06 junho 2013

SOBRE PEPETELA

Excerto de um texto inédito deste escriba, feito há cerca de quatro anos já não se lembra bem com que objectivo, mas certamente como uma espécie de folha de bordo nas suas navegações pelos mares das letras. :)  Pequeno contributo para a compreensão de Pepetela, autor do mês na nossa Comunidade.

PEPETELA  E A CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO[1]
                                                                           

            No nº 2 de 1962 do boletim Mensagem[2], órgão da Casa dos Estudantes do Império (CEI), era publicado com a assinatura de Artur C. Pestana um pequeno conto daquele que ficaria conhecido na literatura angolana pelo pseudónimo de Pepetela. O jovem estudante tinha então vinte anos de idade e a narrativa, com o título “Velho João”, era encimada por uma dedicatória aparentemente ingénua: “A todos os que choraram a morte do Velho João, pedinte de profissão”.
Artur Pestana é citado nos dois primeiros números de 1962 do boletim da CEI como fazendo parte do seu corpo de colaboradores. Porém, no nº 3 de 1962 (Agosto), já nenhuma referência lhe é feita na ficha técnica do boletim, a qual se limita a reproduzir o nome do director e do autor das ilustrações, sendo provável que por essa altura já o promitente escritor tivesse saído de Portugal, por caminhos que o levaram a Paris e a Argel, para integrar, a partir do final da década, a frente da guerrilha que lutava pela independência de Angola. Ainda assim, no nº 4 do mesmo ano (mês de Novembro), o seu nome surge no discurso de Orlando da Costa na proclamação dos vencedores do Concurso Literário da CEI. Aí se alude ao conto “A Revelação”, distinguido com uma menção honrosa, como conto excelente, que Urbano Tavares Rodrigues classificou de pequena obra-prima[3]. No mesmo número publica-se a acta do júri, constituído, além de Orlando da Costa e Urbano Tavares Rodrigues, por Lília da Fonseca, Noémia de Sousa e Carlos Ervedosa.
            Estes dois contos da juvenília de Pepetela – “Velho João”, publicado na Mensagem[4] e “A Revelação”[5], que hoje se inclui na colectânea Contos de Morte –, expõem dois quadros típicos de injustiças infligidas pelo sistema colonial aos filhos da terra. São contos da opressão.

(…)


[1] A Casa dos Estudantes do Império foi uma associação juvenil que no período de 1944 a 1965, com o apoio do Estado Português, agrupava os jovens “ultramarinos” que estudavam na “Metrópole”. Além da prestação de serviços de cantina e assistência médica, a CEI dispunha de uma biblioteca, organizava bailes, promovia conferências e exposições de pintura, proporcionando a integração desses jovens num meio que lhes era estranho e, a partir de 1961, até hostil. Como muitas das estruturas associativas de então, foi aproveitada pelos associados para a realização de trabalho político. No boletim da CEI publicaram-se textos dos angolanos Agostinho Neto, Luandino Vieira, Arnaldo Santos, António Jacinto, Alda Lara, Viriato Cruz , Mário António, Alexandre Dáskalos, Mário Pinto de Andrade e outros.
[2] A consulta do boletim da CEI fez-se em MENSAGEM – Casa dos Estudantes do Império, 2 volumes, Lisboa, ALAC, 1996.
[3] Obra citada, p. 61 do boletim  nº 4 de 1962.
[4] Idem, pp. 28-31 do boletim nº 2 de 1962.
[5] Pepetela, Contos de Morte, Lisboa, Edições Nelson de Matos, 2008, pp. 17-32. Este conto foi inicialmente publicado em “Poetas e Contistas Africanos”, São Paulo, 1963.

3 comentários:

Custódia C. disse...

Este escriba é sempre muito oportuno :)

Manuel Nunes disse...

Nem sempre...

Paula M. disse...

Estou a gostar da obra. O seu olhar crítico não se esgotou no colonialismo.