JOSÉ RÉGIO há perto de 90 anos:
Literatura é pura e simplesmente um meio de expressão artística - como a pintura, a escultura, o cinema, a dança, a arquitectura, a música.
O que então inspira a obra de arte - é a paixão; e uma paixão considerada infamante ou uma paixão considerada nobre - podem da mesma forma inspirar Obras elevadas sob o ponto de vista que nos interessa : estético. O ideal do Artista nada tem a ver com o do moralista, do patriota, do crente, ou do cidadão: Quando sejam profundos e quando se tenham moldado a uma certa individualidade, tanto o que se chama um vício como o que se chama uma virtude podem ser igualmente poderosos agentes da criação artística: podem ser elementos de vida duma Obra.
Acuso aqui os nossos críticos de não se interessarem pelas Obras de Arte que pretendem criticar.
E dir-se-ia que eles exigem tudo da literatura - a morigeração dos costumes; a formação do carácter; a solidificação das convenções sociais; o robustecimento da raça; a certificação do dogma da Imaculada; a extirpação da hidra jesuítica; a defesa do feminismo; o progresso da Associação dos Scotes; a propaganda da república, da monarquia, do anarquismo, do socialismo, do bolchevismo, do óleo de rícino, dos pós de Keating, do calçado Atlas, das calças largas, dos milagres de Fátima, ou das predilecções particulares de cada um - tudo, menos o que se deve exigir à literatura, como à pintura, à dança, à escultura, ao cinema, à arquitectura, à música: satisfação à nossa necessidade de emoções estéticas.
1 comentário:
Noventa anos? Estivesse ainda por cá o Régio e continuaria a escrever o mesmo ...
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