16 março 2016

A IMPRENSA PERIÓDICA NEO-REALISTA NOS SEUS PRIMÓRDIOS (1)


Elemento decisivo na estruturação do aparelho cultural neo-realista, a imprensa periódica desempenhou um papel pleno de riscos e contrariedades.
Caso assinalável é o da revista Cadernos da Juventude (Coimbra, 1937), cujos exemplares do primeiro e único número (63 páginas) foram apreendidos ainda na tipografia e destruídos pelo fogo em auto-de-fé no pátio do Governo Civil de Coimbra.
Salvaram-se dois exemplares, o que permite conhecer o conteúdo da publicação. Palavras do prefácio: « Para nós, a juventude vale na medida em que possui a consciência da sua universalidade e a noção bem viva da sua posição no mundo como elemento essencial de fecunda transformação.» 
Um artigo assinado por Manuel Filipe, com o título “Considerações sobre a missão do intelectual e o problema da cultura”, centrava-se no ensaio La trahison des clercs, de Julien Benda, discutido naquela altura nos círculos restritos da vida cultural portuguesa. Benda defendia a independência política e a neutralidade partidária dos intelectuais, em desacordo, portanto, com o comprometimento militante dos escritores e artistas do neo-realismo nascente. «A concepção de Benda pretende prolongar, num mundo que já se descobriu contraditório, a memória duma estabilidade primordial à qual o homem teria unicamente de se acomodar», diz-se no artigo. Para os Cadernos, o artista, o escritor, o cientista e o filósofo não podem encerrar-se nas suas "torres de marfim", desvinculados do momento histórico, limitando-se a dizer: "O meu reino não é deste mundo."

--- Fontes: António Pedro Pita, Conflito e Unidade no Neo-Realismo Português e Luís Augusto Costa Dias, A Imprensa Periódica na Génese do Movimento Neo-Realista (1933-45).

3 comentários:

Manuel J. M. Nunes disse...

O texto saiu sobre este fundo branco. Já tentei reverter a coisa, sem êxito - está acima das minhas capacidades. Se alguém, de entre os colaboradores, souber dar a volta ao assunto, que avance.

Custódia C. disse...

Já dei uma mão e já explico por email como se faz :)

Entretanto constato mais uma vez que os autos de fé são tramados ...

Manuel J. M. Nunes disse...

Obrigado, C., ficou maravilhoso. Quanto aos autos de fé, eles estão sempre em preparação, temos de ter os olhos bem abertos. :)