29 agosto 2013

Da Taxinomia da Metamorfose

Como nos narra Franz Kafka no seu texto de 1912, publicado em 1915, Die Verwandlung, ou «A Metamorfose» ou a transformação:

«Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Träumen erwachte, fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheuren Ungeziefer verwandelt.» 

A expressão alemã «ungeheuren Ungeziefer»- pode traduzir-se por «enorme bicho/bicharoco»;

Em inglês a criatura é denominada «monstrous vermin» ou verme/insecto monstruoso; em francês, « monstrueux insecte »; «une sorte de cafard» (barata); em português, «numa espécie monstruosa de inseto» ou um «gigantesco insecto».

Embora as representações mais comuns estabeleçam uma analogia da imagem do pobre Gregor, convertido em bicho, com a barata, traduzindo, talvez assim, o nosso imaginário, de facto, o texto e suas traduções , não nos confirmam isso, embora possam estabelecer uma aproximação: « (...) o dorso; tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em rijos segmentos arqueados (...). As inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, comparadas com o resto do corpo, agitavam-se desamparadamente perante os seus olhos.»

É um insecto indeterminado, assim como indeterminadas são as causas da a sua transformação durante o sono. Essa indeterminação torna o texto mais perturbante...Se acontece a Gregor Samsa, pacato caixeiro viajante, porque não...


23 agosto 2013

"CARTA AO PAI"

Carta de Franz ao seu pai Hermann Kafka. Texto imprescindível para uma interpretação, digamos psicanalítica, de A Metamorfose. Referências à mãe e à sua irmã mais nova, Ottilie.
 

22 agosto 2013

Imagem da capa de M.M. Prechtl, Kafka arcimboldesque  (edição Gallimard)
 
"Lorsque Gregor  Samsa s´éveilla un matin au sortir de rêves agités, il se retrouva dans son lit changé en un énorme cancrelat."
 


16 agosto 2013

"A Metamorfose" de Franz Kafka, 30 de Agosto às 21h00

A abrir

"Quando Gregor Samsa despertou, uma manhã, na sua cama de sonhos inquietos, viu-se metamorfoseado num monstruoso insecto..."


12 agosto 2013

LAZARILHO DE TORMES

LAZARILHO DE TORMES

Prólogo


Eu tenho por bem que coisas tão assinaladas e talvez nunca ouvidas nem vistas cheguem ao conhecimento de muitos, e não fiquem enterradas no esquecimento, porque pode ser que alguém ao lê-las encontre qualquer coisa que lhe agrade, e deleitem aqueles que não as puderam aprofundar. A este propósito diz Plínio que não há livro, por pior que seja, que não tenha qualquer coisa de bom. Principalmente porque os gostos não são todos iguais, e o que este não come , faz as delícias daquele. E assim, vemos coisas desprezadas por uns que o não são por outros. Quer isto dizer que nenhuma coisa se devia inutilizar ou desprezar, a não ser que fosse muito detestável, mas, pelo contrário, comunicada a todos, mormente quando não prejudicasse e podendo colher-se dela algum proveito. […]

É assim que lições de sempre (e atualíssimas...) nos chegam pela referência de Cervantes ao autor anónimo seu antecessor nas aventuras picarescas, mais propriamente ao Lazarilho de Tormes.

09 agosto 2013

Impressão Digital de Quixote e Pança



Impressão Digital - António Gedeão

Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandescente.

Inútil seguir vizinhos,
que ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

Publicada por ser para ler,http://cno-lerparaser.blogspot.pt/2010/04/impressao-digital-antonio-gedeao.html

07 agosto 2013

LEITURAS DE D. QUIXOTE - 4ª sessão da 1ª série

Depois de conhecer a história de Marcela e do infeliz Crisóstomo, D. Quixote, combalido do confronto com os desalmados iangueses, envolve-se em estalagem de má fama com a asturiana Maritornes e o almocreve que a requestava. Um beleguim intervém, e as desventuras prosseguem. 

05 agosto 2013

LEITURAS DE D. QUIXOTE - 3ª sessão da 1ª série

Enquanto não se fazem à estrada as nossas queridas companheiras, na descoberta da ruta de D. Quijote, a leitura continua. Com cavaleiros andantes e Dulcineias, comendo e bebendo à sombra das árvores. Um pouco prosaico, talvez, mas é o que se pode arranjar. Para que se saiba, hoje não há leituras em espanhol (ou a imitar espanhol). 

02 agosto 2013

La ruta de Don Quijote



QUIJOTE
Soy de aquellos que sueñan con la libertad,
capitán de un velero que no tiene mar.
Soy de aquellos que viven buscando un lugar.
Soy Quijote de un tiempo que no tiene edad.
Y me gustan las gentes que son de verdad.
Ser bohemio, poeta y ser golfo me va.
Soy cantor de silencios que no vive en paz,
que presume de ser español por donde va.

Y mi Dulcinea, ¿dónde estarás?,
que tu amor no es fácil de encontrar.
Y se ve tu cara en cada mujer,
tantas veces yo soñé que soñaba tu querer.
Soy feliz con un vino y un trozo de pan,
y, también, como no, con caviar y champán.
Soy aquel vagabundo que no vive en paz,
me conformo con nada, con todo y con más.
Tengo miedo del tiempo que fácil se va,
de las gentes que hablan, que opinan de más,
y es que vengo de un mundo que está más allá,
soy Quijote de un tiempo que no tiene edad.


(Interpretação e letra(?) de JULIO IGLESIAS)

01 agosto 2013

Leituras de EL INGENIOSO HIDALGO - começam hoje

Apreciei muito o soneto dialogado entre Babieca, cavalo de Cid el Campeador, e o infeliz Rocinante. Por me desgostarem muito as conversas dos homens, cada vez aprecio mais as que têm lugar entre animais.
Queso manchego Rocinante, um bocado caro - como tudo o que é bom -, por isso levo apenas duas fatias. Vinho de Castilla-La Mancha é que não encontrei, teria de ir ao supermercado do El Corte Inglés, o que não se conforma com as minhas actuais disposições. Como alternativa, levo tinto da Amareleja, D.O.C. 2009 - para quem não saiba, um dos melhores anos de produção vinícola.
En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor. Una olla algo más de vaca que carnero, salpicón las más noches, duelos y quebrantos los sábados, lentejas los viernes y algún palomino de añadidura los domingos, consumían las tres partes de su hacienda.