06 dezembro 2009

LA LOCA DE LA CASA, Rosa Montero

Como a autora refere, o relato autobiográfico nunca é fidedigno. Interpõem-se entre o narrador (autobiógrafo) e os factos narrados os ponderosos efeitos da memória e da selectividade (por vezes inconsciente). É por isso que de acordo com Jean Starobinsky, um estudioso de literatura autobiográfica, a imagem do eu transmitida na autobiografia não é dissociável de um certo coeficiente de alteridade.
Isto para dizer o quê? Que estoy encantado com o livro da Rosa Montero, e que apesar de tudo o que se diz sobre a impostura inerente aos escritos autobiográficos, me pareceu muito sincero e corajoso o capítulo 3, aquele em que a autora, com vinte e três anos, se envolve sexualmente com o actor de cinema M.
Uma boa surpresa este livro que já li até metade. Lá estaremos dia 18, no nosso espaço de livros e emoções.
M.N.

21 novembro 2009

O QUE DIZ MOLERO

Este é o meu livrinho, uma edição do Círculo de Leitores de 1978. Belos tempos! Fui buscá-lo ao fundo da estante, dormindo entre o Diário de Anne Frank e A Guerra dos Mundos de H.G.Wells.
(Os meus livros não escolhem companhias, dão-se com todos.)
O que eu já me ri com a história dos camones, um verdadeiro filme em trinta e uma partes.
Porém, o episódio do combate entre Bowen e Burke tem um epílogo comovente.
Até sexta-feira.

M.N.

01 novembro 2009

PLANO DE LEITURAS PARA 2010

UM TEMA POR TRIMESTRE

De Eça à Literatura Russa:
Janeiro: Contos de Eça de Queiroz
Fevereiro: O Jogador de Fiédor Dostoiévsky
Março: Contos de São Petersburgo de Nikolai Gógol
Intertextualidades:
Abril: Morte em Veneza de Thomas Mann
Maio: Nação Crioula de José Eduardo Agualusa
Junho: Caim de José Saramago
Intertextos: filme Morte em Veneza de Luchino Visconti; A Correspondência de Fradique Mendes de Eça de Queiroz e a Bíblia.
Territórios do feminino:

Julho
: O Sonho Mais Doce de Doris Lessing
Agosto: Mrs. Dalloway de Virginia Woolf
Setembro: Os Teclados de Teolinda Gersão
Literatura Anglo-Saxónica:
Outubro: A Noite do Oráculo de Paul Auster
Novembro: Os Homens que Amaram Evelyn Cotton de Frank Ronan
Dezembro: Amsterdão de Ian McEwan

18 outubro 2009

Reflexões sobre a leitura de romances

As pessoas sérias, todos os sociólogos vo-lo dirão, não lêem romances. Basta-lhes o jornal. Sabe-se que vão lendo durante o tempo de férias – Balzac ou Saint-Simon –, mas no resto do ano consagram à literatura viva o desprezo que ela merece. O romance encontra-se relegado nas margens da vida verdadeira, da vida que a sociedade assim considera como garantia do seu desenvolvimento produtivo. Tolera-se a literatura com o único fim de distrair os inadaptados, aqueles a quem a televisão e o estádio não satisfazem completamente.
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(Traduzido de PHILIPPE FOREST - Le roman, le réel - Nantes, Éditions Cécile Defaut, 2007, p. 21.)

17 outubro 2009

A ALDEIA SUBMERSA

Aldeia de Foz do Dão, na confluência do Dão com o Mondego, submersa pela barragem da Aguieira. Outra povoação riscada do mapa, tal como Vilarinho das Furnas e Aldeia da Luz.

19 setembro 2009

LIVROS PARA 2010

Dante Castelani

Sei que ainda falta algum tempo, mas já ando com umas ideias para os nossos livros de 2010. Aqui vão três propostas que somadas às das nossas leitoras e leitores (raros) permitirão a eleição dos doze livros do ano – sem campanhas, sondagens e outras coisas que tais:

= “O Crime do Padre Amaro” de Eça de Queiroz, em diálogo com a pintura alusiva de Paula Rego.

= “Morte em Veneza” de Thomas Mann, tendo presente o filme homónimo de Luchino Visconti.

