31 maio 2013

A Arte de Amar: Engenho e Sedução IV

Módulo 3- Conselhos ao «belo sexo»



Caras formandas é a vós que se dirige este último módulo da nossa formação. O formador foi generoso e equitativo: «Não era justo que vos medísseis sem defesa com inimigos armados; e também para vós, homens, seria vergonhoso vencer nessas condições.» Assim: «Dei armas aos Gregos contra as Amazonas; falta-me agora, Pantasileia [rainha das Amazonas], dar-te também armas, a ti e aos teus esquadrões
Incorporemos, pois, estes «exércitos» da arte amorosa, que «no amor e na guerra...».

Mas é necessário, primeiramente, uma justificação: ora, nem todas as mulheres são levianas, fúteis ou infiéis. A virtude ajusta-se-lhes. Contudo esta formação não se dirige a virtuosas:« (...) não é a espíritos semelhantes que me pedem que dirija o meu tratado; à minha barca convêm mais pequenas velas. Nada mais ensino que os amores levianos. Vou ensinar às mulheres o que devem fazer para ser amadas.» E neste campo esqueçamos moral e família. Estamos na esfera de Vénus.

O tema impõe-se: a outra metade da humanidade não deve ficar em desvantagem nestas práticas, pois,«A mulher não sabe afastar as chamas e os arcos cruéis; verifico que as flechas são menos prejudiciais aos homens. Os homens enganam muitas vezes, as mulheres, sexo frágil, poucas vezes e, procurando, bem poucas perfídias há a censurar-lhes.», justificando-se a inflexão no percurso formativo e o novo público-alvo.

Primeiro conselho: embarcai nos doces amores, «(...) colhei a flor, porque se ela não for colhida, murchará e cairá por si mesma.(...) Segui, mortais , o exemplo das deusas, não negueis aos homens, que vos desejam, as vossas alegrias.», largando os medos na brisa que impulsiona a «barca» do autor.



E passemos da teoria à prática:

«Começo pelos cuidados pessoais: são as vinhas cuidadas que dão vinho com abundância(...)»: Roma é uma sociedade cosmopolita e sofisticada, a capital do Império. As suas cidadãs devem fazer-lhe justiça: a época dos rústicos antepassados passou; o «look » impõe-se. Mas sem exageros. O bom gosto deve imperar. O cabelo é assunto de grande importância e  um trunfo feminino: penteados, pinturas, cabeleiras,  nada escapa à  proficiência do nosso formador.
A seguir o guarda-roupa: se cada penteado se deve adequar a uma fisionomia, cada cor e modelo devem ajustar-se a uma compleição e porte.
Seguem-se conselhos de higiene e beleza, que se iniciam desta forma: «Estive quase a advertir-vos de que o forte odor a bode não deve habitar vossas axilas e que as pernas não devem ser eriçadas de rudes pêlos.» (E advertiu!) Mas, há que levar em conta que «o segredo é a alma do negócio». As formas de embelezar devem ser um mistério para os homens. Estes só contemplarão a «obra acabada». Nenhuma «bela» se deve deixar apanhar no toucador ou de cabeleira ao contrário. E muita atenção: esconder sempre as imperfeições porque é uma verdade universal de que «não há bela sem senão».



Quanto ao comportamento:
Cuidar do modo de rir, de falar, de andar e o autor desdobra-se em «dicas», sublinhando a importância destes artifícios, e, eficaz e comprovado, «(...) deixai a descoberto, no lado esquerdo, a extremidade da espádua e o alto do braço. Fica particularmente bem a uma pele branca como a neve: quando vejo isto, dá-me vontade de cobrir de beijos toda a superfície descoberta
Convém também conseguir emitir algumas notas, dedilhando um instrumento musical, conhecer alguma poesia; praticar a arte da dança e ser proficiente nos jogos de salão é um «must» ( mas nada de envolvimentos na paixão do desafio.Perder a compostura é deselegante).

Depois da «obra acabada» deve ser exibida em público: «A multidão é útil para vós, mulheres formosas. Orienta com frequência os vossos passos errantes para fora das vossas casas(...) [ali] encontrará alguém que seduzirá.» É que « O acaso desempenha por toda a parte o seu papel; deixa sempre o anzol na água onde julgares que há menos peixe; ele morderá.» Isto aplica-se a todas as ocasiões: « Muitas vezes nos funerais de um homem encontra-se um amigo. Marchar com os cabelos soltos e dar livre curso às suas lágrimas fica bem a uma mulher.»







