04 janeiro 2013

D. H. Lawrence e Lady Chatterley





Novamente a «Geração Perdida» mas desta vez do lado de cá do Atlântico; D. H. Lawrence, escritor maldito para a moral «eduardiana» da Inglaterra da época e não só (veja-se o julgamento da Penguin Books quando edita o texto na sua versão integral em 1960); próximo do grupo inovador de Bloomsbury e do «Modernismo»; produto de uma industrialização por si malquista (o pai era mineiro e a paisagem verde/cinza de uma Inglaterra em transformação, a sua Eastwood natal, no Nottinghamshire nas Midlands mineiras, marca a sua obra). Exilado por questões do coração, da literatura e voluntariamente, mas inglês até à medula pela sua nostalgia da velha «Green England», dos cavaleiros e de Robyn Hood e pela sua acuta consciência das diferenças de classe, ainda tão vivas no início do séc. XX.

Eis aqui o final do seu prefácio da obra, de 1929:

«Assim, entre o puritano da velha escola, sempre ameaçado de sucumbir já serôdio, à indecência sexual; entre a pessoa à moda da nova geração que diz :« Podemos fazer tudo; se queremos pensar numa coisa podemos fazê-la»; e, finalmente, o bárbaro de alma vil e de espírito impuro, que procura a indecência, o campo de acção deste livro é muito estreitamente libertado. Mas eu digo-lhes, a todos:«Conservem as vossas perversões (...) de puritanismo, ou de moderno impudor, ou de simples grosseria. Quanto a mim, defendo o meu livro e a minha posição: a vida só é aceitável se o espírito e o corpo viverem em harmonia, se houver um natural equilíbrio entre ambos e sentirem um pelo outro um respeito espontâneo.»

10 comentários:

Manuel Nunes disse...

Pois, prefácio autoral datado de Paris, 1929. --- Gostei de saber, logo no capítulo I, que a mãe de Constance "fora uma fabiana erudita nos tempos pré-rafaelitas da prosperidade".

Custódia C. disse...

Era muita ousadia, lá isso era :)

Manolo disse...

Noite caseira a avançar nos capítulos. A Lady já conheceu o Mick e o guarda de caça acaba de surgir no bosque. O que um leitor faz para escapar dos vazios da vida! (riso moderado)

Paula M. disse...

The best is yet to come... N/ desesperes Manel.
A propósito, ou despropósito, o que é «uma fabiana erudita»?

Manolo disse...

Donos de casa desesperados (riso amarelo)...
"Fabiana erudita" - Deve referir-se à Fabian Society, organização socialista, fundada em 1884, de onde saiu o Labour Party. Sou um grande ignorante destes tempos históricos, mas foi o que vi numa das minhas enciclopédias.
Só uma mãe destas poderia dar à filha uma tão boa educação sentimental :).

Paula M. disse...

Obrigada pela elucidação... Idealista, daí a contestação da Lady ao marido em termos sociais... mas de resto, tb n/ parecia mt liberal, essa mãe atormentada.
Olha que o desespero pode dar as suas flores...

João disse...

O poder de um romance, também se pode aferir pela sua capacidade de recriar novos mundos no leitor.
Podem ser mundos meramente utilitários; afectivos; oníricos; performativos; poéticos.
A literatura é o universo das mil e uma configurações de vidas possíveis.
Este romance oferece todas as possibilidades.

Manolo disse...

Meu Caro,
Gostei dessa ideia dos mundos performativos. Muito sugestiva, sim senhor.
Abraço
e boa viagem para a serra.

João disse...

“A única maneira de se supor­tar a exis­tên­cia con­siste em deixar-se arre­ba­tar pela lei­tura como se numa orgia per­pé­tua”. Frase de Flau­bert numa carta envi­ada a Mario Var­gas Llosa que nela se ins­pi­ra­ria para dar título ao seu livro sobre Madame de Bovary, La Orgia Per­pe­tua.

Na serra (ou perto) vou encontrar motivos de arrebatamento.

Manolo disse...

Na serra estamos mais perto de Deus.