Confesso que não
me está a ser nada fácil ler o “Ficções”. Embora sejam contos razoavelmente
curtos e independentes uns dos outros, surge-me uma grande dificuldade de
concentração neste universo fantasioso de imaginação ilimitada e tenho que
recorrer a constantes pesquisas para compreender muitas das mensagens.
Não sendo
nenhuma “estudiosa” de literatura, mas apenas uma apreciadora em termos mais
lúdicos do que técnicos, apercebi-me de que tinha que conhecer melhor o
escritor (de quem só conhecia um pouco de poesia). Acabei por conseguir emprestado,
este pequeno livrinho da autoria de María Esther Vásquez, que é um verdadeiro
tratado sobre Borges.
O escritor, que tinha uma memória absolutamente fabulosa, utilizava o seguinte:
O escritor, que tinha uma memória absolutamente fabulosa, utilizava o seguinte:
“Método de Trabalho
Borges tem uma
maneira de trabalhar insólita. Dita cinco ou seis palavras, que iniciam uma
prosa ou o primeiro verso de um poema, e manda-as ler imediatamente. O
indicador da sua mão direita acompanha, sobre o dorso da mão esquerda, a leitura,
como se percorresse uma página invisível. A frase é relida uma, duas, três,
quatro, muitas vezes, até que encontra a continuação e dita mais cinco ou seis
palavras. A seguir manda ler tudo o que está escrito, Como dita com pontuação,
deve ler-se dizendo-a. Relê-se esse fragmento, que acompanha o movimento das
suas mãos, até que chega à frase seguinte. Cheguei a ler uma dúzia de vezes uma
passagem de cinco linhas. Cada uma
dessas repetições é precedida das desculpas de Borges, que, de certo modo, se
atormenta muito com os supostos incómodos que provoca à sua escriba. Acontece
assim que, após duas ou três horas de trabalho, consegue-se uma página que já
não carece de correcções. Mas pode acontecer, quando se trata de notícias ou
prólogos, que previna antes der começar “Vamos escrever de qualquer modo e
depois corrigimos”. Neste caso, já pensou e repensou a forma que conferirá aos
três ou quatro conceitos que vai exprimir. De um modo geral esse, “escrever
de qualquer modo” é relido e corrigido, mas não com a minúcia atrás indicada,
porque na realidade, ele tinha quase tudo memorizado antes de ditar…”
In “Eu, Borges – Imagens, Memórias, Diálogos” de María Esther Vásquez
3 comentários:
Escolhi cinco ficções: "As ruínas circulares", "Análise da obra de Herbert Quain", "Funes ou a memória", "A forma da espada" e "O fim". Escolha arbitrária, ou talvez não. Se não tiver tempo de ler tudo, estas, pelo menos, leio.
Dessas ficções já li "As ruínas ..." e gostei, ao contrário da ficção primeira "Tlön, Uqbar, ..."
Ler Borges foi para mim um desafio e uma aposta. Foi-me muito difícil; senti-me uma leitora perdida no labirinto de um livro.
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