O que ficou da abordagem desta obra de Eça de Queirós?
O autor abandona a análise pura e dura da realidade humana ( tal como fizera em “O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio”) e deixa-se ir pelas veredas do sonho, do sobrenatural e do idealismo. A verdade é que, mesmo assim, e apesar da exortação que, nesse sentido, é feita na comédia do prólogo, não ficam imunes à sua crítica as pequenas e grandes contradições da burguesia lisboeta, os dislates de uma sociedade assente no servilismo e na hipocrisia, assim como a figura do imperialismo que, no século dezanove, fazia da China um país semicolonizado pelo capitalismo internacional, às ordens de todos os Camilloffes que por lá estanciavam.
Eça retoma neste romance a parábola do mandarim – o cometimento de um crime impune de onde resulta uma grande vantagem para quem o pratica ou consente - que tem raízes em Chateaubriand ( “Le Génie du Christianisme “), e foi usada, entre outros, por Balzac (“Le Père Goriot” ).
A “moralidade discreta” anunciada no já citado prólogo desemboca afinal na grande máxima que Teodoro, o protagonista, lança aos leitores no final da narrativa: “Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!”. Só que este Teodoro é bicho que não merece confiança: dizendo-se ateu convicto, mandava rezar missas por alma do mandarim que o obsidiava e dedicava-se a um culto muito especial de Nossa Senhora das Dores. Por fim, acaba por legar os seus milhões ao Demónio. É caso para se dizer que vivia com Deus e o Diabo.
Manuel Nunes
O autor abandona a análise pura e dura da realidade humana ( tal como fizera em “O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio”) e deixa-se ir pelas veredas do sonho, do sobrenatural e do idealismo. A verdade é que, mesmo assim, e apesar da exortação que, nesse sentido, é feita na comédia do prólogo, não ficam imunes à sua crítica as pequenas e grandes contradições da burguesia lisboeta, os dislates de uma sociedade assente no servilismo e na hipocrisia, assim como a figura do imperialismo que, no século dezanove, fazia da China um país semicolonizado pelo capitalismo internacional, às ordens de todos os Camilloffes que por lá estanciavam.
Eça retoma neste romance a parábola do mandarim – o cometimento de um crime impune de onde resulta uma grande vantagem para quem o pratica ou consente - que tem raízes em Chateaubriand ( “Le Génie du Christianisme “), e foi usada, entre outros, por Balzac (“Le Père Goriot” ).
A “moralidade discreta” anunciada no já citado prólogo desemboca afinal na grande máxima que Teodoro, o protagonista, lança aos leitores no final da narrativa: “Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!”. Só que este Teodoro é bicho que não merece confiança: dizendo-se ateu convicto, mandava rezar missas por alma do mandarim que o obsidiava e dedicava-se a um culto muito especial de Nossa Senhora das Dores. Por fim, acaba por legar os seus milhões ao Demónio. É caso para se dizer que vivia com Deus e o Diabo.
Manuel Nunes