EU, QUIXOTE
Vejo o mundo com olhos que estão para
além do mundo e,
por isso, não estranho a chacota dos
que comigo se cruzam
nos caminhos da heróica demanda.
Áridas são as cores em todo o
planalto da Mancha:
o ocre da terra, o amarelo seco das
searas
atravessadas por rocins de vento e
pó.
Como dizer, a esses que riem de mim,
que o sonho
tem mais luzes que todas as que há no
céu?
Como falar-lhes de ideal e sonho
se nunca se elevaram um palmo acima
da terra,
presos a ela por raízes de ferro e
sombra?
Sim, eu sei, não há nenhuma senhora
Dulcineia,
nem em Toboso nem em qualquer outro
lugar da Mancha.
– Só o meu ideal a faz viver, grata
imagem
de mulher e amante
guardada no coração dum
cavaleiro andante.
16/8/2014
4 comentários:
«Como dizer, a esses que riem de mim, que o sonho tem mais luzes que todas as que há no céu?»
E está tudo dito!
E mais!N/ há nenhuma Dulcineia nas terras quentes e áridas da Mancha, dama elevada e ideal, mas há uma estalajadeira rude e simples, cujo coração pode albergar as tais luminárias do firmamento azul que nos cobre.
É muito bonito! :)
Manuel, foste o digno escrivinhador?
Joca,
Se fosse do JOSÉ RAFAEL tinha o nome dele por baixo. Assim...
Fico satisfeito por teres gostado.
Paula: dá-me o número de telefone dessa estalajadeira rude e simples cujo coração, etc. Tens?
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