16 agosto 2014

SÁBADO, DIA 23, A PARTIR DAS 13.30 --- LEITURAS DE D. QUIXOTE NO PARQUE DOS POETAS


EU, QUIXOTE
Vejo o mundo com olhos que estão para além do mundo e,
por isso, não estranho a chacota dos que comigo se cruzam
nos caminhos da heróica demanda.
Áridas são as cores em todo o planalto da Mancha:
o ocre da terra, o amarelo seco das searas
atravessadas por rocins de vento e pó.
Como dizer, a esses que riem de mim, que o sonho
tem mais luzes que todas as que há no céu?  
Como falar-lhes de ideal e sonho
se nunca se elevaram um palmo acima da terra,
presos a ela por raízes de ferro e sombra?
Sim, eu sei, não há nenhuma senhora Dulcineia,
nem em Toboso nem em qualquer outro lugar da Mancha.
– Só o meu ideal a faz viver, grata imagem
de mulher e amante
guardada no coração dum cavaleiro andante.


16/8/2014
 

4 comentários:

Paula M. disse...

«Como dizer, a esses que riem de mim, que o sonho tem mais luzes que todas as que há no céu?»

E está tudo dito!
E mais!N/ há nenhuma Dulcineia nas terras quentes e áridas da Mancha, dama elevada e ideal, mas há uma estalajadeira rude e simples, cujo coração pode albergar as tais luminárias do firmamento azul que nos cobre.

Joca disse...

É muito bonito! :)
Manuel, foste o digno escrivinhador?

Manuel Nunes disse...

Joca,
Se fosse do JOSÉ RAFAEL tinha o nome dele por baixo. Assim...
Fico satisfeito por teres gostado.

Manuel Nunes disse...

Paula: dá-me o número de telefone dessa estalajadeira rude e simples cujo coração, etc. Tens?