28 novembro 2020

PLANO DE LEITURAS 2021

Duas Raparigas Lendo (1934), de Pablo Picasso 

1º trimestre: 29 de Janeiro, 26 de Fevereiro e 26 de Março

«Escuto a América a cantar, as várias canções que escuto» - WALT WITHMAN

- Não Matem a Cotovia, de Harper Lee

- As Vinhas da Ira, de John Steinbeck

- O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway

2º trimestre: 30 de Abril, 28 de Maio e 25 de Junho

«Última flor do Lácio, inculta e bela» - OLAVO BILAC

- Cemitério de Pianos, de José Luís Peixoto

- Levantado do Chão, de José Saramago

- Olhai os Lírios do Campo, de Erico Veríssimo

3º trimestre: 30 de Julho, 27 de Agosto e 24 de Setembro

«Bem próvida a natura quando alteou / Entre nós e os tudescos / Dos fortes Alpes o limite duro» - FRANCESCO PETRARCA

- O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa

- O Nome da Rosa, de Umberto Eco

- Se numa Noite de Inverno um Viajante, de Italo Calvino

4º trimestre: 29 de Outubro, 26 de Novembro e 17 de Dezembro

«A única coisa que nos resta diante dessa inelutável derrota a que chamamos vida, é tentar compreendê-la. Eis aí a razão de ser da arte do romance» - MILAN KUNDERA

- A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol, de Haruki Murakami

- O Mar, o Mar, de Iris Murdoch

- O Triunfo dos Porcos, de George Orwell


24 novembro 2020

LIÇÃO DE ANATOMIA

 ADRIAEN BACKER, Lição de Anatomia do Dr. Frederik Ruysch (1670)

«O pintor conseguiu captar na expressão facial do jovem Ruysch a autoconfiança aliada à astúcia de comerciante. O corpo retratado está pronto para ser dissecado; em poucas palavras, o cadáver do homem ainda novo é fresco; parece estar vivo - a pele é de uma cor rosada e leitosa e em nada faz lembrar um cadáver; o joelho dobrado parece o movimento de um homem que, deitado nu e de costas, instintivamente tenta tapar as partes vergonhosas do corpo ante os olhares de estranhos. Trata-se do corpo de um enforcado, o ladrão Joris van Iperen.» - OLGA TOKARCZUK, Viagens, p. 189.  

21 novembro 2020

JOSEPHINUM, VIENA

O museu Josephinum foi construído entre 1783 e 1785 para a Academia de Medicina e Cirurgia e expõe modelos de cera do corpo humano.



Viagens, de Olga Tokarczuk, dedica-lhe o fragmento "Colecções de Modelos de Cera". A descrição impressiona, certamente não mais que as peças vistas ao vivo. «Sentei-me junto à janela, num banco duro, diante da multidão silenciosa de modelos de cera e, exausta, deixei que uma onda de comoção me invadisse. Que músculo é este que me dá um nó na garganta? Como se chama? Quem inventou o corpo humano? E, nesta sequência, quem detém sobre ele os eternos direitos de autor» (p. 111). Uma comoção de dúvidas em que  não cabem verdades absolutas. 
 

19 novembro 2020

FALAR DE AEROPORTOS

 

«Tal faz com que, na Psicologia da Viagem, tenha surgido ultimamente a ideia da sua supremacia sobre os outros ramos, chegando-se ao ponto de se defender que não pode haver outra Psicologia a não ser a Psicologia da Viagem.»

-- OLGA TOKARCZUK, Viagens


Tocado pela escrita da nossa autora deste mês, venho falar de aeroportos.

Duas experiências apenas, pontuais e insignificantes. Quantas de bem mais robusto interesse não terão para contar as nossas leitoras? Ah, a Psicologia da Viagem! Que falem agora, ou então calem-se para sempre.

1ª experiência:

Barcelona, aeroporto d´El Prat de Llobregat, há uma carrada de anos.

Saí pelas 9 horas da manhã de um hotel na Diagonal à boleia de pessoa amiga que ia trabalhar para o seu escritório na zona do aeroporto. Meia hora depois ali estava, só que o meu voo para Lisboa era ao fim da tarde. Porque não fiquei a passear pelas Ramblas ou pelo Paseo Marítimo e me fui meter, com antecedência de oito ou nove horas, naquele antro de partidas e chegadas, de escadas rolantes e vozes multilingues disparadas como balas dos canos estriados dos altifalantes? Quis aproveitar a boleia, foi isso, conversar mais uns minutos com quem me levava, e ali permaneci todo o dia claro com a pequena mala que tinha por bagagem, observando, lendo e rabiscando umas notas sem préstimo. Almocei uma sandes de boa catadura e gosto indiferenciado que me custou um ror de pesetas, saudosa divisa, as moedas mostrando a cara daquele rei que veio a especializar-se em caçadas de elefantes e negócios comissionados. Acho que a certa altura me fartei. Então errei pela vastidão dos espaços, entrei nas casas-de-banho só para me ver aos espelhos, fiz perguntas impertinentes aos balcões das companhias aéreas, tais como qual é o preço de uma viagem para Miami ou com que frequência há saídas para o Rio de Janeiro. Ah, lembro-me bem, vi mulheres belíssimas de todas as cores e feitios. Foi bom, mas para um dia inteiro é cansativo. Fui o primeiro a fazer o check-in, eram 5 horas da tarde.

