginal de Lourenço Marques











Recanto, Atenas
















Jerusalém, «cidade divina»





















Lisboa em hora de ponta










Jerusalém












Siena

















Cidade do México


Canal, Cidade do México















Cidade do México


















Catedral, Cidade do México












Mercado da fruta, Caldas da rainha












Baía de Cascais













Aveiro





Atenas









Parque, Caldas da Rainha














Recanto, Évora







Parténon, Atenas







Lisboa





Fachada, Lisboa
















Lisboa




















Lisboa Pombalina






Lisboa no início do séc. XVI
Funchal








«Samarcan é uma nobre cidade, adornada com formosos jardins e circundada por uma planície onde se criam todos os frutos que o homem possa desejar.», in O Livro de Marco Polo, Lx, Portugália, 1971
«O Viajante (...) não hesita em apontar Samarcanda e os seus jardins.», in Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, Lx, Teorema, 2008

No decorrer da nossa animada e concorrida sessão de 31/07 e a propósito das cidades de I. Calvino, cada participante referiu a cidade/s que por motivos visíveis ou invisíveis guarda no coração. Passo a enumerá-las:


Para o Laurindo, a cidade tem o nome perfumado de Funchal e dispõe-se em presépio (a Lapinha) a partir das colinas, sobre o Atlântico, sempre com uma flor como pano de fundo, entre o céu e o mar;
Já muitos outros escolheram Lisboa, não uma, mas as suas Lisboas: a cidade fluvial dos ribeiros, regueirões e boqueirões que a atravessavam em tempos idos, que a tornavam fresca e hortícula e os estratos de história acumulados e encontrados a cada esquina, para o Manuel; a cidade dos telhados vermelhos vista da suspensão da ponte para a Cristina;também para a Filomena, o encantamento da cidade vista da ponte, refulgindo ao por do sol; o encanto de uma cidade redescoberta para a Teresa através dos percursos das suas águas; para a Odete, a Lisboa dos bairros das colinas e das praças ajardinadas, como a do Príncipe Real;para mim, cidade amada e detestada em simultâneo, mas que cativa ao ser descoberta, nos seus recantos e memórias históricas e encanta na luminosidade do seu céu, de um perfeito azul; para a Graça, o fascínio reside na Lisboa do constante movimento e tráfego; na confusão citadina que expressa o pulsar de uma vida intensa e nesse movimento initerrupto ilustra uma sensação de liberdade;
Cristina referiu ainda o seu gosto por Aveiro das linhas de água e tempos de estudante;
Para o Fausto, Cascais, é a vila perfeita, que se percorre com prazer e onde se contempla o mar;
Para Lurdes, a «sua» cidade é uma cidade do passado: Lourenço Marques, paraíso à beira do Índico;
Évora, a«princesa do Alentejo», é a cidade de eleição da Manuela, que passa bem sem o mar ou a beira-rio. Sendo uma mulher do sul, necessita dos espaços amplos da planície e da cidade branca e calma, cercada de muralhas que a contém, mas não limitam, cuja cor dos campos circundantes muda com a estação, plena de memória histórica, ilustrada na toponímia, seja a Rua das Gatas ou a das Cozinhas d'el Rei, onde também eu gostaria de morar e observar a linha do horizonte nos dias de fim de Verão, quando os pássaros regressam para o abrigo das velhas fortalezas espalhadas na planura;
Amélia parte da Bersabeia de I.Calvino para referir Jerusalém, cidade simultâneamente existente e não existente,terrena e celestial, afundada sob as camadas da história, marcada pelo sofrimento dos seus povos, dividida entre três religiões; ao mesmo tempo a cidade utópica, divina e celestial, do pensamento judaico/cristão, em que a cidade idealizada, medida, geométrica e funcional convive no imaginário com a realidade imperfeita da cidade dos «homens»;

Para o João, em viagem de deambulação pelo centro do país, a cidade de eleição é um poiso no percurso: Caldas da Rainha,local onde n/ foi feliz na vida militar, é agora um espaço onde respira em liberdade;
Teresa refere ainda Siena, a cidade medieval toscana, de telhados vermelhos e prédios coloridos, com a sua fascinante e oblíqua Piazza del Campo, também ela configurada segundo pontos e curso das suas águas;
A cidade da Custódia é a Paris, dos seus tempos de estudante: significou a abertura do mundo e das ideias, trocadas nas tertúlias dos seus cafés; cidade sentimental e apaixonante; também para ela um espaço de liberdade à beira do Sena;
A desmensurada urbe da Cidade do México, com os seus 30 milhões de habitantes ou mais, é a cidade da Maria José. Esta nova Babilónia, espécie de caos instituído, é um puzzle de cidades, construída sobre o lago e a capital azteca, dependente dos humores do vulcão. Nela se contém cantos, recantos e cheiros latinos; uma estreita ligação com a água; a cor intensa; a mistura de raças e tipos dos seus habitantes. Também ela pretenderia ser, à partida, a cidade ideal do conquistador espanhol, com a sua imensa Plaza Mayor (Zocalo); tornou-se uma tapeçaria de cidades onde tudo, os bairros coloniais, o caos e a arquitectura moderna, tem lugar;

Claúdia escolhe Atenas, paralelamente poética e feia, como a sua cidade, que é necessário viver para a descobrir, para lá do eterno Parténon;
Para mim são ainda motivo de encanto a opulenta e decadente Veneza dos canais sujos, que brilham como prata ao sol, palácios afundados e escadarias meias submersas onde apetece sentar e cismar. Ou a minha espraiada Oeiras das antigas quintas pombalinas, de terras férteis e jardins cuidados, para a qual é preciso recuperar a identidade escondida atrás do dormitório periférico.
E remato com uma outra citação de Calvino: «É desta onda que reflui das recordações que a cidade se embebe como uma esponja e se dilata.(...). Mas a cidade não conta o seu passado, contém-no como as linhas da mão, escrito nas esquinas das ruas, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos postes das bandeiras, cada segmento marcado por sua vez de arranhões, riscos, cortes e entalhes.» (p. 15)
Está contida, igualmente, na vivência, admiração e paixão que por ela nutre cada habitante/visitante.


Paula

2 comentários:

Manuel Nunes disse...

Sentimento bom, reencontrarmos a nossa cidade afectiva aqui, escrita, depois de partilhada por todos no nosso belo encontro.

Admirável esforço, Paula! Parabéns!

Custódia C. disse...

Paula
Quanta sensibilidade para reproduzir de forma tão coerente, aquilo que nos ía na alma no momento da escolha.
Excelente mesmo :)