Kublai pergunta a Marco, – Quando tornares ao Poente, repetirás à tua gente as mesmas histórias que me contas a mim?
– Eu falo falo – diz Marco, – mas quem me ouve só fixa as pérolas que deseja. Outra é a descrição do mundo a que dás benignos ouvidos, outra a que correrá os grupos dos estivadores e gondoleiros nos canais da minha cidade no dia do meu regresso, e outra ainda a que poderei ditar em tardia idade, se fosse feito prisioneiro pelos piratas genoveses e posto a ferros na mesma cela com um escrivão de romances de aventuras. Quem comanda o conto não é a voz: é o ouvido.
– Eu falo falo – diz Marco, – mas quem me ouve só fixa as pérolas que deseja. Outra é a descrição do mundo a que dás benignos ouvidos, outra a que correrá os grupos dos estivadores e gondoleiros nos canais da minha cidade no dia do meu regresso, e outra ainda a que poderei ditar em tardia idade, se fosse feito prisioneiro pelos piratas genoveses e posto a ferros na mesma cela com um escrivão de romances de aventuras. Quem comanda o conto não é a voz: é o ouvido.
6 comentários:
De facto esta passagem ilustra a essência da obra. O que vemos quando olhamos? O que captamos quando ouvimos? Vemos e ouvimos o que queremos, o que é importante para nós. Portanto há tantas descrições de cidades quanto os desejos daqueles que as visitaram. Inúmeras Lisboas, Venezas, Paris, Copenhagas, Londres...Existindo, permanecem em parte «invisíveis» porque estão dentro de nós...
Sim, Leitora Paula. Em termos literários (vamos esquecer por momentos a arquitectura e o urbanismo) é a teoria da recepção, a obra aberta, o leitor como reescrevedor do texto.
Bom contributo, aliás esperável.
Manuel
Sinto-me um pássaro a quem vocês vão atirando milho...ora é de literatura que se trata; ora é de diferentes visões-percepções- leituras, que se fazem estas cidades...as quais, atenção, existem! Não somos Italos Calvinos.
Ao falarmos da cidade eleita, tentamos aprisionar um floco de realidade nos nossos discursos, mas é no momento em que nos expressamos que a cidade se vai tornar invisível. Experimentemos. Talvez a instalação do João nos esclareça melhor, nos ilumine.
Mª Amélia
Amigos
Vale a pena ter companheiros assim tão empenhados, eles são o lenitivo para que não se caia no desânimo, que por vezes as cidades modernas induzem. Acho que esta é também uma das mensagens desta Obra. Deu-me imenso prazer fazer a instalação correspondente. Até lá, que a Literatura nos una cada vez mais.
À medida que vou flanando por estas cidades de papel, vão crescendo as minhas dúvidas. Ainda bem, afinal: - é da dúvida que nasce a luz.
Leitor MANUEL
Uma frase certeira, Manuel. As cidades, as nossas, as que estão na nossa memória são reiventadas a cada estação de vida. É sempre o nosso pensamento a inventá-las e a reinventá-las e todavia nem sempre lá estão quando as procuramos.
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