“O
homem da agência funerária chegou tão pontualmente que Maria dos Prazeres
estava ainda em roupão de banho e com a cabeça cheia de rolos, e mal teve tempo
para pôr uma rosa vermelha na orelha a fim de não aparecer tão indesejável como
se sentia. Lamentou-se ainda mais do seu estado quando abriu a porta e viu que
não se tratava apenas de um lúgubre, como ela supunha que deviam ser os
comerciantes da morte, mas um jovem tímido com um casaco aos quadrados e uma
gravata com pássaros coloridos. Não trazia sobretudo, apesar da Primavera incerta
de Barcelona, que as chuvas batidas por ventos oblíquos tornavam quase sempre menos
suportável ainda do que o Inverno. Maria dos Prazeres, que recebera tantos
homens a qualquer hora, sentou-se envergonhada como pouquíssimas vezes lhe
sucedera. Acabava de completar setenta e seis anos e convencera-se de que ia
morrer antes do Natal, mas, apesar disso, esteve quase a fechar a porta e a
pedir ao vendedor de funerais que esperasse um instante enquanto se vestia para
o receber depois, de acordo com os seus méritos. Mas pensou que o rapaz ia
gelar no patamar às escuras e deixou-o entrar…”
A
abrir o conto “Maria dos Prazeres”, incluído no livro “Doze Contos Peregrinos”
de Gabriel García Márquez
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