" O que mais há na
terra é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou,
abundância que só por milagre infatigável se explica, porquanto a paisagem é
sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de tanto existir, não se acabou
ainda. Será porque constantemente muda: tem épocas do ano em que o chão é
verde, outras amarelo, e depois castanho, ou negro. E também vermelho, em
lugares que é cor de barro ou sangue sangrado. Mas isso depende do que no chão
se plantou e cultiva, ou ainda não, ou não já, ou do que por simples natureza
nasceu, sem mão de gente, e só vem a morrer porque chegou seu último fim. Não é
tal o caso do trigo, que ainda com alguma vida é cortado. Nem do sobreiro, que vivíssimo,
embora por sua gravidade o não pareça, se lhe arranca a pele. Aos gritos…”
In “Levantado do Chão” de
José Saramago
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