«JOÃO-MARIA ESTAVA DE CÓCORAS, FAZENDO
CACA NO QUINTAL, QUANDO TUDO ACONTECEU. PERCEBEU, PRIMEIRO, QUE UM RUÍDO
SEMELHANTE AO DESMORONAR DAS FRAGAS NUMA PEDREIRA crescia de longe ao seu
encontro e vinha sobrepor-se à sonatina das ondas e ao tráfego agoirento das
cagarras.» --- JOÃO DE MELO, O Meu Mundo não É deste Reino, Capítulo
13, Edição Visão / D. Quixote, Julho de 2003.
Agora dirão as leitoras tratar-se de mais
um exemplo de literatura escatológica. Imagino a justa indignação, as leituras
da Comunidade destravadas pelas vertentes lívidas do mau gosto. Por acaso, até é um fragmento importante do imaginário da Ilha: o acidente do Lockheed
L-749-79-22 Constellation, vôo Paris-Nova Iorque, em 28 de Outubro de 1949.
Deu-se no Pico da Vara e nele morreram 48 pessoas, entre elas, figuras
notórias à época, o pugilista Marcel Cerdan, a violinista Ginette Neveu e o seu
irmão Jean Neveu, pianista.
Leia-se que é um belo capítulo do livro.
3 comentários:
A curiosa coincidência evocada pelo escritor fez-me recordar que, 'in illo tempore', o momento de fazer caca, fosse na retrete de tábuas do quintal, fosse no recôndito frondoso de um figueiral, ou a coberto das tojeiras nos confins do vinhedo, era muitas vezes associado a algo de perturbador ou importuno, como a passagem de um aeroplano, um inesperado aguaceiro, ou a arreliadora aproximação de um cão vadio ou de um adulto com que se não contava, acidentes que, não raro, obrigavam à inopinada interrupção do acto e a uma precipitada retirada.
Caro Fernando,
Obrigado pelo apontamento escatológico :)
Sei de quem, estando de cócoras na vinha, viu surgir ante si uma grossa cobra. Há que ter cuidado, estas espécies arrastam-se muito pelos recônditos frondosos...
... e se metem no primeiro buraco que encontrem... Tal como os sardões, outra aparição aterradora para o pacato defecante... Nesses difíceis transes nem havia tempo para compor as calças.
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