05 julho 2012

UMA HISTÓRIA DE VIDA SOB O ARCO GRANDE DA MORTE


Depois do filme, ontem, no CCB, duas passagens do livro:

Maio de 1860
Nunc et in hora mortis nostrae. Amen. A recitação quotidiana do rosário terminara. Durante meia hora, a voz calma do Príncipe havia recordado os mistérios gloriosos e dolorosos; durante meia hora, outras vozes entremeadas haviam tecido um sussurro ondulante em que sobressaíam as flores de oiro de certas palavras insólitas: amor, virgindade, morte.
 
 
Novembro de 1862
Duma viela transversal, o Príncipe entreviu a parte ocidental do céu, ao cimo do mar. Lá estava Vénus, envolta no seu turbante de vapores outonais. Essa era sempre fiel, esperava sempre por ele nas suas saídas matutinas em Donnafugata, antes das caçadas, agora depois do baile.
D. Fabrício suspirou. Quando se decidiria ela a marcar-lhe um encontro menos efémero, longe das imundícies e do sangue, na própria região das certezas perenes?
 
 
- Tomasi di Lampedusa, O Leopardo, tradução de Rui Cabeçadas, Livros Unibolso. -

3 comentários:

Custódia C. disse...

Gostei tanto, que ainda estou sem palavras.
Sublime!

Joca disse...

De um lado, o leopardo, o leão...do outro, a hiena, o chacal...assim é a vida. Grande filme e que lavagem aos olhos: Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale...

Anónimo disse...

Por aqui mas ausente noutro planeta por alguns dias, volto à fala para dizer que, se existem noites , ou dias, ou horas mágicas, isso aconteceu-me desta vez, culminando no filme e na sessão de insomnia que se lhe seguiu. Ah, é verdade! Também gostei das sardinhas! E obrigada à Custódia por se ter lembrado das atrasadas.
Mª Amélia