07 abril 2013

Da origem do bronze de Corinto ou outra pérola de Trimalquião. Do perigo de não partir garrafas diante do Imperador.




«(...) a taça foi-lhe servida  numa bandeja de bronze de Corinto. Como Agamémnon examinasse a bandeja com atenção, Trimalquião disse-lhe:
- Sou o único a possuir Corinto verdadeiro.
Eu esperava que, com a sua fatuidade habitual, ele mandasse que lhe trouxessem a baixela de Corinto. Mas fez melhor:
- Talvez perguntes a ti mesmo porque sou o único a possuir Corinto genuíno. Porque o mercador de bronze a quem o compro chama-se Corinto. Ora, a que se pode chamar coríntio senão  ao que vem de Corinto? Não julguem que sou idiota. Sei muito bem qual é a origem do bronze de Corinto. Quando da tomada de Tróia  Aníbal, um indivíduo astuto, autêntico camaleão, reuniu todas as estátuas de bronze, ouro e prata numa única pira e chegou-lhe fogo. Ao fundirem, formaram um bronze misturado. (...) Foi assim que nasceu o bronze de Corinto, de tudo um pouco, mas nem uma coisa nem outra.Perdoai-me o que vou dizer: eu prefiro o vidro, pelo menos não tem cheiro.»
[E a propósito do vidro]:«Houve (...) um operário que fez uma garrafinha de vidro inquebrável. Foi recebido pelo Imperador, com o seu presente; depois (...) atirou-a ao chão. O Imperador ficou horrorizado. Mas ele apanhou a garrafinha; tinha-se amolgado (...). Então tirou um martelinho do bolso e tranquilamente reparou a garrafinha. Depois disso convenceu-se de que poderia agarrar os testículos de Júpiter, sobretudo quando o Imperador lhe disse:- Há mais alguém que conheça esta receita para fazer vidro? (...) Quando ele disse que não, o Imperador mandou cortar-lhe a cabeça: é que, se a coisa se espalhasse, o ouro não serviria para nada.»


Seria esta obra, ou parte dela, uma crítica à corte do Imperador Nero, como Tácito defende nos Anais:« (...) debaixo dos nomes dos jovens sem pudor e das mulheres perdidas, ele traça a narrativa do deboche do príncipe e seus requintes mais monstruosos e envia-lhe esse escrito lacrado. Depois parte o selo, com receio de que este servisse mais tarde para fazer vítimas.»?






2 comentários:

Manuel Nunes disse...

Minhas Queridas Leitoras:
Vou começar a ler na próxima semana,com a confirmação da Primavera.
Trimalquião/Trimalcião, Satíricon/Satiricon -- A coisa promete.
Divirtam-se.

Custódia C. disse...

Acabei hoje "Um Deus passeando na brisa da tarde".
Depois de tanta beleza, vamos ver o que este novo naipe de romanos me reserva :)