22 março 2008

Mês de Março: Na América

Capa da 1ª edição americana de A um Deus Desconhecido, de John Steinbeck, 1933













Seguem-se algumas imagens da paisagem do sul da California, onde nasceu e que inspira a paisagem do romance:








Fotos de



Mapa da "região Steinbeck.
















A acompanhar Steinbeck, teremos Walt Whitman(1819/1892), nascido em Long Island, Nova York, o poeta de Leaves of Grass o tal do Captain my Captain. Em comum? Ora vejam o retrato de Whitman quando jovem (lembra o protagonista de Steinbeck) e sua casa em N. York:






Veríssimo e Keats



Em Janeiro quando lemos Clarissa de Érico Veríssimo, o personagem melancólico, Amaro, poeta e pianista é um amante da poesia do inglês John Keats (1795/1817) poeta da geração de românticos ingleses como Shelley, Byron. Dele cita «A thing of beauty is a joy forever» do Livro I da sua obra Endymion (1818):




A thing of beauty is a joy for ever: Its loveliness increases; it will never Pass into nothingness; but still will keep A bower quiet for us, and a sleep Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing. Therefore, on every morrow, are we wreathing A flowery band to bind us to the earth, Spite of despondence, of the inhuman dearth

Uma coisa bela é uma alegria para sempre:
A sua graça aumenta; nunca
Desaparecerá; mas sempre manterá
Um abrigo sossegado para nós, e um sono
Cheio de doces sonhos, e saúde, e calma respiração.
Portanto, em cada dia, entrelaçamos
Uma fita florida que nos liga à terra,
Apesar do desânimo, da inumana penúria


Outra obra citada de Keats é A SONG ABOUT MYSELF (c.1818), da qual reproduzo a 1ª parte:

I.
There was a naughty boy,
A naughty boy was he,
He would not stop at home,
He could not quiet be —
He took
In his knapsack
A book
Full of vowels
And a shirt
With some towels,
A slight cap
For night cap,
A hair brush,
Comb ditto,(idem)
New stockings
For old ones
Would split O!
This knapsack
Tight at’s back
He rivetted close
And followed his nose
To the north,To the north,
And follow’d his nose
To the north.

O poema que escolhi para ilustrar a sua obra foi o sugestivo

La Belle Dame Sans Merci, John Keats, 1795-1821

(A Bela Dama sem Piedade)(1819)


Oh, o que te pode torturar, triste criatura ,
Vagueando solitária e desoladamente?
O junco do lago murchou
John William Waterhouse, 1893E o canto dos pássaros cessou.

Oh, o que te pode torturar, triste criatura,
Tão desalentada e desditosa
O esquilo fechou o seu celeiro,
E a colheita foi feita.

Vejo um lírio na tua fronte,
Com angústia orvalhada e gotas de febre,
E na tua face uma rosa esmaecida,
Também cedo definhada.

Encontrei uma dama nos prados,
Tão bela, uma criança das fadas:
O seu cabelo era longo, o andar leve,
E os seus olhos selvagens.

Segui-a a passo no meu cavalo,
E nada mais vi todo o dia;
Pois ela inclinava-se de relance, e cantava
Uma canção de fadas.

Fiz uma grinalda para a sua fronte,
E também pulseiras, e fragrâncias do local;
Ela fitou-me como se de verdade amasse ,
E gemeu docemente.

Ela descobriu raízes de doces delícias,
E mel selvagem, e orvalho como maná,
E numa língua estranha certamente disse,
‘Amo-te de verdade!’

Conduziu-me à sua gruta de elfos,
E ali mirou-me e profundamente suspirou,
E ali fechei-lhe os olhos selvagens e tristes--.
Beijado até adormecer.

E ali descansamos no musgo,
E ali sonhei, oh! Maus desígnios,
O último sonho que jamais sonhei
Na fria colina.
Vi reis pálidos, e também príncipes,
Pálidos guerreiros, todos pálidos de morte;
Que gritavam--.’A bela Dama sem piedade
Mantém-te em servidão!’.

