25 julho 2017

EXISTENCIALISMO E LITERATURA

«Só meditando profundamente no que significa a morte, é que nós poderemos ver bem o que com ela se perde e o valor disso que se perde. Por outro lado, a morte é uma prefiguração do que de limite, de fim, preside a todos os actos da vida, já que a cada instante nós estamos de algum modo a realizar actos irremediáveis. A meditação da morte não é pois um fim, mas um meio. Meio de valorizarmos a vida, meio de assim mesmo respeitarmos a vida nossa e alheia, meio de reflectirmos sobre o irremediável do que formos fazendo, meio, em suma, de encararmos a sério esse facto extraordinário que é a vida do homem.»
--- VERGÍLIO FERREIRA, "Existencialismo e literatura".
 
 
 
 

24 julho 2017

"CÂNTICO FINAL", MEDITAÇÃO SOBRE A MORTE

Francisco de Goya, Fuzilamentos de três de Maio de 1808
Abriu a revista, e Mário sofreu uma ataque de agonia. Era uma reportagem sobre fuzilados de uma revolução num país distante: fotografia de um dos condenados bebendo o cálice de rum; fotografia do instante do fuzilamento («como um quadro de Goya» - dizia o repórter).
--- VERGÍLIO FERREIRA, Cântico Final, cap. X.
 

17 julho 2017

AS EGAP-EXPOSIÇÕES GERAIS DE ARTES PLÁSTICAS EM "CÂNTICO FINAL"

Diário da Manhã, órgão oficioso da União Nacional salazarista, na sua edição de 9 de Maio de 1947

Uma das perspectivas de Cântico Final, de Vergílio Ferreira, é a que se prende com o debate sobre arte que nos anos do pós-guerra teve lugar entre os intelectuais e artistas portugueses. No seio da corrente neo-realista, preparavam-se as grandes polémicas dos anos cinquenta, de que as referências aos críticos Ramiro e Rebelo se constituem como uma evidente alusão ficcional. De interesse, a referência a uma das Exposições Gerais de Artes Plásticas (talvez a de  1947), certames que agregavam artistas independentes – leia-se, não vinculados às iniciativas do SPN/SNI – procedentes de diversas orientações estéticas, do neo-realismo ao abstracionismo. Em que corrente se integraria o “Galo” do protagonista Mário?
Cerca de cem artistas, não só de diversas tendências estéticas mas de diferentes ramos da arte estiveram presentes na I Exposição, a de 1946. Ao princípio, o poder constituído não desconfiou de nada; depois é que se deu conta do que ali se preparava de subversivo.  As EGAP realizaram-se anualmente de 1946 a 1956, com excepção de 1952, ano em que a Socidade Nacional de Belas-Artes se encontrava encerrada  pela PIDE.

12 julho 2017

ONDAS DO MAR DE VIGO

7-7-2017, Estação de Vigo-Guixar, a apanhar o comboio para Oporto com o jogral MARTIM CODAX no pensamento.
 
CANTIGA D´AMIGO
 
Ondas do mar de Vigo,
se vistes  meu amigo!
e ai Deus, se verrá cedo!
 
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
 
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!
 
Se vistes meu amado
por que ei gram cuidado!
e ai Deus, se verrá cedo!
 


11 julho 2017

"Cântico Final" de Vergílio Ferreira - 28 de Julho - 21h00

A abrir:

“Por uma manhã breve de Dezembro, um homem subia de automóvel uma estrada de montanha. Manhã fina, linear. O homem parou um pouco, enquanto o motor arrefecia, e olhou em volta, fatigado. Aqui estou. Regressado de tudo. Pelo vale extenso até a um limite de neblina, viam-se aqui e além indícios brancos de aldeias, brilhando ao sol. Que dia é hoje? Pelos campos perpassava uma alegria estranha, talvez do sol e daquele fundo silêncio a toda a volta, sem uma voz repentina das que sobem e vibram nas manhãs de trabalho. E de súbito lembrou-se: para o fundo do vale, ouviu o dobre dos sinos do Freixo. Manhã de domingo, manhã de infância, sinos de outrora…”


In “Cântico Final” de Vergílio Ferreira