Claro que há perigos pelo caminho: evitar homens demasiados licenciosos e «Não vos deixeis seduzir pelo cabelos muito brilhantes da essência de nardo ou pela correia do calçado disposta com cuidado, nem enganar pela toga do mais fino tecido(...)»: pode cobrir um tratante. É fundamental fazer uma análise textual às cartas de amor, responder com «timing» e propriedade e encobrir qualquer vestígio, para não cair nas mãos de Julianas deste mundo e de maridos aviltados. Por exemplo: «(...) não é prudente responder sobre as mesmas tabuinhas antes de ter raspado bem a cera, de modo que não guarde traço de uma dupla escrita.»

Quanto à expressão, a mulher quer-se serena: nada de cóleras que desfiguram, nada de  semblantes arrogantes, fechados ou tristes: «Olha aquele que te olha. A um sorriso responde com a cabeça, aceita esse sinal.»

Depois, importa escolher bem o género de homem que se quer, de acordo com o que ele poderá dar ( ou ponderar o investimento); é evidente que o formador é parcial e pede especial favor para os poetas, mas adverte que eles não trazem consigo benesses financeiras. Também um homem experimentado vale mais do que o arrebatado jovem:« (...) o velho soldado amará pouco a pouco e com sabedoria; suportará muitas coisas que um recruta não suportaria.» É uma colheita para guardar e não para consumir apressadamente.

Para manter acesa a chama,  aconselha-se a parcimónia, a alternância entre a recusa e a dádiva, espicaçar a rivalidade, uma pitada de ciúme ( nosso formador confessa que gosta de competição) e outra de adrenalina, pois « Um prazer sem perigo é um prazer menos vivo. (...) mesmo que seja mais fácil fazer entrar o teu amigo pela porta, fá-lo entrar pela janela e que o teu rosto exprima temor.» De facto, «Não suportamos o que é doce; uma beberragem amarga desperta o nosso apetite. Muitas vezes uma barca é voltada e afundada por ventos favoráveis .Eis a razão que impede as mulheres legítimas de serem amadas; é que os seus maridos vêem-nas quando querem.» Uma porta fechada faz maravilhas!

Problemas de mobilidade não há: Roma é um meio mundano com muitos espaços sociais e habilidades para iludir vigilâncias, comprar cumplicidades, adormecer carcereiros. Contudo, as amigas nunca são de confiar porque tendem a ocupar um espaço que não era suposto.
Acima de tudo  o amante deve sentir-se amado, com uma porção calculada de ciúme, mas sem se deixar conduzir pelas suspeitas de Brisas inexistentes como Procris, a suspeitosa esposa de Céfalo.

Finalmente, entradas deslumbrantes nos festins e boas maneiras no «triclinium».
 Sobre o leito, corro discretamente as cortinas, pois o nosso formador, como bom romano, não gosta de luz directa, e remeto-as para obras de referência na área.Ou improvisem, usem a experiência de vida, mas de preferência divirtam-se, valorizando sempre os vossos atributos, sejam eles quais forem.



Chegamos assim ao término da nossa formação. O  formador entregou as armas ao inimigo feminino, muito antes dos anos 60 do século XX as tomar em mão, e promoveu a igualdade de género, advertindo: « Deixai a partir de hoje os gládios embotados, combatei com armas afiadas.» 
Desce do carro de Vénus e exorta-nos a celebrá-lo. No fundo quer é saber o resultado do questionário da praxe sobre a qualidade da formação e do formador. E a sua utilidade...Isso discutiremos em breve, talvez contrapondo as hostes em confronto neste jogo de caça ( onde nós somos a requintada espécie cinegética!!!) e guerra que é a arte de amar. Mas será amor?

Ovídio, A Arte de Amar, Lisboa, editorial Presença, 1972, pp. 101,102,104, 105,110,120,121,122,124,125,128,129

28 maio 2013

A Comunidade na Biblioteca da Horta


Poster do encontro exibido no átrio da Biblioteca

No dia 24 de Maio e a convite do Director Luís Manuel Pita São Bento, fomos gentilmente recebidos na Biblioteca Pública e Arquivo Regional "João José da Graça", na Horta. O encontro das Comunidades de Leitores da Horta e de São Domingos de Rana  / Cascais, decorreu em torno do "Mau tempo no Canal" de Vitorino Nemésio. 
Deixo o repto ao nosso Coordenador MN para nos fazer a síntese da excelente sessão e à nossa paparazzi MA para publicar as fotos disponíveis.