Vi os seus lábios esfomeados no crepúsculo,
Com horríveis bocas que abertas me avisavam,
E acordei e ali me encontrei,
Na fria colina.

Por isso aqui permaneço,
Vagueando solitária e desoladamente,
Apesar do junco do lago ter murchado,
E o canto dos pássaros ter cessado.

Na obra de Veríssimo, Um Lugar ao Sol, o nosso Amaro, amante dos românticos ingleses, resolve a sua vidinha de forma bem prosaica abdicando da beleza em prol do estômago e do aconchego da carne... Os tempos estavam difíceis. Como sempre estão...

15 março 2008

MÁRIO DE CARVALHO ( II )



















MÁRIO DE CARVALHO

Agora que saiu o romance "A Sala Magenta", recuperamos estas imagens do encontro com o escritor e amigo, em Outubro do ano passado, numa das sessões da nossa Comunidade de Leitores.


Dantes, tudo era um peso ancestral de quietação e vagar pelas matas de sobreiral e pinho em redor das águas represadas a que chamam Lagoa Moura, havendo perto umas ruínas que a memória popular não assinala além dos mouros. Então, carregavam-se de silêncio as formas, pasmavam lassos os ramos, pendiam restos de carumas, tombavam as pinhas de velhas, empastavam-se as folhas mortas, deixavam-se as portadas entreabertas. Em chegando a noite, com o rarear dos pássaros, alteavam-se as sombras, delineavam-se os contornos, adensava-se o espaço, vibrava subtilmente o ar e milhentos pequenos rumores emergiam do solo num restolhar de sobrevivência. Na dobra do século, as brisas, mais rijas de ano para ano, entraram a balancear as copas, a revolver os gravetos, a frisar as águas, a desinquietar o silêncio e a fazer a demonstração prática e local de que o clima desvariava.

(Incipit de A Sala Magenta, romance de Mário de Carvalho, Lisboa, Editorial Caminho, 2008)

9 DE MARÇO DE 2008: ANTIGUALHAS DE LISBOA



No Panteão de Santa Engrácia: e o céu mesmo ali ao pé.








































Sé de Lisboa:


Do alto de uma das torres foi atirado em 1383 o bispo D. Martinho (é o que o João está a tentar explicar). Os circunstantes parecem divertidos com a enormidade do sucesso!

10 março 2008

O prazer de Lisboa antiga ao Domingo

Outro passeio memorável em saudável convívio. O palco: novamente a velha Lisboa. Calcorreámos o Largo do Carmo; subimos à vetusta Sé; visitámos as velhas ruínas do Teatro Romano. Seguiu-se S. Vicente de Fora e a encantadora igreja, com o seu elegante trabalho de mármore de Stª Engrácia, Panteão Nacional, panteão ao qual o nosso Aquilino lá conseguiu ascender (o seu Banaboião talvez não temha alcançado o panteão dos santos mas a carne é fraca...). Depois regresso por Alfama, onde deparámos com a igreja de S. Jorge(?), cujo interior é um relicário de talha dourada. Ao fundo, sempre o rio a brilhar ao sol... e umas nuvenzitas atrevidas de vez em quando.
Espero que a nossa fotógrafa de serviço adicione os registos do passeio.
Paula leitora

S. Banaboião, o inevitável Anacoreta e Mártir

Foi delicioso rever Aquilino Ribeiro, com a sua malícia e ironia escondida na sua rica linguagem vernácula e cheia de arcaísmos (pelo menos é o que eu acho...). Mas a história do pobre S. Banaboião, dividido entre o céu e a terra; entre o divino e o carnal; entre o ideal e o concreto, com o seu desconcertante final, foi interessante e divertido. No fundo , trata a questão do eterno desacerto entre homens e mulheres, entre o viver e a aspiração à perfeição que n/ cabe neste nosso pobre mundo...