= “O Vendedor de Passados” de José Eduardo Agualusa, não perdendo de vista os escritos de Jorge Luís Borges.

Que tal?

Anseio pelo momento límpido da escolha.

M.N.

09 setembro 2009

"O OUTONO EM PEQUIM" de Boris Vian, 25 de SETEMBRO, 21 HORAS


Como epígrafe do Capítulo IX do Terceiro Andamento, esta frase de Baudelaire:

Amar uma mulher inteligente é um prazer de pederasta.

Vou ler este capítulo com muita atenção. Não quero tirar conclusões precipitadas.


MN

08 setembro 2009

BORIS VIAN - LE DÉSERTEUR


Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer

(Contributo de Custódia Coroa, que nos mostrou esta canção com letra e música de Boris Vian.)

18 agosto 2009

"MEMÓRIAS DE ADRIANO"


O Império Romano ao tempo de Marco Úlpio Nerva Trajano (53-117). Uma boa ajuda para a leitura do livro de Yourcenar. CLICAR SOBRE A IMAGEM PARA VER EM TAMANHO GRANDE.

15 agosto 2009

PLOTINA


Lembro-me, Plotina, de quando demos as mãos
naquele dia de Inverno em Antioquia. O sismo
derrubara as traves das casas,
espalhara um cheiro de morte
nas florestas e praias da Síria,
e entre o desânimo dos soldados, que viam
na catástrofe o presságio de próximas derrotas,
só o Imperador,
heroicamente obstinado, acreditava nos reflexos
de oiro lavrados nas areias da Ásia.

Lias-me um poema grego, a tua voz era
um cântico de musa, e um diadema de volutas
cingia-te a fronte. Tive a certeza,
naquele instante de suprema elevação, feito
de poesia e dos mais puros afectos,
de que eram os mesmos os caminhos
por onde seguíamos, que tu me conhecias e amavas
como o vento conhece e ama
as copas das árvores, os cabelos das mulheres,
o delírio ondulante das searas
nas tardes rubras do mês das espigas.

Estive sempre longe e perto de ti. Busco agora,
nas folhas da memória, o viso terno do teu rosto de diva.

Amei-te mais com a alma e menos com o corpo,
e só por isso foste verdadeiramente minha.

Passaste como a ave
que risca os céus e se detém no olhar
de quem está preso à terra.
Salvaste-me.


Manuel José Nunes

13 agosto 2009

"MEMÓRIAS DE ADRIANO"

Plotina, esposa de Trajano


O estilo lacónico do imperador, admirável nos exércitos, era insuficiente em Roma; a imperatriz, cujos gostos literários se aproximavam dos meus, persuadiu-o a deixar-me compor os seus discursos. Foi o primeiro dos bons serviços que fiquei devendo a Plotina.

11 agosto 2009

"MEMÓRIAS DE ADRIANO" de Marguerite Yourcenar - 28 de Agosto, 21 horas


Sentimos, confessamo-lo, alguma relutância em admitir que um episódio tão feliz como a subida ao trono do maior imperador da Antiguidade, se tenha devido a uma coincidência banal e um tanto suja, como o adultério. No entanto, Dione Cássio dá-nos como certo que Adriano se qualificou para tomar o posto de Trajano, morto sem deixar herdeiros, devido a um único título: o de amante da mulher dele, Plotina.
In História de Roma - Da Fundação à Queda do Império, Indro Montanelli

03 agosto 2009

As nossas Cidades (In)visíveis












Évora

Lisboa, Mapa do séc. XVI




Velha Porta, Évora


Palácio e Quinta do Marquês de Pombal, Oeiras







Rossio, Lisboa




















Café no Quartier Latin, Paris




Vale de Alcântara, Lisboa



Paris

























Zocalo, Cidade do México















Rialto, Veneza

Recanto, Veneza


















Piazza del Campo, Siena















Marginal de Lourenço Marques











Recanto, Atenas
















Jerusalém, «cidade divina»





















