Poema de JOSÉ LAURINDO LEAL DE GÓIS, lido pelo autor na sessão de ontem:
O ABSURDO
Cria o poeta sentidos para as palavras
uma veste de vestal ou vegetal preocupação pela
estética dos aromas doces ou adversativos
cria ou concebe acres o colorido
da imaginação à mesa como natureza vivíssima
o suporte perecível dos tempos concentrados
servidos ao gosto das memórias transmudadas
em discursos oníricos e imaginosos.
cria depois o poeta uma segunda instância das
coisas na voragem das viagens ideais uma química
transpoética levada aos limites do dizer e do escrever
metaforicamente imagisticamente metamorfoseados no
jardim de inverno das linguagens em convívio científico
ou como diria a moore cromossomático que suplantasse
as margens do absurdo ou dos casulos reservados para
a apreensão impossível do inefável essa luta dramática
todas o são afinal nesse pacto entre real e imitação
esse parto estético reservado ao deleite da sabedoria.
1 comentário:
Belo poema, talvez com um “enjambement” um pouco forçado. Uma questão de gosto, cada poeta escolhe os seus dispositivos rítmicos, métricos e sintáticos.
A mais eloquente manifestação do absurdo, creio, é não aceitarmos o outro tal como ele é. Camus fala disso.
E o poeta, esse albatroz baudelairiano? “Le Poète est semblable au prince de nuées/Qui hante la tempête et se rit de l´archer;/Exilé sur le sol au milieu des huées,/Ses ailes de géant l´empêchent de marcher.” Peço desculpa se não me fiz explicar.
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