A abrir:
“O mar que se estende à
minha frente enquanto escrevo resplandece, mais do que cintila, sob um morno
sol de Maio. Com a mudança da maré, reclina-se calmo contra a costa, quase
liso, sem espuma nem ondulação. Nas proximidades da linha do horizonte é de um
púrpura voluptuoso, atravessado por linhas regulares de verde esmeralda. No
horizonte é cor de anil. Junto à praia, onde a minha vista é enquadrada por
cabeços de rocha amarelada, vê-se uma faixa de um verde mais claro, frio e
puro, menos luminoso, mas opaco, não transparente. Estamos no Norte e o brilho
do sol não consegue penetrar nas águas. No local onde golpeia suavemente as
rochas, a água, mostra ainda uma fina película de cor, como uma pele. O céu,
completamente limpo, é muito pálido no horizonte cor de anil, com ligeiras
pinceladas de prata. O azul intensifica-se vibrante, na direcção do zénite. Mas
é um céu de aspecto frio, até o sol parece frio…”
In “O Mar, o Mar” de Iris
Murdoch
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