Imagem da net (não encontrei
os créditos)
A certo momento
do “Levantado do Chão”, fala-se de uma debulhadora e das terríveis condições de
trabalho, para operar a mesma. O texto é longo e opressivo. A descrição é tão real, que facilmente imaginamos a cena ali apresentada e
sentimos a falta de ar provocada por aquela névoa de pó e palha e os ouvidos
parecem ensurdecer com o ruído que constantemente nos matraqueia. Procurei
imagens do monstro e encontrei as que estão em cima.
“… Chamam-lhe debulhadora……………
Vista de fora, é uma grande caixa de madeira sobre rodas de ferro, ligada por
uma correia a um motor que trepida, estrondeia, retumba e, com perdão, fede.
Pintaram-na de amarelo gema de ovo, mas a poeira e o sol bruto quebraram-lhe a
cor, e agora mais parece um acidente do terreno, ao lado doutros que são os
frascais, e com este sol nem se distingue bem, não há nada que esteja quieto, é
o motor a saltar, a debulhadora a vomitar palha e grãos, a correia frouxa a
oscilar, e o ar vibrando como se todo ele fosse o reflexo do sol num espelho
agitado no céu por mãozinhas de anjos que não têm mais que fazer. Há uns vultos
no meio desta névoa. Estiveram todo o dia nisto, e ontem, e anteontem, e mais
para trás, desde que a debulha começou…………………. Dormem na eira, na revessa dos
fardos, mas é noite fechada quando o motor se cala e ainda vem longe o sol
quando se ouve o primeiro tiro daquela besta que se alimenta de bidões dum
líquido preto e pegajoso, e depois, todo o santo dia, diabos o levem,
matraqueia os ouvidos…………………….A boca da máquina é um vulcão para dentro, um
gasgarro de gigante………………………………….. giram como doidos naquela perdição de palha
miúda, …………………………….. e a máquina é como um poço sem fundo. Só falta meter-lhe
um homem dentro. ……………………………….. É a moinha aquele monstro sem peso, aquela
palha poalha que se infiltra pelas ventas e as entope, que se mete por tudo
quanto é abertura da roupa e se agarra à pele, uma pasta de lama, e a comichão,
senhores, e a sede. A água que se bebe do quartão não tarda que fique mole,
doentia, …………………………………Vai o moço para a moinha, recebe-a na cara como um
castigo, e o corpo começa de mansinho a protestar, para mais não me sobram as
forças, ……………………………………………., e então, de dois feito, o rapaz, que se chama
Manuel Espada e voltará a ser falado neste relato, deixa a moinha, chama os
companheiros e diz, Vou-me embora, que isto não é trabalhar, é morrer………………. e
afinal são apenas quatro rapazes, estes que se afastam movidos por suas razões
de quem não tem que pensar em mulher e filhos a sustentar…”
Excertos do capítulo que se inicia na pág.99 do meu livro. Edição Caminho - O Campo da Palavra.
Sem comentários:
Enviar um comentário