«O romance “As Ondas” abandona a estrutura tradicional e a narrativa do romance Inglês que vigorava desde Henry Fielding (XVIII). Em vez de narrar de fora as acções dos personagens, Virginia Woolf entra nas suas mentes e relata os seus pensamentos e percepções, enquanto eles ocorrem.Virginia Woolf forma os personagens de dentro para fora, e uma das preocupações do romance é o modo como as personalidades e sensibilidades são formadas pela relação com os outros. Os seis personagens estão interligados de tal forma que os tempos vividos por eles são os mesmos e a memória é deflagrada por algo que presenciam conjuntamente, ou por uma situação semelhante pela qual todos estejam a viver, não havendo por isso personagem principal. Como exemplo, aponta-se o momento em que vão à escola pela primeira vez, e cada um dos personagens apresenta a sua visão da situação, ao descrever e analisar o que estão a viver. As informações sobre as situações são dadas aos poucos, subjectivamente, de acordo com as percepções e os sentimentos individuais.
Ao invés de resumir para nós o que os personagens vêem , pensam e fazem , relatando a partir do exterior , ou arrumar os pensamentos dos personagens em padronizadas frases claras , Woolf tenta dar ao leitor a impressão de como é estar dentro da cabeça dos personagens. Em cada narrador/personagem , temos uma combinação de pensamentos, sensações , memórias , descrições , acções e falas, e devemos separar por nós mesmos o que é puramente "interno" e o que é uma combinação de "interno" e "externo". O monólogo interior, que internaliza o conceito de fluxo de consciência, apresenta a sequência de pensamentos de um personagem em actividade sempre contínua e marcada por influências externas e internas, como sentimentos e sensações presentes e passadas, ou a expressão racional de uma ideia. Essa técnica narrativa, ao explorar o movimento da consciência e capturar o pensamento no momento mesmo de sua concepção, traz inúmeras possibilidades associativas e uma imagem mais realista da psicologia.
O conceito de fluxo de consciência (stream of consciousness) , foi desenvolvido por William James em “Princípios de Psicologia” (1890), em que explica a consciência como um fluxo contínuo ao estabelecer relações entre eventos presentes e passados, num movimento ininterrupto de sentimentos, impressões, percepções e pensamentos. Associado à narrativa woolfiana, esse conceito transforma-se em técnica narrativa.
Percebe-se, então, como toda a estrutura do romance está baseada no movimento das ondas, que podem representar, também, a própria técnica narrativa do fluxo de consciência, ou seja, o próprio movimento do pensamento das personagens, num ir e vir incessante e infinito.»
Por Davide Freitas, 30 de Julho de 2015
2 comentários:
Bia diz...
Bela capa para esta excelente apresentação.
Obrigada, Paulinha.
A Bia tirou-me as palavras da boca :)
Esta capa casa perfeitamente com o belo texto do Davide!
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