21 outubro 2019

"A CAPITAL", DE EÇA DE QUEIROZ

Isto é como as cerejas. A leitura d´A Capital leva-me a antigas leituras como a deste livro em que se alude à Elvira do poema "O Lago", de Alphonse Lamartine, e ao «rumor das saias de Elvira» de que fala Eça na abertura d´A Correspondência de Fradique Mendes. Pobre Artur Corvelo com a sua baronesa e o seu Eros de expressão ultra-romântica! A Amélia do padre Amaro e a Luísa do Basílio são de outra extracção erótica, mais carnal e consequente, sem arroubos poéticos, mais cercanas das Conchitas e das Mercedes do salero andaluz. Aguardemos a sessão de dia 25, estou com curiosidade de ouvir os nossos leitores. 

14 outubro 2019

LIGAÇÕES NADA PERIGOSAS

Trabalho apaixonante para um leitor é estabelecer ligações entre as leituras que vai fazendo. Em verdade, nada é completamente novo, tudo está já inventado desde os tempos dos antiquíssimos poemas homéricos. Para isto, os teóricos da literatura descobriram definições com nomes raros, como palimpsesto, intertextualidade e outros. Pergunta-se: - Que há entre A Capital, de Eça de Queirós e os dois romances da foto? Que relações, por um lado, entre Artur Corvelo e Calisto Elói de A Queda dum Anjo e, por outro, Eugène de Rastignac de Le Père Goriot? Este, contemplando Paris do alto do cemitério Père-Lachaise, proferirá, falando para a grande cidade, a frase mais emblemática do romance: «A nous deux, maintenant!». Também Artur Corvelo, partindo à conquista da capital, poderia ter dito o mesmo: «E agora nós, Lisboa!» As intenções são iguais, os resultados é que poderão ter sido diferentes.  

02 outubro 2019

“A Capital” de Eça de Queirós - 25 Outubro às 21h00



A abrir:

“A estação de Ovar, no caminho de ferro do Norte, estava muito silenciosa, pelas seis horas da tarde, antes da chegada do comboio do Porto.
A uma extremidade da plataforma, um rapaz magro de olhos grandes e melancólicos, a face toda branca da frialdade de Outubro, com uma das mãos metida no bolso de um velho paletó cor de pinhão, a outra vergando contra o chão uma bengalinha envernizada, examinava o céu. De manhã chovera e a tarde ia caindo com uma suavidade muito pura. Laivos rosados esbatiam-se nas alturas como pinceladas de carmim muito diluído em água, e longe, sobre o mar, para além da linha escura dos pinheirais, por trás de grossas nuvens tocadas ao centro de tons de sanguínea e orladas de ouro vivo, subiam quatro fortes raios de sol, divergentes e decorativos que o rapaz magro comparava às flechas ricamente dispostas de um troféu luminoso…”

In “A Capital” de Eça de Queirós