08 julho 2011

A pedido de Luiza...


“A malaguenha” de Ernesto Lecuona. Direcção de Orquestra de Placido Domingo.

"...
- Psiu, Sebastião! A malaguenha, faz favor?
Sebastião começou a tocar a malaguenha. Aquela melodia cálida, muito arrastada, encantava-a. Parecia-lhe estar em Málaga, ou em Granada, não sabia: era sob as laranjeiras, mil estrelinhas luzem; a noite é quente, o ar cheira bem; por baixo de um lampião suspenso a um ramo, um cantador sentado na tripeça mourisca faz gemer a guitarra; em redor as mulheres com os seus corpetes de veludilho encarnado batem as mãos em cadência; e ao largo dorme uma andaluza de romance e de zarzuela, quente e sensual, onde tudo são braços brancos que se abrem para o amor, capas românticas que roçam as paredes sombrias vielas onde luz o nicho do santo e se repenica a viola, serenos que invocam a Virgem Santíssima cantando as horas...
- Muito bem Sebastião! Gracias..."

in "O Primo Basílio" de EQ

5 comentários:

D. Felicidade disse...

Gracias Custódia! Ai se a Luiza visse e ouvisse assim! Ai, Ai,...

Admiradora de Sebastião disse...

Sebastião, discreto e fiel até ao fim, símbolo da amizade que pode existir entre as pessoas apesar das diferenças, é uma personagem comoventemente tratado por EQ. Concordam? E gostava de gatos...

Manuel José disse...

Comecei a reler. Vou a meio do capítulo III, mas confirma-se a ideia com que tinha ficado de Sebastião: uma personagem complexa, ambígua, difícil de definir. Que me desculpe a Admiradora, mas tenho de ler mais umas páginas para ir percebendo.

Para a D. Felicidade, a minha simpatia. Minha Senhora, o Passeio Público está cheio de homens calvos. Não se fixe no Conselheiro que não a merece.

Manuel Nunes disse...

Cara Admiradora de Sebastião,
Achei interessantes estas passagens:
"Quando a mãe de Jorge morreu, pensaram mesmo viver juntos [Jorge e Sebastião];habitariam a casa de Sebastião, mais larga e que tinha quintal; Jorge queria comprar um cavalo; mas conheceu Luiza no Passeio, e daí a dois meses passava quase todo o seu dia na Rua da Madalena.
Todo aquele plano jovial da Sociedade Sebastião e Jorge (...)desabou como um castelo de cartas. Sebastião teve um grande pesar".
[cap. IV pp. 119 e 120]
"No Inverno seguinte foi despachado e casou. Sebastião, o seu íntimo (...), tinha dito (...):
- Casou no ar! Casou um bocado no ar!"
[cap. I, p.14]
"Depois do casamento Sebastião sentiu-se muito só."
[cap. IV, p. 120]

Maria Amélia disse...

Excepcionalmente (isto agora escreve-se de outra maneira!)e quando não há certeza quanto a poder estar na sessão, já acabei de ler o livro; estou em fase de "reflexão espontânea" e procuro compor alguns elementos para a Lisboa de Eça, aliás, nada de especial, pois já todos conhecem pormenores e curiosidades (e eu sei pouco), sendo que o nosso passeio do Ricardo Reis desvendou muita coisa--lá estivemos, por exemplo, dependurados sobre as vistas da cidade a partir de S. Pedro de Alcântara, mastigando o nosso piquenique... Mas vem este preâmbulo a propósito da figura de Sebastião, sempre a desviar. O que me pareceu em relação a esta personagem, coincide, em parte, com o que o Manuel aponta "complexa, ambígua e difícil de definir". Isto mesmo se prova na parte final, quando se percebem alguns aspectos, mais ou menos inesperados, numa figura que parecia estar na narrativa para servir de contraponto à forte personalidade de Jorge... Enfim, mais não digo, porque não sei se já acabaram a leitura! Podemos voltar à fala, se acharem bem.