Rio Erges - Foto daqui
A abrir o Capítulo Segundo
"Raia de Espanha. Serranias azuis e violentas que se amaciam subitamente em olivais, campinas de trigo, planaltos de terra vermelha. Caminhos de estevas, de fragas, onde o perigo sai dos barrancos e dos muros ou caminhos melancolicamente guarnecidos de plátanos, abrindo clareiras na mata de pinheiros mansos, de um verde calmo e opulento onde se escondem os celeiros das companhias agrícolas. Mas antes de os ganhões desempregados e os contrabandistas de profissão chegarem a essas terras têm de atravessar os baldios do seu país. Para cá das faldas desabrigadas, com o rio Erges, esmagado entre muralhas de granito, o casario nasce dos moinhos afogados nas enxurradas, sobe penosamente as margens das ribeiras, agacha-se à sombra das rochas e espraia-se por fim em aldeolas mesquinhas. Depois vem a planície, triste como um descampado, devassada pelo vento de Espanha, que satura o ar de poeira e solidão. Planície nua, crestada pelo sol que amadura as infindáveis searas de trigo..."
In "A Noite e a Madrugada" de Fernando Namora
3 comentários:
De Carlos de Oliveira a Fernando Namora,uma pequena-grande volta pelo neo realismo em Portugal. Motivos para reflexão é que não faltam, enquanto também tento "situar" Ferreira de Castro, contando com as distâncias e limites que um Alexandre Pinheiro Torres não hesita em traçar, dentro do movimento, na sua primeira fase... Adiante, continuemos a leitura, à espera de um desfecho à medida.
Pois esse livro de APT é uma pequena bíblia do Neo-Realismo (Neorrealismo, segundo o NAO)na sua primeira fase. Para quem não saiba, está na Net: pesquisar em "biblioteca breve neo-realismo". Quanto à erradicação de FC do movimento, não é só APT que a faz - também Vítor Viçoso e outros conhecidos analistas, embora não deixe de ser polémica... E quanto a "A Noite e a Madrugada", pensem os leitores nesta coisa simples: quem (ou o que) é a NOITE e quem (ou o que) é a MADRUGADA. Pode haver várias respostas, acho eu. Grande sessão em perspectiva.
Belo trecho do rio Erges e belo trecho do livro! Prosa magistral!
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