--- Transcrevo a introdução de um trabalho
académico feito por este escrevente no ano lectivo de 2007/2008, ano curricular
do mestrado, seminário de Literaturas de Língua Portuguesa:
INTRODUÇÃO
Ao pretendermos estudar o romance O Vendedor de Passados, de José Eduardo
Agualusa, não podemos deixar de ter em consideração a visão dicotómica de Pires
Laranjeira em relação à actualidade literária de Angola:
«No
pós-independência, há na literatura um discurso ideológico do poder e outro do
contra-poder. O discurso do poder procura legitimá-lo pelo poder do enraizamento
e da nacionalidade. O discurso do contra-poder não discute a nacionalidade, mas
pode discutir o modo como ela se legitimou, recuando às origens. Ou pode
simplesmente silenciá~la, enquanto tema, ou secundarizá-la.»
José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo
(Nova Lisboa na toponímia colonial) em 1960 e é considerado um escritor da
diáspora. De facto, já residiu em Olinda, Brasil, país aonde se desloca com
frequência e onde desenvolve, ao que julgamos saber, projectos editoriais.
Estanciou em Berlim, onde escreveu, ao abrigo de uma bolsa de criação literária
da Deutscher Akademischer Austausschdienst, o romance O Ano em que Zumbi Tomou o Rio (2002). Reside actualmente em Lisboa.
Perpassa pela sua obra, logo desde o primeiro
romance, A Conjura (1989), e, em
especial , em Nacão Crioula (1998) -
onde se revela a “correspondência secreta” de Fradique Mendes e a surpreendente
adaptação daquela personagem queirosiana ao mundo tropical – a afirmação dos
valores da miscigenação, não apenas rácica mas, sobretudo, cultural, o que o
leva a desenvolver um projecto literário onde já se apontaram indícios das
teorias luso-tropicalistas de Gilberto Freyre ou, no mínimo, as marcas da
crioulidade que Mário António Fernandes sustentou na sua produção ensaística.
Pesará nesta inclinação intelectual a origem do
escritor, nascido em Angola mas filho de pai com raízes portuguesas e de mãe
com ascendência brasileira. A própria repartição espacial da sua vida e as
iniciativas que desenvolve no triângulo Angola-Portugal-Brasil, contribuem para
a imagem de um escritor dividido pelos espaços da lusofonia, essa comunidade de
falantes em que os Portugueses tendem a ver o que sobrou dos estilhaços do
Império e que Eduardo Lourenço já
apresentou como uma miragem cultural ou a imagem actual do nosso mapa
cor-de-rosa. É, de resto, esse território mítico desfeito pelo ultimato inglês
de 1890 que, de certa forma, surge no seu último livro, As Mulheres de Meu Pai, uma viagem de Angola à contracosta,
realizada desta feita pelo litoral africano, de Luanda à Ilha de Moçambique.
Em O
Vendedor de Passados opera-se uma dessacralização da terra natal e da sua
História, tocando-se em complexos
motivos como a invenção da memória ou o vazio dela na emergente nação
angolense. O livro é marcado por uma epígrafe de Jorge Luís Borges e um
narrador que nos atreveríamos a chamar borgiano, embora o modelo não se possa
considerar original.
Assim, o nosso trabalho sobre a obra e o autor
escolhidos, desenvolver-se-á segundo as seguintes linhas temáticas:
1. O mito da nação crioula.
2. Nação angolense e valores identitários.
3. O 27 de Maio de 1977.
4. Queirosianismo e ironia queirosiana.
5. Processos narrativos: as sombras de Jorge Luís
Borges e Lygia Fagundes Teles.
--- Aqui
fica a introdução, há mais 10 páginas. Desculpem qualquer coisinha, ó leitores, que
isto é trabalho de simples escolar. A nota até não foi má.
1 comentário:
Nada a desculpar! Vem mesmo a propósito.
Agora essa de simples escolar ... :)
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