15 fevereiro 2012

Pela grafia dupla * (MEC)

«[É difícil de ler quem escreve segundo o Acordo ortográfico] e quem não segue? Claro que não. Habituemo-nos então às duplas grafias. Concordemos em discordar», escreve Miguel Esteves Cardoso na sua crónica publicada no diário português “Público”.

No “Público”de [8/02/2012], graças à Cláudia Carvalho e à Isabel Coutinho, estava a solução do desacordo ortográfico. Descobriram-nas nas palavras de dois inteligentes amigos meus: as de António Emiliano, da Universidade Nova de Lisboa, e as de António Feijó, da Faculdade de Letras de Lisboa. Os portugueses gostam tanto de obedecer como de pôr os outros a obedecer. Brigam muito, mas acham que abriga deve acabar por acabar.
Quando isso acontecer, uns ganham e os outros perdem. A partir desse momento, os que perdem devem obedecer aos que ganham. Numa coisa, secretamente sinistra, todos concordam: uma vez estabelecida a"norma" (pense na ópera de Bellini) todos devemos obedecer.
Porquê? É difícil de ler o Miguel Sousa Tavares no Expresso que segue o AO? Ou o Rui Tavares [no “Público”], que não segue? Claro que não. Habituemo-nos então às duplas grafias. Concordemos em discordar.
Nos dicionários registem-se as duas variantes, com a devida indiferença. Daqui a cinquenta anos, ver-se-á quais são as grafias mais e menos populares. É assim que a ortografia irá mudando: naturalmente, mas saudavelmente constrangida por apenas duas versões, ambas correctas ou corretas. Eu leio a última palavra como se rimasse com "forretas"e significasse quem corre e foge mal haja um problema. Mas percebo que haja quem leia "correcto" como analmente retentivo. E exija castigo correcional nas nádegas, somando o cu e o recto.
Vivamos em Desacordo Ortográfico.
Miguel Esteves Cardoso
* In crónica publicada no jornal Público do dia 10 de fevereiro de 2012, na coluna diária do autor, «Ainda Ontem»
Sugestão de publicação enviada pelo Leitor Helder Maia

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