26 maio 2013

A Arte de Amar: Engenho e Sedução III

MÓDULO 2-  Da conservação do amor

Ora, continuando o nosso plano formativo: «Não é necessário menos talento para manter as conquistas do que para as realizar: na conquista colabora o acaso; a conservação será obra da minha arte
Mas atenção, a empresa não é fácil como afirma o nosso formador:
«Medito numa grande empresa: mostrar por que artes se pode fixar o amor, esse menino que esvoaça pelo vasto universo. É rápido e tem duas asas que lhe permitem escapar-se e a quem é difícil regular os movimentos.».
Assim falharam as tentativas de Minos para reterem Dédalo e Ícaro, embora as asas destes também não tenham sido um dispositivo 100% seguro...


Para começar, nada de filtros e mistelas: são inoperantes e «(...) perturbam o espírito e engendram a loucura.».
A amabilidade é indispensável, pois o«look», «per si», não basta; há que cultivar o espírito, já que a beleza é levada pelo tempo como as ondas de Calipso levaram as construções na areia de Ulisses.
Palavras sempre encantadoras, especialmente para o amante desprovido de meios que compensem ofensas; nada de desfazer os cabelos ou rasgar a túnica do objecto amado (como afirma ter feito o nosso formador): «A guerra contra os Partos [e para os casais]; para a vossa amiga, a paz , a graça e tudo o que pode excitar o amor

Tudo suportar com uma perseverança heróica e ser infinitamente concordante e indulgente.
Vencer todos os obstáculos, correr perigos. É que « O amor é uma espécie de serviço militar. Afastai-vos indolentes; não são pessoas pusilânimes que devem guardar estandartes
Convém obter a boa vontade dos escravos; através dos «pequenos» acede-se ao que se deseja.

Presentear, mas obedecendo a um «plafond»; nada de extravagâncias. Prendas «(...) modestas, mas escolhidas com gosto.»: umas frutinhas, umas flores, talvez uns versos e a crença na sua superior influência. Acima de tudo, nada de críticas: tudo é belo e lhe fica bem, e muita dedicação e solicitude face a uma constipaçãozinha, a uma indisposição, mas sem exageros ou corre-se o risco de irritar a «bela».



Como o amor também se ancora no hábito, tornemo-nos «habituais», presença temperada, aqui e ali, com uma ausência tonificadora, mas breve pois « (...) com o tempo diminuem as saudades, o ausente deixa de existir, um novo amor se desenha.» Vejam a sina de Menelau, que assim perdeu Helena para Páris, hóspede de um anfitrião ausente.

Não é necessário ser-se fiel, mas sim discreto, pois uma mulher com ciúmes é uma potencial «arma  nuclear» e tende a vingar-se... Se as infidelidades forem descobertas, é muito simples:«Não sejas mais submisso nem mais acariciante do que habitualmente: são claros sinais de um coração culpado. Mas não poupes os rins(...)» e para que estes aguentem o esforço, nada melhor que uma cebola branca de Mégara, ovos, mel de Himeto ou pinhões.
Noutros casos, pois « Não é sempre o mesmo vento que permite à nave curva transportar os seus passageiros, porque, na nossa corrida, é tanto o Bóreas (...) como o Euro que nos impelem. As nossas velas são muitas vezes inchadas por Zéfiro, outras vezes pelo Nuto.», nada como suscitar o ciúme para espevitar o lume da paixão e «(...) assinar no leito um tratado de paz.» Isto faz parte da antiga  ordem natural do mundo: «Age portanto para acalmar a cólera da tua amante, emprega estes remédios enérgicos.»

Para ser bem sucedido é necessário seguir o lema de Apolo: conhecer-se e aproveitar os  pontos fortes. Que todo o processo não está isento de desgostos! Há tristezas a suportar, rivais a enfrentar e não valem a aflição as violentas  cenas violentas de ciúmes (nada se ganha e perde-se a amada, como Vulcano perdeu Vénus para Marte). Essas indignações ficam para os maridos.


Finalizamos com os conselhos de discrição absoluta: sigilo e decoro furtivo; aceitar os defeitos físicos da amada, ainda que tenha os pés grandes, seja vesga, seja cheiinha, ou um «palito»; esquecer a questão da idade. É que esta pode ser uma mais valia: « Não esqueçais que nesta idade as mulheres são mais sabedoras na matéria; possuem a experiência que faz os artistas.» As artes do prazer «(...) não os deu a natureza à primeira juventude; geralmente só se encontram depois do sétimo lustro[lá para os 35 anos]. Que as pessoas apressadas bebam vinho novo; para mim que uma ânfora cheia (...) me derrame um vinho feito pelos nossos antepassados.» Acertada analogia com um vinho de qualidade!