Lisboa em hora de ponta










Jerusalém












Siena

















Cidade do México


Canal, Cidade do México















Cidade do México


















Catedral, Cidade do México












Mercado da fruta, Caldas da rainha












Baía de Cascais













Aveiro





Atenas









Parque, Caldas da Rainha














Recanto, Évora







Parténon, Atenas







Lisboa





Fachada, Lisboa
















Lisboa




















Lisboa Pombalina






Lisboa no início do séc. XVI
Funchal








«Samarcan é uma nobre cidade, adornada com formosos jardins e circundada por uma planície onde se criam todos os frutos que o homem possa desejar.», in O Livro de Marco Polo, Lx, Portugália, 1971
«O Viajante (...) não hesita em apontar Samarcanda e os seus jardins.», in Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, Lx, Teorema, 2008

No decorrer da nossa animada e concorrida sessão de 31/07 e a propósito das cidades de I. Calvino, cada participante referiu a cidade/s que por motivos visíveis ou invisíveis guarda no coração. Passo a enumerá-las:


Para o Laurindo, a cidade tem o nome perfumado de Funchal e dispõe-se em presépio (a Lapinha) a partir das colinas, sobre o Atlântico, sempre com uma flor como pano de fundo, entre o céu e o mar;
Já muitos outros escolheram Lisboa, não uma, mas as suas Lisboas: a cidade fluvial dos ribeiros, regueirões e boqueirões que a atravessavam em tempos idos, que a tornavam fresca e hortícula e os estratos de história acumulados e encontrados a cada esquina, para o Manuel; a cidade dos telhados vermelhos vista da suspensão da ponte para a Cristina;também para a Filomena, o encantamento da cidade vista da ponte, refulgindo ao por do sol; o encanto de uma cidade redescoberta para a Teresa através dos percursos das suas águas; para a Odete, a Lisboa dos bairros das colinas e das praças ajardinadas, como a do Príncipe Real;para mim, cidade amada e detestada em simultâneo, mas que cativa ao ser descoberta, nos seus recantos e memórias históricas e encanta na luminosidade do seu céu, de um perfeito azul; para a Graça, o fascínio reside na Lisboa do constante movimento e tráfego; na confusão citadina que expressa o pulsar de uma vida intensa e nesse movimento initerrupto ilustra uma sensação de liberdade;
Cristina referiu ainda o seu gosto por Aveiro das linhas de água e tempos de estudante;
Para o Fausto, Cascais, é a vila perfeita, que se percorre com prazer e onde se contempla o mar;
Para Lurdes, a «sua» cidade é uma cidade do passado: Lourenço Marques, paraíso à beira do Índico;
Évora, a«princesa do Alentejo», é a cidade de eleição da Manuela, que passa bem sem o mar ou a beira-rio. Sendo uma mulher do sul, necessita dos espaços amplos da planície e da cidade branca e calma, cercada de muralhas que a contém, mas não limitam, cuja cor dos campos circundantes muda com a estação, plena de memória histórica, ilustrada na toponímia, seja a Rua das Gatas ou a das Cozinhas d'el Rei, onde também eu gostaria de morar e observar a linha do horizonte nos dias de fim de Verão, quando os pássaros regressam para o abrigo das velhas fortalezas espalhadas na planura;
Amélia parte da Bersabeia de I.Calvino para referir Jerusalém, cidade simultâneamente existente e não existente,terrena e celestial, afundada sob as camadas da história, marcada pelo sofrimento dos seus povos, dividida entre três religiões; ao mesmo tempo a cidade utópica, divina e celestial, do pensamento judaico/cristão, em que a cidade idealizada, medida, geométrica e funcional convive no imaginário com a realidade imperfeita da cidade dos «homens»;

Para o João, em viagem de deambulação pelo centro do país, a cidade de eleição é um poiso no percurso: Caldas da Rainha,local onde n/ foi feliz na vida militar, é agora um espaço onde respira em liberdade;
Teresa refere ainda Siena, a cidade medieval toscana, de telhados vermelhos e prédios coloridos, com a sua fascinante e oblíqua Piazza del Campo, também ela configurada segundo pontos e curso das suas águas;
A cidade da Custódia é a Paris, dos seus tempos de estudante: significou a abertura do mundo e das ideias, trocadas nas tertúlias dos seus cafés; cidade sentimental e apaixonante; também para ela um espaço de liberdade à beira do Sena;
A desmensurada urbe da Cidade do México, com os seus 30 milhões de habitantes ou mais, é a cidade da Maria José. Esta nova Babilónia, espécie de caos instituído, é um puzzle de cidades, construída sobre o lago e a capital azteca, dependente dos humores do vulcão. Nela se contém cantos, recantos e cheiros latinos; uma estreita ligação com a água; a cor intensa; a mistura de raças e tipos dos seus habitantes. Também ela pretenderia ser, à partida, a cidade ideal do conquistador espanhol, com a sua imensa Plaza Mayor (Zocalo); tornou-se uma tapeçaria de cidades onde tudo, os bairros coloniais, o caos e a arquitectura moderna, tem lugar;

