16 julho 2019

WEIMAR, NOVEMBRO DE 2013



Estive em Weimar dois ou três dias em novembro de 2013. Como havia um compromisso de participação numa conferência, mal tive tempo de percorrer a cidade, a maior parte das vezes fora das horas de luz do dia (o que também explica a escassez de fotografias). No entanto, não podia deixar de "tropeçar" em figuras tão presentes como Goethe, Schiller, Bach... Continuo a pensar que valia a pena lá voltar, sobretudo no verão, embora o gosto das salsichas grelhadas que se vendem na rua e do vinho quente (ponche?) das barraquinhas de madeira da época natalícia deixem saudades.

Ao reler (depois de quantas vezes?) Werther, sinto algum remorso, por ter contribuído para esta nossa escolha, iniciando um pequeno ciclo de literatura alemã. Isto porque, independentemente de ser um must, um marco incontornável na literatura e na cultura ocidental, é talvez das histórias mais pungentes que alguma vez foram escritas. Por isso, não é de molde a animar ninguém e ainda menos algum leitor desprevenido... Pela minha parte, peço desde já desculpa e venho então dar conta desta humilde pesquisa relacionada com Weimar, que julgo ajudar a situar um pouco o nosso autor deste mês de julho.


Goethe (1749-1832) e Schiller (1759-1805), amigos na colaboração literária e no apoio que Goethe deu a Schiller, como personalidade pública e influente em Weimar. Estátua dupla, erguida em 1857, do escultor Ernst Rietschel, colocada frente ao Deutsches Nationaltheather, do qual Goethe foi diretor de 1791 a 1815, promovendo as estreias das últimas quatro peças de Schiller.




A casa (palácio) onde Goethe viveu em Weimar, hoje museu


Goethe chega a Weimar em 1775, onde se fixa até à sua morte, vivendo e contribuindo para o período dito clássico ou Idade de Ouro, da cidade de Weimar, sob a proteção e incentivo do Duque Carl August. Muitas figuras importantes da cultura ocidental têm o seu nome ligado a esta cidade, nomeadamente: Lucas Cranach, o Velho, viveu aqui o último ano de vida, entre 1552 e 1553; Bach (1685-1750), enquanto violinista e organista da corte e, mais tarde, maestro, produziu em Weimar uma parte decisiva da sua obra, entre 1708 e 1717; Johann Gottfried von Herder (1744-1803), uma influência importante do jovem Goethe, é nomeado líder da igreja local, em 1776; em 1799 Friedrich Schiller fixa-se em Weimar, onde já tinha vivido de 1787 a 1789. Na época seguinte, é a vez de Franz Liszt (1811-1886) também aqui se notabilizar a partir de 1842, residindo entre 1848 e 1861. Nietzsche é trazido para a cidade muito doente, em 1897, onde morre em 1900, na casa da irmã, hoje transformada em Arquivo do filósofo. Já no século XX, Henry van de Velde (1863-1957) vai acabar por fundar a Arts and  Crafts School em 1908, precursora da Bauhaus, liderada por Walter Gropius (1883-1969), constituída no mesmo ano— 1919— do primeiro regime democrático da Alemanha, a República de Weimar, a qual, como sabemos, não podia sobreviver ao nazismo, que se impõe e expande a partir de 1933. Para terminar os exemplos de referências culturais, falta falar de Thomas Mann (1875-1955), com as intervenções públicas em defesa da República de Weimar e em memória de Goethe, no centenário da sua morte (1932).
A cidade foi bastante castigada por bombardeamentos durante a II Guerra e depois fez parte da Alemanha de Leste até 1989. Foi capital da cultura em 1999.
Não quero falar de Buchenwald, o campo de concentração estabelecido nos arredores em 1937, de muito triste memória, que visitamos para nunca mais (nem nenhum outro), testemunho também de uma cidade “ao mesmo tempo o melhor e o pior sítio na história da Alemanha”, tal como foi afirmado em 1965 em conferência internacional de escritores em Weimar.


4 comentários:

Manuel Nunes disse...

A propósito de Buchenwald tenho compilados vários elementos sobre BORIS TASLITZKY (Paris 1911-2005), justamente denominado "o pintor de Buchenwald" por lá ter estado detido em 1944 e 45 até à data da libertação pelas tropas americanas. Publicou o livro "111 Dessins faits à Buchenwald 1944-1945" que se constituiu como um dos mais importantes documentos para avaliar as condições de vida (e de morte) no campo.

Maria Amélia disse...

Mais uma referência, mas não sei se os desenhos serão menos chocantes que as fotografias lá expostas, como complemento dos equipamentos de extermínio. Adiante.

Custódia C. disse...

Gostaria de ir um dia a Weimar. Só de ouvir o nome, já nos transportamos para ambientes culturais intensos. Em relação a Buchenwald, não podemos ignorá-lo nem esquecê-lo. Nunca! Para que não se repita. O melhor e o pior do homem, lado, a lado...Muito bom trabalho! Obrigada Amélia

Paula M. disse...

Muito bom Amélia. Para mim ainda é hoje um mistério como um país que originou estes artistas, foi igualmente a origem de tanta desumanidade. Haverá muitas Alemanhas.