Ainda mais um tópico: prática nas coisas do amor. Já séculos antes do sisudo relatório Kinsey e das pesquisas muito científicas de Masters e Johnson, o nosso Ovídio põe tudo «preto no branco».


Acabam aqui os módulos dirigidos aos cavalheiros: impõem-se o reconhecimento ao esforçado formador:
«Homem, celebrai o vosso poeta (...). Forneci-vos armas (...), que os meus presentes vos dêem a vitória (...). Mas que todos aqueles que, graças ao gládio de mim recebido, triunfarem de uma Amazona, inscrevam nos seus troféus: Ovídio era o meu mestre».

O próximo e último módulo: destinatárias « (...) eis que as ternas donzelas me pedem conselhos. Sereis o primeiro objecto de que se vão ocupar os meus versos.» A ver/ouvir/ler vamos.

Ovídio, A Arte de Amar, LX, Editorial Presença, 1972, pp. 62, 66, 70, 73, 74, 79, 81, 82, 84, 85, 94, 95, 97 (por motivos alheios à minha vontade tive de mudar de edição :(  )

21 maio 2013

Bom Tempo no Canal

Para quem está já em preparativos para o Faial e o Pico, com o seu Nemésio debaixo do braço, aqui fica um aperitivo. Que tenham muito bom tempo no canal...

















"MULHER DE PORTO PIM"

O "spleen subtil" das ilhas convertido em tragédia.

18 maio 2013

MARATONA DE LEITURA

Hoje, Dia Internacional dos Museus, no Museu Ferreira de Castro, em Sintra, com participação activa dos nossos leitores. --- "Emigrantes", do grande romancista de Ossela.

15 maio 2013

Arte de Amar- Engenho e Sedução II

Módulo 1- A Sedução

Para começar, os objectivos do nosso percurso formativo são perfeitamente  passíveis de serem atingidos, como adverte o nosso excelso formador:

«Antes de mais, tem confiança no teu coração de que todas podem ser conquistadas;(...) basta que estendas as redes. Mais depressa, na Primavera, se hão-de calar os pardais,e, no Verão, as cigarras (...) do que resistirá a mulher ao jovem que com doçura a quer namorar.»

Portanto, uma atitude optimista impõe-se: todas estão dispostas e são alcançáveis. Mas cuidado, pois as paixões femininas podem ser violentas e irracionais :«(...) é mais intensa que a nossa e possuí fúria bem maior.». Veja-se o caso de Pasífae e o Minotauro (há gostos para tudo).



Metodologia a seguir:
A) Seduzir a criada, sempre tão íntima da ama, mas atenção : «Se ela (...) te for aprazível pelo corpo e não apenas pelo zelo [com que leva e traz as tabuinhas com os escritos amorosos], trata de possuir, primeiro, a senhora; ela seguir-se-á, depois, em sua companhia(...)»;

B) Escolher bem a ocasião: o tempo certo é de grande importância  para que o sedutor não incorra em gastos inconvenientes, sendo que em matéria de presentes as mulheres são mercenárias inexcedíveis ;

C) É preferível  cultivar as belas letras e enviar cartas/tábuas de amor: «Siga, portanto, a carta e leve inscrita palavras de ternura e toque fundo no coração e comece por desbravar caminho.» , mesmo que as esperanças que desvelam sejam enganadoras:« Trata de fazer promessas; pois que mal pode vir de prometer? Em promessas qualquer um pode ser rico.». Mas nada de retórica enfadonha: «Usa linguagem credível e palavras comuns, embora delicadas, por forma a parecer que estás ali a falar , em pessoa.» E persistência!



Outros aspectos da estratégia: estar sempre presente; cuidado com a aparência (nada de exageros efeminados pois «Uma beleza desarranjada é o que fica bem aos homens.»); o convívio gastronómico regado a vinho; a lisonja à beleza feminina, à qual nenhuma é imune; juras falsas, que muitas merecem; choro  («(...) se as lágrimas não aparecerem, pois nem sempre surgem no tempo certo, esfrega os olhos com as mãos molhadas.»); uso de força q.b., pois elas gostam; pro-actividade  temperada com retiradas estratégicas, perante casos mais difíceis; um certo tom de palidez que dá crédito à paixão.

Atenção- a concorrência está  perto: « Não é seguro gabares a um amigo o objecto dos teus amores; quando acredita em ti, que tanto gabas, ele próprio te passa a perna.».

