Poema de JOSÉ LAURINDO LEAL DE GÓIS, lido pelo autor na sessão de ontem:
O ABSURDO
Cria o poeta sentidos para as palavras
uma veste de vestal ou vegetal preocupação pela
estética dos aromas doces ou adversativos
cria ou concebe acres o colorido
da imaginação à mesa como natureza vivíssima
o suporte perecível dos tempos concentrados
servidos ao gosto das memórias transmudadas
em discursos oníricos e imaginosos.
cria depois o poeta uma segunda instância das
coisas na voragem das viagens ideais uma química
transpoética levada aos limites do dizer e do escrever
metaforicamente imagisticamente metamorfoseados no
jardim de inverno das linguagens em convívio científico
ou como diria a moore cromossomático que suplantasse
as margens do absurdo ou dos casulos reservados para
a apreensão impossível do inefável essa luta dramática
todas o são afinal nesse pacto entre real e imitação
esse parto estético reservado ao deleite da sabedoria.
Blogue da Comunidade de Leitores da Biblioteca de S. Domingos de Rana - Cascais - Portugal
28 setembro 2013
26 setembro 2013
24 setembro 2013
ANTÓNIO RAMOS ROSA (1924-2013)
PASSA UMA AVE DE SOMBRA
Avançar desfazendo
os nós dos nomes
aceitando a oferta nua
na sua abolição
Passa uma ave de sombra
entre as virilhas do sol
e sob a cálida abóboda
a duração redonda
nos seus anéis de pólen
flui sem ecos
A amêndoa do estio
consagra
a lentidão clara
do sossegado desejo
de não ser nada
Figuras Solares, 1996
Avançar desfazendo
os nós dos nomes
aceitando a oferta nua
na sua abolição
Passa uma ave de sombra
entre as virilhas do sol
e sob a cálida abóboda
a duração redonda
nos seus anéis de pólen
flui sem ecos
A amêndoa do estio
consagra
a lentidão clara
do sossegado desejo
de não ser nada
Figuras Solares, 1996
22 setembro 2013
MODA E LITERATURA - DEBATE
Na passada quinta-feira, em Santo Tirso, com Vasco Graça Moura, Paulo Cunha e Silva, Maria Bochicchio e Paulo Moreiras. Curadoria de Rosa Alice Branco.
A propósito, um trecho de O Estrangeiro:
"Passavam primeiro famílias em passeio, dois miúdos de fato à marujo, com calções até ao joelho, um pouco embaraçados no seu traje de ver-a-Deus, uma rapariguinha com um grande laçarote cor-de-rosa e sapatos pretos envernizados. Atrás deles, uma mãe enorme, com um vestido de seda castanho, e o pai, um homenzinho franzino que eu conheço de vista. Trazia um chapéu de palha, um lacinho e uma bengala na mão."
21 setembro 2013
O anúncio dos sais Kruschen
anúncio encontrado na web
"... Mais tarde para fazer alguma coisa peguei num velho jornal e pus-me a ler. Recortei um anúncio de sais de Kruschen e colei-o num velho caderno, onde guardo as coisas que me divertem nos jornais... "
in "O Estrangeiro" de Albert Camus
A tentar perceber o porquê, do anúncio ter divertido Meursault ...
05 setembro 2013
Um Estrangeiro, na praia, em fim de Verão
Se a existência é um absurdo, sobre a qual não temos grande (algum?) controlo, pela qual avançamos indefinidos, permite-nos, no entanto, ainda alguns prazeres:
« O sol às quatro horas não estava quente de mais, mas a água estava morna, com pequenas ondas preguiçosas. Maria ensinou-me um jogo. Era preciso, nadando, beber na crista das ondas, acumular toda a espuma na boca e, pondo-nos em seguida de costas, projectá-la para o céu. Isto fazia uma espécie de renda espumosa que desaparecia no ar ou, como uma chuva quente, nos caía na cara.(...) Maria veio então ter comigo e colou-se a mim , na água.»
Albert Camus, O Estrangeiro, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., p.94
« O sol às quatro horas não estava quente de mais, mas a água estava morna, com pequenas ondas preguiçosas. Maria ensinou-me um jogo. Era preciso, nadando, beber na crista das ondas, acumular toda a espuma na boca e, pondo-nos em seguida de costas, projectá-la para o céu. Isto fazia uma espécie de renda espumosa que desaparecia no ar ou, como uma chuva quente, nos caía na cara.(...) Maria veio então ter comigo e colou-se a mim , na água.»
Albert Camus, O Estrangeiro, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., p.94
"O Estrangeiro" de Albert Camus, a 27 de Setembro às 21h00
A abrir:
"Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe falecida: Enterro amanhã. Sentidos pêsames".
Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.
O asilo de velhos fica em Marengo, a oitenta quilómetros de Argel. Tomo o autocarro das duas horas e chego lá à tarde. Assim, posso passar a noite a velar e estou de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de folga ao meu chefe e, com um pretexto destes, ele não me podia recusar. Mas não estava com um ar lá muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizer-lhe "A culpa não é minha". Não respondeu. Pensei então que não devia ter dito estas palavras. A verdade é que eu não tinha que me desculpar. Ele é que tinha de me dar pêsames. Mas com certeza o fará, depois de amanhã, quando me vir de luto. Por agora é um pouco como se a mãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial..."
in "O Estrangeiro" de Albert Camus
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