29 dezembro 2019

E passaram mais doze meses de leituras!


Um pouco em jeito de balanço anual, mas também para memória futura e antes de entrarmos em 2020, deixo algumas notas sobre aquilo que fomos fazendo durante o corrente ano.
O amor pela leitura, mantém esta Comunidade em andamento desde 2007. Temos uma média de 20 leitores presentes por sessão, o que torna as mesmas muito animadas e dinâmicas.
Os livros levam-nos ainda para fora de portas, atrás de programas diversos que nos enriquecem a mente e alimentam o espírito. Assim, entre leituras, exposições, visitas, viagens, teatro, jantares, concertos, aconteceu de tudo um pouco!


No primeiro trimestre do ano andámos pela “Literatura no Feminino”. Revisitámos Jane Austen (Sensibilidade e Bom Senso), Emily Brontë (O Monte dos Vendavais) e Françoise Sagan (Bom Dia Tristeza). Foram sessões muito participadas, com animadas discussões entre géneros.

No segundo trimestre, lembrámos os “Autores Esquecidos” como José Rodrigues Miguéis (A Escola do Paraíso), Maria Judite de Carvalho (Tanta Gente, Mariana) e Luís de Sttau Monteiro (Um Homem não Chora). 
O romance “A Escola do Paraíso” levou a que o Manuel Nunes, durante o mês de Abril,  fizesse um périplo fotográfico por Lisboa, refazendo os passos do José Rodrigues Migueis. Está tudo disponível em diversas publicações no blogue que justificam plenamente uma leitura. 
Também em Abril, um pequeno grupo de leitores assistiu no Teatro D. Maria II, à récita de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.

No mês de Junho, tivemos uma sessão especial na Feira do Livro de Lisboa. O escritor Carlos Querido, convidou-nos para fazermos uma apresentação do seu livro de contos, “Habeas Corpus”. Foi mais uma sessão memorável, com uma boa presença dos nossos leitores.


Chegou o Verão e com ele o terceiro trimestre, onde mergulhámos de cabeça na “Literatura Alemã”. Começámos com Goethe (Werther), seguiu-se Herman Hesse (O Lobo das Estepes) e terminámos com Erich Maria Remarque (Uma Noite em Lisboa).
A propósito do Goethe, a nossa leitora Amélia Cabrita publicou no blogue (no mês de Julho), matéria muito importante e interessante relativa à sua visita a Weimar, lugar incontornável na vida deste escritor. Recomendo a leitura. 

A estação mais quente do ano, trouxe muita animação e assim, entre outros programas, alguns dos nossos leitores marcaram presença na Festa dos Tabuleiros em Tomar, nas visitas de fado cantadas de alguns bairros históricos de Lisboa e no já tradicional Concerto dos 6 Órgãos de Mafra. Atravessámos o rio e fomos à Trafaria (entre outras travessias). 


Apanhámos o comboio e num programa muito especial que implica um grupo de “jovens” à solta, houve deslocações a Setúbal, Évora, Aveiro, Coimbra e Santarém. 



Houve ainda uma visita, cuja temática foi a estátua de D. José na Praça do Comércio, que nos levou à Sala dos Gessos (onde estão os moldes da dita) e ao Museu Militar, com uma passagem pelo núcleo museológico do Hotel Eurostars.


Foi um Verão cheio, onde não faltou energia, nem magia!

No quarto trimestre, visitámos aqueles a que decidimos chamar de “Queridos Autores”. Primeiro tivemos o nosso Eça de Queirós (A Capital), depois o repetente Philip Roth (Pastoral Americana) e terminámos com os contos de Gabriel Garcia Marquez (Doze Contos Peregrinos). Foram leituras de peso!
A anteceder a última sessão do ano, tivemos o habitual jantar anual, alegre convívio partilhado pela maioria dos membros da Comunidade.

E assim deixo esta síntese do ano. Houve muito mais, pelo que, convido outros leitores a acrescentarem o que entenderem por bem!

Uma palavra de agradecimento para a Biblioteca de São Domingos de Rana, que  em boa hora nos acolhe, continuando a disponibilizar o espaço para as nossas reuniões.

Boas Leituras para 2020!

18 dezembro 2019

AMORES À PRIMEIRA VISTA

«À laia de desculpa, perguntei-lhe se acreditava nos amores à primeira vista.
- Claro que sim - disse-me ela. - Os outros é que são impossíveis.»
--- Doze Contos Peregrinos, conto "O Avião da Bela Adormecida" (1982).

03 dezembro 2019

“Doze Contos Peregrinos” de Gabriel García Márquez - 27 de Dezembro às 21h00



“O homem da agência funerária chegou tão pontualmente que Maria dos Prazeres estava ainda em roupão de banho e com a cabeça cheia de rolos, e mal teve tempo para pôr uma rosa vermelha na orelha a fim de não aparecer tão indesejável como se sentia. Lamentou-se ainda mais do seu estado quando abriu a porta e viu que não se tratava apenas de um lúgubre, como ela supunha que deviam ser os comerciantes da morte, mas um jovem tímido com um casaco aos quadrados e uma gravata com pássaros coloridos. Não trazia sobretudo, apesar da Primavera incerta de Barcelona, que as chuvas batidas por ventos oblíquos tornavam quase sempre menos suportável ainda do que o Inverno. Maria dos Prazeres, que recebera tantos homens a qualquer hora, sentou-se envergonhada como pouquíssimas vezes lhe sucedera. Acabava de completar setenta e seis anos e convencera-se de que ia morrer antes do Natal, mas, apesar disso, esteve quase a fechar a porta e a pedir ao vendedor de funerais que esperasse um instante enquanto se vestia para o receber depois, de acordo com os seus méritos. Mas pensou que o rapaz ia gelar no patamar às escuras e deixou-o entrar…”

A abrir o conto “Maria dos Prazeres”, incluído no livro “Doze Contos Peregrinos” de Gabriel García Márquez

02 dezembro 2019

AINDA SOBRE PHILIP ROTH


No seguimento da nossa sessão de sexta-feira, transcrevo declarações de Philip Roth sobre a América de Trump (entrevista publicada no jornal Expresso):

«Ninguém que eu conheça previu uma América como a de hoje. Ninguém (exceto talvez o ácido H. L. Mencken, que descreveu a democracia americana como “a adoração de chacais por idiotas”) podia imaginar que a catástrofe que atingiria os EUA no século XXI, o mais rebaixante dos desastres, surgiria não sob, digamos, o aspeto aterrador de um Big Brother orwelliano, mas sob a ameaçadoramente ridícula figura de commedia dell’arte de um bufão gabarolas. Quão ingénuo fui nos anos 60 ao pensar que era um americano a viver em tempos absurdos! Quão pitoresco! Mas, afinal, o que é que eu podia saber em 1960 sobre 1963 ou 1968 ou 1974 ou 2001 ou 2016?»

Noutro passo da entrevista, diz o escritor:

«Trump (…) é uma fraude maciça, a soma maligna das suas deficiências, destituído de tudo exceto a ideologia oca de um megalomaníaco.»

A entrevista pode ser lida aqui: