15 março 2014

APETECE COMO UM BARCO


Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?


FERNANDO PESSOA

7 comentários:

MANUEL JOSÉ disse...

Quem enjoa no mar não pode embarcar. Ah, todo o cais é uma saudade de pedra! Este MN é doido.

MANUEL JOSÉ disse...

O Fernando António idem.

Custódia C. disse...

Caro MJ, há comprimidos para o enjoo sabia ???
:)

Manuel Nunes disse...

Claro que há, mas o sujeitinho é esquisito: é contra as drogas, só acredita em produtos naturais. Por isso é que fica sempre em terra, problema dele. :)

Joca disse...

Eu ouvi declamar este poema no silêncio da Serra de Sintra, num festejado dia 19 de julho...

Manuel Nunes disse...

Foi há tanto tempo!

Maria Amélia disse...

Se é o dia que eu penso, só sei que gostei demais da declamação e dos poemas, apesar de ter dado, supostamente, a ideia do contrário...terá sido há tanto tempo assim? Quem é que falou em idade prove(c)ta?