É ainda necessário ser maleável pois « (...) são variados os corações das mulheres; mil corações, tens de apanhá-los de mil maneiras.(...) Aqui, apanham-se os peixes com tarrafa, ali com anzol, acolá as redes fundas os arrastam puxadas por cordas retesadas. E não te convém uma técnica, apenas, para todas as idades; de mais longe se apercebe da armadilha a corça velha, se te dás ares de sábio ao pé de uma ignorante ou de atiradiço ao pé de uma reservada, logo ela desconfia  de que estás a humilhá-la.»

Há, por conseguinte, o seu teor de dificuldade; é uma arte, como outra qualquer, como a metáfora piscatória ilustra certeiramente.

Seguindo estes passos e sendo eles bem sucedidos, «(...) é tempo de lançar âncora e fundear o meu navio.»

Avançaremos pois para um novo módulo: se alcançar o amor exige técnica e arte e considerável esforço, como conservá-lo, que âncora o prenderá?



Ovídio, Arte de Amar, Lisboa,Livros Cotovia, 2006, pp.37,39,41,43,45, 49,52 e 53

09 maio 2013

Arte de Amar- Engenho e Sedução

A preocupação com a pedagogia ou com o aguçar de técnicas e competências sempre existiu.Senão, sigamos Ovídio:

« Se alguém das nossas gentes não conhece a arte de amar, leia este canto; e, depois de o ter lido, entregue-se, com sabedoria, ao amor. É a arte e as velas e os remos que fazem mover as naus, é a arte que faz mover, ligeira, a quadriga. É a arte que deve reger o Amor.(...). Não vou mentir-te, ó Febo, e dizer que foi por ti que tais artes me foram dadas; nem sou inspirado pelo canto das aves que voam no ar(...) é a experiência que estimula este canto; prestai atenção a um poeta experimentado. É verdade o que canto!»

Conhecimento validado pela experiência, pois! Temos formador!

Planificação da Formação:

«Antes de mais, o que quiseres amar, trata de procurá-lo(...) logo depois, hás-de empenhar-te em fazer ceder aquela que te agradou; em terceiro lugar, farás por que dure longo tempo o amor. Estas são as fronteiras; esta é a pista que há-de assinalar a minha quadriga(...)»

Mosaico- Mérida

 Módulo Introdutório-Locais de «Caça»:

Fóruns e pórticos; o circo; cortejos;banquetes (mas cuidado com a iluminação enganadora); outros lugares:

«E os ajuntamentos de mulheres, tão propícios à caçada? (...) Que posso dizer-te de Baias e das praias à volta de Baias e da água que deita um fumo morno de enxofre?»



 Findo este tema introdutório: « Onde fazer a colheita, o que amar, onde lançar as redes, eis o que, até aqui, te ensinou Talia(...). Agora, com que artes deves conquistar aquela que te agradou, isso é o que preparo para enunciar; é o tema primeiro da minha Arte(...)».

Ovídio, A Arte de Amar, Lx, Livros Cotovia, pp.29, 30 e 37

Desta forma, segue-se, em breve, o Primeiro Módulo: A Sedução

Atenção leitores incautos: a avaliação deste percurso formativo será meramente teórica.


Objectivos:
Fantasia para um guarda-chuva vermelho, especialmente em local chuvoso, mas ameno. Senão Roma,pelo menos Açores.


06 maio 2013

"ARTE DE AMAR" de OVÍDIO - LIVRO DO MÊS - EXCERTOS CINEGÉTICOS


Se gostas de caçar,
é sobretudo nos anfiteatros
que a caça é abundante.
Oferecem-te os teatros
muito mais do que possas desejar.
Aí encontrarás
desde o divertimento inconsequente
à mulher a quem amas realmente,
desde a amada que desejas conservar
àquela a quem apalpas fugazmente.

Públio OVÍDIO Nasão, Arte de Amar, tradução de NATÁLIA CORREIA e DAVID MOURÃO FERREIRA, Lisboa, Vega, 1990, p. 21.

 
Se acaso te inquirir uma donzela
quem são aqueles reis,
que montanhas, que rios, que lugares
figuram nas imagens transportadas,
responde sempre,
responde mesmo sem que ela te pergunte;
fala como se a fundo conhecesses
o que nem pela rama tu conheces;

IDEM, Ibidem, p. 29.

 
Para quê enumerar tantas reuniões
propícias à caça das mulheres?
Os numerosos grãos de areia
mais facilmente contarei.

IDEM, Ibidem, p. 31.