31 dezembro 2014

ADENDAS CULINÁRIAS

Nesta época festiva, em que enchemos literalmente a carne e o espírito com as belas «comezainas» natalícias e de outras festividades, além de literárias, ( e esta última obra que lemos é um bom exemplo disso, plena de seiva, cor, vivacidade, vida e morte, beleza e putrefacção, tons do Caribe, mas agora não vinha ao caso. Sou eu a derivar.) , estava eu ontem a regurgitar todas estas festas e sabores e eis que me dá para pegar na obra A Mesa dos Reis de Portugal. Já não bastava o enfartamento e abundância e vou reincidir. Ora, o que interessa é que encontrei duas referências que podem interessar a duas ilustres leitoras, senhoras de apreciáveis dotes culinários. Para a Bia, vão as referências a «beilhós de arroz» (serão antepassadas das filhoses? mas de arroz...) do Livro de Cozinha de D. Maria, uma neta de D. Manuel; para a Amélia, são referidas no contexto de troca de receitas entre senhoras da sociedade do séc. XVI, «(...) as apreciadas almojávenas, tortas fabricadas com massa de farinha e queijo ou requeijão, de origem mourisca.»
Dos mouros para a sociedade peninsular, desta para a colonial americana e aqui estão elas, com o chocolate vindo das Américas, copiosamente bebido em Espanha e menos em Portugal desde o séc. XVII, adaptado ao gosto europeu, sem especiarias picantes, mas com açúcar. A sofisticada «mousse», essa, parece datar do séc. XIX.
E com estas reais sugestões desejo a todos um belo ano com belas leituras e correspondentes iguarias.


Deixo-vos com um por do sol em Cartagena das Índias, onde estão uns invejáveis 28 graus....



Significado de Almojávena
f.
Espécie de belhó, de farinha e queijo.(Do ár. al-mojábana)



Almojávenas de D. Isabel de Vilhena:

«Tomem 3 partes de queijo, não muito fresco, e amassem-nas muito bem, misturando-lhes em seguida uma parte de farinha de trigo e três ovos inteiros; se o queijo for muito mole, misturem a ele as três gemas e apenas uma clara. Mexam e amassem tudo junto, de modo a formar umapasta homogênea. Façam então uma massa de pastel com farinha bem fina, um pouco de açúcar, manteiga e algumas gotas de água-de-flor. Depois de bem sovada, deixem esta massa descansar um pouco, abrindo-a depois com um rolo, em folhas bem delgadas. Cortem a massa com uma carretilha, dando-lhe feitio arredondado. Com os dedos levantem as pontas da massa, que fique como uma pequena torta. Em seguida arrumem o recheio de queijo nessas tortinhas, que são levadas a fritar em fogo brando, e em bastante manteiga, ou banha bem quente. Tenham o cuidado de não deixar cair a manteiga ou banha dentro do recheio. Assim que estiverem douradas tirem as almojávenas do fogo. Finalmente façam uma calda em ponto não muito alto e, sem deixar que esta ferva, passem por ela as tortinhas. Deixem-nas escorrer numa peneira e sirvam-nas polvilhadas com açúcar.»


BEILHÓS DE ARROZ:

«Cozinhem um pouco de arroz com leite, açúcar e uma pitada de sal, e ponham-no a esfriar.
Batam dois ovos separadamente, adicionem-lhes uma colher de farinha de trigo, misturando-os então ao arroz já frio.
Levem ao fogo uma frigideira com manteiga e, quando esta estiver bem quente, deitem-lhe a massa às colheradas.
Se os bocados se espalharem muito pela frigideira, enrolem-nos depois na farinha de trigo. Numa panela que já está no fogo, com calda bem grossa, vão-se deitando os bolinhos, que depois são postos a escorrer, numa peneira.
Servem-se polvilhados com açúcar e canela.
Da mesma maneira se fazem os beilhós de manjar branco, só que este deverá ser mais cozido, usando-se farinha de arroz, em lugar de farinha de trigo.»




30 dezembro 2014

12 meses passaram e com eles 12 livros e muito mais...

Ontem na última sessão do ano

Com o amor sofrido e prolongado no tempo, de Florentino Ariza, completámos na sessão de ontem, o ciclo de 2014. 
A escolha da Gabriel García Marquez e aquela que para muitos (e eu incluída) é a sua obra prima "O Amor nos Tempos de Cólera", foi a escolha perfeita para finalizar um ano intenso de leituras e tudo o mais que entendemos associar-lhe, como foi o caso de ontem em que recebemos pela mão dos nossos colegas Bia e David, o Manuel Diogo, membro fundador do grupo de jograis "U...Tópico" e que, no final de uma sessão que já ia, compreensivelmente  longa, nos maravilhou com uma selecção de poemas alusivos à época, interpretados de forma emotiva e cativante. Obrigada por isso!

53 anos, 7 meses, 11 dias e noites foi o tempo que Florentino Ariza levou a concretizar o seu amor por Fermina Daza!

A nossa Comunidade de Leitores em apenas alguns dos 365 dias de 2014, para além dos 12 livros que leu, de almoços, jantares, lanches e petiscos pelo meio, exposições, espectáculos musicais, festival ao largo, passeios por Lisboa e até uma ida ao futebol, muito mais conseguiu fazer... 
No final de Maio, fomos convidados a realizar uma sessão pública na Feira do Livro, que contou com a presença de um dos nossos escritores do ano Carlos Querido e que foi um sucesso.
Realizámos meia dúzia de encontros para a maratona de leitura conjunta do herói "D. Quixote dela Mancha".  A seu propósito, foi a Comunidade convidada a participar no dia da festa de todos os que falam espanhol, a 21 de Junho no Instituto Cervantes.
Algures em Julho e numa jornada memorável, seguimos as pegadas de D. João V e fomos redimir-nos às águas das Caldas da Rainha, ficando mais uma vez registada a enorme gentileza de Carlos Querido.
Na sequência da leitura de "O Tartufo", Agosto trouxe uma visita muito especial ao ANIM, que incluiu o visionamento da cópia única da Cinemateca da película do cinema mudo "Tartufo" de 1925, em 16mm.
Em Setembro e num rescaldo tardio do "Memorial do Convento", houve mais uma visita ao convento, seguida  de um dos maravilhosos concertos de Orgãos na Basílica de Mafra

Com 2015 à porta e uma Comunidade imparável e cada vez mais activa,  cá estamos preparados para aderir às aventuras que o novo ano nos traga!

05 dezembro 2014

"O Amor nos Tempos de Cólera", Gabriel García Márquez, 29 Dezembro - 21h00

Capa do livro "O Amor nos Tempos de Cólera", das Publicações Dom Quixote

"Era contra toda a razão científica que duas pessoas que mal acabavam de se conhecer, sem qualquer parentesco entre si, com personalidades diferentes, com culturas diferentes e até com sexos diferentes, se vissem comprometidas de um momento para o outro a viverem juntas, a dormirem na mesma cama, a partilharem dois destinos que talvez estivessem determinados em sentidos diferentes. Dizia" O problema do casamento é que acaba todas as noites depois de fazer amor e tem de se voltar a reconstruí-lo todas as manhãs antes do pequeno almoço..."

"O Amor nos Tempos de Cólera", de Gabriel García Márquez, Publicações Dom Quixote, pág 225