Claúdia escolhe Atenas, paralelamente poética e feia, como a sua cidade, que é necessário viver para a descobrir, para lá do eterno Parténon;
Para mim são ainda motivo de encanto a opulenta e decadente Veneza dos canais sujos, que brilham como prata ao sol, palácios afundados e escadarias meias submersas onde apetece sentar e cismar. Ou a minha espraiada Oeiras das antigas quintas pombalinas, de terras férteis e jardins cuidados, para a qual é preciso recuperar a identidade escondida atrás do dormitório periférico.
E remato com uma outra citação de Calvino: «É desta onda que reflui das recordações que a cidade se embebe como uma esponja e se dilata.(...). Mas a cidade não conta o seu passado, contém-no como as linhas da mão, escrito nas esquinas das ruas, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos postes das bandeiras, cada segmento marcado por sua vez de arranhões, riscos, cortes e entalhes.» (p. 15)
Está contida, igualmente, na vivência, admiração e paixão que por ela nutre cada habitante/visitante.


Paula

26 julho 2009

AS CIDADES INVISÍVEIS

DIOMIRA imaginada por Colleen Brannigan

Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.

- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan.

- A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.

Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.

Polo responde: - Sem pedras não há arco.

AS CIDADES INVISÍVEIS


DIOMIRA imaginada por Mauricio Pettinaroli
Marco Polo contava a Kublai Kan aquilo que via, mas, sobretudo, aquilo que não via ou julgava ver. Era por isso que o imperador dos tártaros o escutava com tanta atenção.

Diomira

Cidades (In)visíves

Aqui seguem algumas representações das cidades de Italo Calvino que descobri num blog de um jovem arquitecto brasileito, Lutero Proscholdt:ascidadesvisitadas.blobspot.com:




Cidades [in]Visíveis! busca uma nova interpretação, sem pretensões, são apenas estudos gráficos de uma obra repleta de multiplicidade que é “Cidades Invisíveis” do Ítalo Calvino, que é um completo exemplo de suas propostas para o novo milênio.





Valdrada




Isaura

















Andria



"As cidades invisíveis", de Calvino, é uma espécie de "bíblia" para o entendimento das cidades e, consequentemente, de quem as habita. Se desejamos entender algum discurso que explique as cidades, e não somente o discurso mas diferentes formas de interpretação, ler este romance é quase que fundamental. É um livro delicioso de ser lido, pois são vários textos curtos nos quais Marco Polo, o famoso viajante veneziano, descreve para o imperador Kublai Khan, diversas cidades que havia visitado. Todas têm nome de mulher e, em cada uma, a linguagem mostra que podemos percorrer as ruas como se estas fossem páginas escritas. Dependendo somente do que se procura em cada cidade. Por exemplo, quais são os lugares que desejamos ir, quem gostaríamos de encontrar, se é dia ou noite... são infinitas as possibilidades de leitura. Interessante também é perceber como uma cidade ajuda a ler outra, pois há conexões entre os meios urbanos, por mais distantes que estejam. As cidades também são duplas, e isso aparece em Calvino como "cristal e chama". O traçado da cidade moderna tenderia para o cristal uma vez que é o lado racional e ideal. Já a presença do homem, com suas experiência próprias e inter-relacionadas, a transforma em chama. Na cidade e no homem, o cristal não vive sem a chama. É a duplicidade da descrição, da vida e da percepção humana.O desejo do imperador Kublai Khan é que, após as descrições, fosse possível montar um império perfeito. Fato que não pode acontecer. As cidades nunca serão perfeitas porque nós, homens, não o somos e nunca seremos. Por mais que se tente."
Postado por Lutero



Paula