Alegoria com Vénus e Cupido, 1545, Bronzino |
Blogue da Comunidade de Leitores da Biblioteca de S. Domingos de Rana - Cascais - Portugal
29 junho 2017
INGRES, MUSEU DO LOUVRE
2014, Museu do Louvre, sob o encantamento de Ingres... O Elogio tem de bom trazer estas coisas à memória.
ANUNCIAÇÕES
Esta, ortodoxa, do pintor Andei Rubliov (lembrar o filme de Tarkovsky), na Catedral da Anunciação, Kremlin de Moscovo.
...É como se a conversa tivesse terminado, nada há a acrescentar...Fiat! Bem à maneira ortodoxa.
...É como se a conversa tivesse terminado, nada há a acrescentar...Fiat! Bem à maneira ortodoxa.
27 junho 2017
CANDAULES, REI DA LÍDIA
WILLIAM ETTY (1787-1849), Candaules, King of Lydia, Shews his Wife by Stealth to Gyges, One of his Ministers, as She Goes to Bed (1830), óleo sobre tela.
23 junho 2017
SOBRE O "ELOGIO DA MADRASTA"
Impressões de uma amiga, não frequentadora da nossa Comunidade, que leu o livro há alguns anos:
Llosa, no Elogio da Madrasta,
certamente uma consistente composição narrativa, de trechos interpolados e
magníficas descrições de pinturas famosas, eróticas, todavia de anteriores
épocas, enquadradas em rica e poética intertextualidade, foi obra lida há tempos.
Tesouro de construção literária, deixou-me azedume face ao enteado,
adolescente em afirmação de poder contra e sobre o feminino, a madrasta,
mulheraça de contornos idênticos ao do seu marido, superior na hierarquia do
jovem, não a empregada doméstica, sua subordinada, a que depois se
lança - as mulheres da casa, a mulher instanciada nas mais próximas, sei lá… Se
as primeiras emoções sexuais assim se esboçam... patriarca no poleiro, a
decidir e o adolescente já a querer substituí-lo, desprezando e servindo-se do
outro (como a madrasta dele, claro) , está-se face a perversão das relações
desejáveis em comunidade - não no mero sentido sexual. Espelho de certo
meio social, infecção de duas gerações? Sátira? (…) E um rasto de certo humor
discreto. Contudo a beleza da escrita não me empolga, excessivo para a
temática: seres submetidos a impulsos por si mesmos, sensualidade pela
sensualidade que nisso se esgota, ternura zero, encerrados seus autores num
casulo, não há outros nem cosmos, mais nada. Estranho. Jogos num campo único,
sem mais sopro vital. Lembro os rituais corporais, os banhos, e isso é
interessante, iniciáticos, mais velhos a passar testemunho ao adolescente,
certo plano mítico. Muitas vidas comunitárias ( penso em certo monaquismo,
como em Quram, que visitei) dispunham de inúmeros
reservatórios de águas destinadas a sucessivos banhos. Atenção a uma
corporalidade neste caso banida, expandida em Llosa. Curiosa ritualização,
evoca-me a sacralidade inicial, SACER no indoeuropeu, que era a fecundidade,
tudo o que faz crescer, e inchar, GONFLER. Acento na fisicalidade, sem
contornos além do encontro de corpos. Todavia, do que retive na memória, é uma
duplicidade, inocência-perversão o foco da obra: a relação madrasta-enteado e o
desejo mútuo, mas já acima apontei como senti tal acordar para a sexualidade.
Vejo-o negativo, não penso que deva seguir o desejo por vias de vontade de
domínio, de manipulação, de denúncia - a redacção e sua leitura não são
inocentes; como nem a frase final, tipo, «mas ela não é minha mãe»,
incesto arredado; ou o desvio de «amar a mãe», «usar a madrasta», de cabeça um
tanto oca. Creio ser mais o determinar-se a usurpar o poder familiar do pai.
15 junho 2017
PARA QUEM NÃO SAIBA...
... A HISTÓRIA TEM CONTINUAÇÃO
«Bateram à porta, Dona Lucrécia foi abrir e, retratada no vão, com o fundo das tortuosas e encanecidas árvores do Olivar de San Isidro, viu a cabeça de caracóis dourados e os olhos azuis de Fonchito. Tudo principiou a girar.»
11 junho 2017
Sinopse
Lucrécia e dom Rigoberto vivem em constante felicidade. Ela, uma mulher que acaba de completar 40 anos, nada perdeu da sua elegância e sensualidade; ele, no segundo casamento, descobriu por fim os prazeres da vida conjugal. Juntos, crêem que nada pode afetar esse idílio, cheio de fantasias e de sexo. Alfonso, ou Fonchito, filho de dom Rigoberto, parece ser o único empecilho; ama demais sua mãe, Eloísa, para aceitar a chegada de uma madrasta. Mas até ele acaba por ser conquistado pelos encantos de dona Lucrécia. O amor do menino pela sua madrasta, entretanto, vai muito além do que se esperaria de uma criança, desenhando uma linha ténue entre a paixão e a inocência que mudará o destino de cada um deles.
Etiquetas:
"O Elogio da Madrasta",
Livro do mês,
Mário Vargas Llosa
01 junho 2017
NÓS, OS DE VONDELPARK
MANUEL TEIXEIRA-GOMES, novela Deus ex machina:
«Um dia que eu ficara de me encontrar
em Vondel-Park – próximo ao Rijsks-Museum – com vários elegantes de ambos os
sexos para dali seguirmos em excursão de
patinagem até Harlém, logo à entrada do parque, numa volta estreita e mal
concorrida do lago, a atenção prendeu-se-me irresistivelmente numa rapariga
encantadora, de farta e negra cabeleira solta, que patinava sozinha, e fiquei-me
a contemplar-lhe os graciosos movimentos sem mais me lembrar de que a poucos
metros de distância era impacientemente esperado por um numeroso grupo de
amigos.» --- A acção desta novela decorre no Inverno de 1890. Cheguei a Vondelpark
tarde de mais, precisamente na manhã do dia de Natal de 2013 – 123 anos depois de Manuel Teixeira-Gomes –,
e já não vi a rapariga encantadora de farta e negra cabeleira solta. Naquela altura o lago não
estava gelado e àquela hora da manhã nenhuma rapariga por ali andava, mas
alegrei-me de dar com a estátua do poeta Joost van den Vondel (1587-1679), figura maior
do século de ouro holandês. É ele, como se percebe, que dá nome ao parque. A estátua, inaugurada em 1867, não teria passado despercebida ao escritor algarvio, mas que interesse podia ter a pedra e o bronze ante os movimentos graciosos da patinadora?
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