01 abril 2024

“Portugal, a Flor e a Foice” de J. Rentes de Carvalho - 26 Abril às 20h00

 


O 2º Trimestre chega com a comemoração dos 50 Anos do 25 de Abril. Os autores foram escolhidos no âmbito desta comemoração. Assim, em Abril estaremos com “Portugal, a Flor e a Foice” de J. Rentes de Carvalho.

17 março 2024

Poesia nos Prazeres

Ontem tivemos mais uma atividade fora de portas: manhã de poesia no Cemitério dos Prazeres, onde homenageámos alguns dos poetas, ali eternamente residentes: Mário Cesariny, Jorge de Sena, Cesário Verde, Al Berto, António Ramos Rosa e Alcipe, Marquesa de Alorna. Com um programa bem delineado e coordenado pelo Manuel Nunes e pela Paula Silva, a quem todos agradecemos, para além de ficarmos a saber um pouco mais da vida daqueles poetas, foram ditos vários dos seus poemas pelos nossos inspirados leitores. Uma bonita manhã de quase Primavera que terminou com mais um salutar almoço convívio.

Poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Mário Cesariny

08 março 2024

A propósito do dia de hoje (8 de Março)

 

Mulher
 
A sociedade sempre foi macho
Que te agarrou pelo soutien
Te arrastou pelos cabelos,
Te despiu e violou,
Calou, imolou
Subjugou, manipulou
Condenou, negou,
Tendo a moral de anfitriã.
Duas castas te vestiam:
Ou senhora ou cortesã.
 
Séculos de mordaça
Pariram sufragistas;
Com fórceps de rasgão,
Amamentadas de sangue
Em seio alquimista
De ventre exangue
De poetisa, cientista,
Escritora, Ensaísta,
Médica, artista;
Vestidas de punhos cerrados
Debruados pela determinação
De desabotoar a camisa
E seduzir com o seu NÃO
 
Somos filhas dessas mães!
Mas a sociedade continua macho:
Macho alfa, poderoso,
Macho de membro ereto,
Macho de tom jocoso,
Macho que herda o passado, ardiloso,
E conjuga-o no politicamente correto.
Ah! Mas somos emancipadas!
Estamos a salvo! Vitória! Vitória!
Mas não é o fim da história…
 
Incendiámos soutiens!
Queimámos humilhação em público!
Hipotecámos ao voto a liberdade,
E conquistámos amanhãs,
Na promessa do amor bíblico
De sermos amadas em equidade.
 
Quando é que finamente teremos
O nosso seio a salvo?
Resgatada a essência do que se quiser
De feiticeira, de deusa, de vida,
De terra, de alma… De mulher?!
 
Emancipação…
Temos a sociedade à perna:
- Como assim?! Não quer estudar?!
- Como assim, doutoramento?!
 
- Como assim só quer ter filhos?!
- Como assim nem um rebento?!
 
- Como assim, tempo para educar?!
- Como assim, desnaturada, não vai sequer amamentar?!
 
- Como assim cansada para intimidade conjugal?!
- Como assim, oferecida, sempre em pecado carnal?!
 
- Como assim, é mãe solteira?!
- Como assim, vai abortar?!
 
- Como assim, que quer casar?!
- Como assim vai-se juntar?!
 
- Como assim, que desmazelo…
- Como assim, que pinta os olhos, e até pinta o cabelo?!
 
- Como assim, violentada, não faz queixa, não faz nada?!
- Como assim, divorciada?!
 
- Como assim, está na cozinha?!
- Como assim, que não cozinha?!
 
- Como assim, como assim, como assim?!...
- Uma vida inteira de tanta emancipação a provar?!
 
Hoje somos mães, senhoras, cortesãs,
Gestoras, poetisas, amantes, juízas,
Esposas, médicas, artesãs,
E o Ipiranga que nos resgatou à censura
Vestiu-nos com alta-costura
De uma liberdade de sermos TUDO!
TUDO! Com profissionalismo, beleza, desvelo e candura.
Mas… tudo… AO MESMO TEMPO!!!!!
 
