Este foi um dos contos de que mais gostei. Conto de Deus e do Diabo, e
de algo mais.
O Diabo não se reconhece pela luz, mas pela sombra. Nem todos são
capazes de o ver, daí o seu sucesso como tentador. Só os inocentes conseguem
trespassar essa barreira de ocultação. O pequeno João, filho do poderoso Dono da
Casa, «reparara que a sombra daquele homem [o Homem Importante] era enorme e enchia os tectos,
gesticulando como um grande polvo».
A missão do Padre de Varzim assemelhava-se à dos padres operários,
movimento contrariado por Pio XII, mas reabilitado posteriormente por João XXIII
e Paulo VI. Os padres descendo aos infernos do trabalho assalariado, vivendo lado
a lado com os operários das fábricas, defendendo-os. O Padre de Varzim vivia na
pobreza ao lado dos cavadores das vinhas.
Dai o jantar e o convite ao Bispo: o Dono da Casa queria pedir ao Bispo que
afastasse da freguesia o Padre de Varzim.
E havia o telhado de uma igreja para cuja reparação precisava o Bispo
de uma esmola. Uma esmola de uma pessoa caridosa como o Dono da Casa. O assunto
resolveu-se. Por assombradas artes do Homem Importante, o Bispo afasta um pároco incómodo
e ganha as obras da igreja.
Depois há o encontro com o enigmático mendigo, o remorso, o mistério em torno do Homem Importante, a recusa da dupla esmola do Diabo.
Sobre este conto, diz D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, no pórtico da obra: «que o Bispo volte a ser, mais que o construtor de igrejas, o construtor da Esperança.»
2 comentários:
Infelizmente mais uma vez não tive oportunidade de estar presente. Aguardo melhores dias quando passar para as 29h30 ou 21h.
A consciência do Bispo falou mais alto, mas foi preciso o encontro com o mendigo para esse despertar. As tentações são sempre muito complicadas...
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