2ª experiência:

É como que simétrica da anterior. Voo de Lisboa para Veneza, há cerca de um ano.

O avião levantava antes das 7 da manhã, tinha de estar no aeroporto pelo menos uma hora antes. Achei pouco seguro sair de casa (arredores de Lisboa) de madrugada. Pensava que poderia não encontrar táxi ou que, se ajustasse previamente o serviço, o taxista poderia falhar por qualquer razão imprevista. Nunca tinha saído num voo tão madrugador e não queria arriscar-me a ficar em terra: um caso certamente merecedor de análise no âmbito da Psicologia da Viagem. Cheguei ao aeroporto à 1 da manhã, quando cessam os voos de partida e chegada. Depois desta hora tudo se transforma: há carros de aspiração e limpeza em circulação; operários trabalhando com o ruído dos seus berbequins a retirar e a colocar painéis publicitários; há luzes que se apagam ou diminuem de intensidade. Há quem durma nos esconsos do amplo espaço sobre cartões e mantas: passageiros a aguardar viagem ou sem-abrigo em lugar protegido e climatizado? Não cheguei a apurar. Dormir nos bancos é propósito ínvio, tanto pela configuração e incomodidade dos assentos como pelo barulho dos trabalhadores em acção. Desisti de dormir, fiquei a ver o circo. Pelas 3 horas da manhã, uma miúda de vinte e poucos anos veio ter comigo. Estava ali por razões mais ou menos idênticas às minhas: eu aguardava a partida, ela esperava a chegada de um amigo num voo de Cabo Verde, lá para as 5 e tal da manhã. Por essa hora não tinha transporte, então veio para o aeroporto à meia-noite.

“Está à espera de que voo?”

“Estou à espera de partir, vou para Veneza.”

“Ah, Veneza, a minha avó esteve lá no ano passado, não gostou.”

Imaginei a pobre senhora na Praça de São Marcos, cercada de hordas de chins e outros povos estranhos, a circularem aos magotes pelas bordas dos canais e ela em grande perigo de cair à água, desejosa de se ver ao sol de Lisboa e em terra firme do seu bairro.

“O patrão do meu amigo deu-lhe uma semana de férias por ter feito um bom trabalho. Pagou-lhe a viagem. Por outro não estava aqui, mas este amigo merece.”

Não aprofundei, mas cá para mim era amigo colorido. Apreciei a forma como a ele se referia e lembrei-me do nosso rei trovador.

Ai flores, ai flores do verde pino,

se sabedes novas do meu amigo?

Ai Deus, e u é?

Acho que lhe perguntei o nome, gosto de saber o nome dos meus interlocutores, mas se mo disse já o esqueci. A amor é bonito. Uma noite passada no aeroporto também.



09 novembro 2020

“Viagens” de Olga Tokarczurk – 27 de Novembro às 20h00


 Abri o livro ao acaso e deparei-me com a história que se segue

“…

Expedições ao Pólo Norte

Lembrei-me hoje de uma coisa de que Borges se lembrou em tempos – ele lera algures que, nos tempos da construção do império dinamarquês, os padres dinamarqueses anunciavam nas igrejas que todo aquele que participasse numa expedição ao Pólo Norte mais facilmente alcançaria a salvação da alma. Como tal não suscitou muitos interessados, os padres acabaram por admitir que se tratava de uma expedição longa e difícil que não era para todos, mas somente para os mais corajosos. Ainda assim não houve muitos interessados. Por conseguinte, para não perder a face, os padres rectificaram o seu anúncio – em verdade, toda e qualquer viagem podia ser considerada como expedição ao Pólo, até mesmo uma excursão ou um passeio de charrete pela cidade.

Hoje em dia, certamente, até podia ser uma viagem de metro.

…”

In “Viagens” de Olga Tokarczurk

 

Agora vou voltar ao início e começar em modo “Existo”…

08 novembro 2020

REGRESSO ÀS SESSÕES PRESENCIAIS

Assim foi disposta a sala polivalente para a nossa sessão da passada sexta-feira. Em discussão o romance Pão de Açúcar, de Afonso Reis Cabral. Os leitores sentaram-se cadeira sim, cadeira não, cumprindo todas as normas de segurança da Direcção Geral de Saúde. Compareceram 17, não longe dos 25 da média de presenças em tempo normal.

Agradecemos aos coordenadores e demais pessoal da Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana a organização física da sessão e todo o carinho que têm dispensado às actividades da Comunidade de Leitores.