A sociedade é que aperta o espartilho
E põe o dedo no laço da escravatura.
Mas que bem que nos assenta a emancipação!
 
In “Pó Ético” de Marta Meireles

29 fevereiro 2024

“Os Reinegros” de Alves Redol - 22 de Março às 20h00

 

A abrir

“Estava ali havia um bom pedaço vindo da esquina até defronte do prédio onde ela servia, enervado de esperar tantos minutos, pois já lhe assobiara o sinal combinado e ela ainda não aparecera, nem sequer à janela, aquietando-lhe a dúvida que começava a preocupá-lo.

Naturalmente dera-lhe trela naquele Santo António por desfastio ou porque a noite convidava à conversa. Abalara até ao Rossio, embora cansado do trabalho do armazém, mas mais cansado ainda dos maus modos dos primeiros-caixeiros, piores no trato do que os patrões, convencidos de que assim chegariam mais depressa a sócios da casa. Encaminhara-se para ali fugindo à solidão do quarto, que lhe aumentava as dores de cabeça que trazia do emprego. Tinham fechado mais cedo, porque os santos eram dias alumiados e, talvez também pelo hábito de sair só depois da uma hora batida, se sentira atraído pelo ruído da rua. Não procurara com quem acamaradar; escusara até, com um pretexto qualquer, a companhia de outro hóspede da casa, entristecido pelas saudades da sua aldeia de mistura com queixumes da vida. Mudara de fato e saíra, metendo no bolso umas moedas para beber o seu copo e arranjar, se calhasse, uma moça para passar o tempo, pois, em noite de bailaricos e fogueiras, as mulheres acessíveis são ainda mais fáceis…”

In “Os Reinegros” de Alves Redol

19 fevereiro 2024

Maiale - Torpedo Humano - a arma secreta da Regia Marina


Ao ler "O Italiano" do Arturo Pérez-Reverte fiquei extremamente curiosa sobre os Maiale. Já tinha ouvido falar sobre estes torpedos humanos, mas não tinha ideia de como funcionavam ou eram operados. Encontrei este pequeno documentário que é bastante esclarecedor.

15 fevereiro 2024

"FERREIRA DE CASTRO - UMA BIOGRAFIA"

 


Apresentação do 1º volume da biografia de FERREIRA DE CASTRO, autoria de RICARDO ANTÓNIO ALVES: Sábado, dia 17, às 16 horas na BIBLIOTECA MUNICIPAL FERREIRA DE CASTRO, OLIVEIRA DE AZEMÉIS.

09 fevereiro 2024

SESSÃO DE APRESENTAÇÃO DO ROMANCE DE CARLOS QUERIDO "ALEGAÇÕES FINAIS"

 

Alguns leitores da Comunidade estiveram na passada sexta-feira, dia 2, no Supremo Tribunal de Justiça. Cumpria-se a apresentação do romance de Carlos Querido a cargo do Juiz Conselheiro Henrique Araújo, presidente daquele Tribunal.

A intervenção de Carlos Querido integrou uma alusão à  Comunidade e à nossa participação em anteriores sessões sobre obras suas, nomeadamente as que tiveram lugar na Feira do Livro em torno do romance histórico “A Redenção das Águas” e da colectânea de contos “Habeas Corpus”.

