21 junho 2011

AINDA À VOLTA DE "MADAME BOVARY"



Execrável Emma, mulher perdida,
pior qu´a de Magdala sem a luz
da postura vera e arrependida
da que s´achou no verbo de Jesus.

Filisteia insana e pervertida,
fêmea de cio que o pecado induz,
deu cabo do lar e de uma vida
e pregou o marido numa cruz.

Tive pena do Charles, pois então,
homem honesto, bom e confiante
que lhe pagava os luxos e a ambição.

Aplicava o emplastro e o expectorante,
enquanto a cabra ia p’ra Ruão
fornicar num fiacre c’ o amante.

Nota:
Soneto inédito encontrado por este modesto investigador nos hypomnemata de um frade arrábido que se fixou em Ruão depois da extinção das ordens religiosas em Portugal, tendo ali falecido em finais de 1858.
Paris, Bibliothèque nationale de France, em 10 de Abril de 2009.

3 comentários:

Línguas de perguntadeira disse...

Os homens criaram Madame Bovary ou foi o contrário? Os homens criticam mas alimentam-se de Madame Bovary ou é o contrário?

L’esprit de Simone de Beauvoir disse...

Les hommes seront toujours les mêmes. Tout d’abord ils produisent le problème et après ils assurent que la faute est de la femme !

Custódia C. disse...

Estou em estado de choque! Aliás, já tinha ficado meio aturdida como o que li no Disperso Escrevedor.
Fosse a Emma um homem e toda a acção se passasse em torno do machismo e nepotismo masculino e já não haveria prosas nem sonetos tão críticos e cruéis. Emma para mim tem uma grande falha, a entrega da sua filha a uma ama arrepiante. Tudo o resto é fruto de uma insatisfação e revolta por tudo o que a envolve, pelas desilusões, pelos sonhos não concretizados e pelo desejo de querer mais. Já percebi que isto para amanhã promete…