24 agosto 2014

ONTEM, EM OEIRAS, NO PARQUE DOS POETAS: D. QUIXOTE "PASSEANDO PELA BRISA DA TARDE"

«E quis a minha boa sorte que o senhor D. João de Áustria acabasse de chegar a Génova e depois seguir para Nápoles para juntar-se à armada de Veneza, como depois o fez em Messina. Digo, por fim, que participei naquela felicíssima jornada, (…)»
-- Relato autobiográfico de MIGUEL CERVANTES (1547-1616), nos capítulos XXXIX, XL e XLI da Quarta Parte de “D. Quixote de La Mancha” I, relativo à sua participação na batalha naval de Lepanto (1571), travada entre os estados cristãos e o Império Otomano. – Uma história dentro da história do cavaleiro da triste figura.
 

22 agosto 2014

UM ADEUS PORTUGUÊS

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

 
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.


No Reino da Dinamarca (1958)

16 agosto 2014

SÁBADO, DIA 23, A PARTIR DAS 13.30 --- LEITURAS DE D. QUIXOTE NO PARQUE DOS POETAS


EU, QUIXOTE
Vejo o mundo com olhos que estão para além do mundo e,
por isso, não estranho a chacota dos que comigo se cruzam
nos caminhos da heróica demanda.
Áridas são as cores em todo o planalto da Mancha:
o ocre da terra, o amarelo seco das searas
atravessadas por rocins de vento e pó.
Como dizer, a esses que riem de mim, que o sonho
tem mais luzes que todas as que há no céu?  
Como falar-lhes de ideal e sonho
se nunca se elevaram um palmo acima da terra,
presos a ela por raízes de ferro e sombra?
Sim, eu sei, não há nenhuma senhora Dulcineia,
nem em Toboso nem em qualquer outro lugar da Mancha.
– Só o meu ideal a faz viver, grata imagem
de mulher e amante
guardada no coração dum cavaleiro andante.


16/8/2014
 

13 agosto 2014

DEPOIS DA LEITURA


Tartufo (1925), de F.W. Murnau, obra do cinema expressionista alemão que veremos ainda este mês -- em exibição rara -- no ANIM (Bucelas), Centro de Conservação da Cinemateca Portuguesa. O roteiro do filme é uma adaptação livre da peça de Molière.
Programa em preparação. 

12 agosto 2014

"O Tartufo" de Molière, 29 de Agosto - 21h00


Diz-se por aí que estamos em Agosto e que a maior parte de nós anda de férias, mas não se esqueçam que este também é mês de leitura teatral. Por enquanto apenas encontrei uma versão do livro em castelhano ...