De “Alegações Finais”, destacamos a lição de vida que o enredo contempla, a história de um advogado, filho de famílias humildes, que não obstante o triunfo profissional não logrou alcançar uma vida feliz face a desvios de carácter que lhe arruinaram o casamento. O romance desenvolve-se segundo um registo de escrita em que a voz do narrador se confunde com as das personagens e as suas correntes de consciência. Julgamos surpreender muitas das preferências artísticas, literárias e musicais do autor frequentemente trazidas ao curso da história. Claro que a actividade profissional de Carlos Querido (juiz desembargador) sente-se presente em todo um conjunto de termos e procedimentos jurídicos que, tratando-se o protagonista de um advogado, dão consistência ao discurso narrativo. Terão tido sucesso as alegações finais da infeliz personagem na sua tentativa de reganhar a harmonia conjugal? O romance não o diz, terminando de uma forma que permite considerá-lo como uma “obra aberta”.  


03 fevereiro 2024

LEITURAS

 


O DRAMA EM GENTE

 

Fingiram todos,

todos me fingiram

e em tradição me deram

fingimento

 

É certo que eram outros

tempos outros,

em que ser muitos

era coisa ausente

 

Mas todos me fingiram

e ensinaram

que o comboio de corda

pode ser

de corda a sério,

 

não de coração

 

Também eu tive,

embora em outra esfera,

outras noites de verão

 

Nada lhes devo

e em tudo, embora,

devedor lhes sou

 

Que os séculos agora

lhes dêem o sossego

 

ou dêem nada –

 

Ou nem que seja

a dor do universo,

como a dor de cabeça

 

infinita, silente,

de que padeço para  sempre

e desde

 

que eles vieram

visitar-me os sonhos

 

- ANA LUÍSA AMARAL, Escuro, 2014

 

 

AUTOPSICOGRAFIA

 

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

 

E assim nas calhas da roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

 

- FERNANDO PESSOA, Presença, nº 36, Novembro de 1932


01 fevereiro 2024

“O Italiano” de Arturo Pérez-Reverte- 23 de Fevereiro às 20h00


Abri ao acaso e li: 

“… Elena atravessou, está dentro da colónia. Fê-lo às primeiras horas, ao abrir da fronteira. Andou a fazer tempo nas proximidades enquanto tomava um café – mais chicória do que outra coisa – num pequeno quiosque situado junto da fronteira até que viu aparecer o doutor Zocas, que naquela manhã tinha servido no Colonial Hospital. Foi ao encontro dele com ar casual, que surpresa, doutor! Et cetera, e assim atravessaram junto a fronteira, a conversar com aparente naturalidade enquanto ela disfarçava a tensão: um olhar rotineiro dos alfandegários britânicos, uma saudação destes a Zocas, o longo percurso através da pista do aeródromo e Casemates Square até se despedirem na Main Street…” 

In “O Italiano” de Arturo Pérez-Reverte

01 janeiro 2024

“Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde” de Mário de Carvalho – 26 de Janeiro às 20h00.

 


“…Brilha o céu, tarda a noite, o tempo é lerdo, a vida baça, o gesto flácido. Debaixo de sombras irisadas, leio e releio os meus livros, passeio, rememoro, devaneio, pasmo, bocejo, dormito, deixo-me envelhecer. Não consigo comprazer-me desta mediocridade dourada, pese o convite e o consolo do poeta que a acolheu. Também a mim, como ao Orador, amarga o ócio, quando o negócio foi proibido. Os dias arrastam-se, Marco Aurélio viveu, Cómodo impera, passei o que passei, peno longe, como ser feliz? Mara, mais além, borda, sentada numa cadeira alta de vime, junto aos degraus da porta. Há́ pouco, ralhava com as escravas. Agora ri-se com as escravas. Em breve ralhará com as escravas. Do local em que me encontro não consigo ouvi-la, mas quase adivinho as razões dos risos e dos ralhos. É-me agradável saber que Mara está perto, e reconhecer-lhe tão bem, desde há́ tantos anos, os trejeitos e os modos. Momentos atrás, sem nenhuma razão especial, veio até junto de mim, com o seu animal de regaço que é agora um gato cinzento, depois de, em hora nefasta, ter perdido a rola, muito alva, que lhe vinha comer à mão…”

In “Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde” de Mário de Carvalho