20 janeiro 2012

À descoberta de Borges

Confesso que não me está a ser nada fácil ler o “Ficções”. Embora sejam contos razoavelmente curtos e independentes uns dos outros, surge-me uma grande dificuldade de concentração neste universo fantasioso de imaginação ilimitada e tenho que recorrer a constantes pesquisas para compreender muitas das mensagens.
Não sendo nenhuma “estudiosa” de literatura, mas apenas uma apreciadora em termos mais lúdicos do que técnicos, apercebi-me de que tinha que conhecer melhor o escritor (de quem só conhecia um pouco de poesia). Acabei por conseguir emprestado, este pequeno livrinho da autoria de María Esther Vásquez, que é um verdadeiro tratado sobre Borges. 
O escritor, que tinha uma memória absolutamente fabulosa, utilizava o seguinte: 

“Método de Trabalho 
Borges tem uma maneira de trabalhar insólita. Dita cinco ou seis palavras, que iniciam uma prosa ou o primeiro verso de um poema, e manda-as ler imediatamente. O indicador da sua mão direita acompanha, sobre o dorso da mão esquerda, a leitura, como se percorresse uma página invisível. A frase é relida uma, duas, três, quatro, muitas vezes, até que encontra a continuação e dita mais cinco ou seis palavras. A seguir manda ler tudo o que está escrito, Como dita com pontuação, deve ler-se dizendo-a. Relê-se esse fragmento, que acompanha o movimento das suas mãos, até que chega à frase seguinte. Cheguei a ler uma dúzia de vezes uma passagem de cinco linhas.  Cada uma dessas repetições é precedida das desculpas de Borges, que, de certo modo, se atormenta muito com os supostos incómodos que provoca à sua escriba. Acontece assim que, após duas ou três horas de trabalho, consegue-se uma página que já não carece de correcções. Mas pode acontecer, quando se trata de notícias ou prólogos, que previna antes der começar “Vamos escrever de qualquer modo e depois corrigimos”. Neste caso, já pensou e repensou a forma que conferirá aos três ou quatro conceitos que vai exprimir. De um modo geral esse, “escrever de qualquer modo” é relido e corrigido, mas não com a minúcia atrás indicada, porque na realidade, ele tinha quase tudo memorizado antes de ditar…” 


In “Eu, Borges – Imagens, Memórias, Diálogos” de María Esther Vásquez

3 comentários:

Manuel Nunes disse...

Escolhi cinco ficções: "As ruínas circulares", "Análise da obra de Herbert Quain", "Funes ou a memória", "A forma da espada" e "O fim". Escolha arbitrária, ou talvez não. Se não tiver tempo de ler tudo, estas, pelo menos, leio.

Custódia C. disse...

Dessas ficções já li "As ruínas ..." e gostei, ao contrário da ficção primeira "Tlön, Uqbar, ..."

Joca disse...

Ler Borges foi para mim um desafio e uma aposta. Foi-me muito difícil; senti-me uma leitora perdida no labirinto de um livro.