Ilustração de
Jonathan Wolstenholme
Dois mil e vinte
está a chegar ao fim e com ele mais um ano de leituras para esta Comunidade.
Em retrospetiva,
percebemos que foi um ano muito estranho e fora de comum, tudo por conta de uma
virose coletiva. Adiante se verá…
O primeiro trimestre
do ano “(re)-leituras”, foi intenso!
Em Janeiro,
Ferreira de Castro e “A Selva”, transportaram-nos à exuberância da selva
amazónica e à vida penosa dos seringueiros, já em tempo de declínio da
comercialização da borracha. Descobrimos todo um exótico mundo novo, modos de
vida surpreendentes e um léxico praticamente desconhecido, como “gaiolas”,
“igarapé”, “pirão”, “brenha”, “parintintins” ou “cunhantã” entre outros.
Em Fevereiro, chegou
Agustina com “A Sibila” e um universo rural e predominantemente feminino,
levando-nos a descobrir uma galeria de mulheres decididas, de personalidades
distintas, mas todas perseguindo e atingindo objetivos muito precisos.
Ainda neste mês, celebrou-se
o dia internacional da Língua Materna e a Câmara Municipal de Cascais promoveu
o facto, publicando um vídeo alusivo, que contou com a participação de 2
elementos desta Comunidade, através da leitura de 2 poemas da Sophia de Mello
Breyner: "Com Fúria e Raiva" e "Habitação".
O mês de Março de
2020, que ficará na história da humanidade, até começou bem, com uma visita à
Exposição de Álvaro Pirez d’Évora, no MNAA.
Em seguida
mergulhámos todos numa espécie de realidade paralela ou filme da Twilight Zone,
com a explosão da pandemia Covid’19, provocada por um Vírus que ficou famoso e
cujo nome nos faz tremer nas bases: o Corona.
Para combater o
confinamento obrigatório, Jorge Amado, Jubiabá e as histórias da história de
António Balduíno, foram uma ajuda preciosa. Com a Biblioteca fechada e a
proibição de reuniões com um grande número de pessoas, não houve sessão
presencial, mas conseguimos manter contacto e trocar ideias através das redes
sociais, que se revelaram ótimas para situações como estas. Penso mesmo que,
por conta do Corona, o nosso blogue ficou mais rico…
O segundo trimestre
– Eça & Cª, prometia…
Assim, com o
estado de emergência em vigor e confinados cada um a sua casa, o mês de Abril
trouxe-nos Eça de Queirós e o seu “Conde d’Abranhos”, personagem que
descobrimos através dos maiores encómios do seu secretário Z. Zagalo:
“Alípio Severo Abranhos, Conde d'Abranhos…varão eminente, Orador,
Publicista, Estadista, Legislador e Filósofo”. Na realidade e após a leitura, o
que se revelou foi um político pobre de espírito, incompetente, oportunista,
lambe-botas e vira-casacas.
Neste mês
continuou a não ser possível uma sessão presencial, pelo que usámos a
tecnologia disponível e reunimos em formato teleconferência. Correu muito bem e
só nos faltou a partilha dos habituais bolinhos e bolachinhas.
No mês de Maio, ainda
confinados, voltámos a reunir via Zoom, para discutir a “A educação
sentimental” de Gustave Flaubert, seguindo o percurso do jovem egocêntrico
Frédéric Moreau.
Entre Junho e
Outubro suspendemos as sessões da Comunidade. A impossibilidade de reunir
presencialmente, alguma dificuldade de acesso às plataformas digitais e outras
questões relacionadas com a pandemia (sobretudo um cansaço coletivo muito
desmotivador), assim o ditaram. No entanto, a maior parte dos leitores
continuou com as leituras agendadas.
Assim, Balzac, Roth, Atwood e Steinbeck fizeram-nos companhia durante
tempos difíceis. Os livros são sempre uma opção vencedora!
Com a boa vontade
dos responsáveis pela nossa Biblioteca, que num esforço feliz garantiram as
condições de segurança e higiene necessárias, realizámos finalmente uma sessão
presencial no dia 6 de Novembro, onde pudemos contar com a presença de 17 dos
membros da Comunidade. O romance “Pão de Açúcar” do jovem escritor Afonso Reis
Cabral, que estava alinhado para Outubro, foi o mote para o animado reencontro
e abertura do 4º Trimestre, dedicado a “Recém-Laureados”.
A 27 Novembro,
mais uma feliz sessão presencial com 18 elementos, que se debruçaram sobre a
personalidade de Olga Tokarczuk e o seu surpreendente e fragmentado “Viagens”.
Um desconcerto em movimento contínuo sem nunca olhar para trás, numa nómada
digressão pelo espaço e pelo tempo, é o que me ocorre dizer.
Fruto de
discussão e propostas entre leitores, ficou ainda definido nesta sessão, o
Plano de Leituras para 2021.
E continuando em
modo presencial, Dezembro, por norma o mês mais mágico do ano, trouxe-nos “As Pálidas
Colinas de Nagasáqui” de Kazuo Ishiguro. Um romance que provocou reações
diversas entre os leitores. Uns, gostaram, outros, não. Leituras diferentes
para uma escrita um pouco melancólica, mas muito bonita (digo eu) que, neste
caso, apresenta diversas pontas soltas e muitas questões sem resposta.
Intencional por parte do escritor? Certamente que sim e daí as diferentes
leituras e apreciações.
E assim 2020
chega ao fim, a deixar poucas ou mesmo nenhumas saudades. E não falo das
nossas leituras!
Avancemos para o
novo Ano com otimismo e esperança em dias melhores.
Feliz Ano Novo!