Cartaz de divulgação da "Cultura Cascais"
Blogue da Comunidade de Leitores da Biblioteca de S. Domingos de Rana - Cascais - Portugal
No capítulo
8 de “Olhai os Lírios do Campo”, Eugénio Fontes e Olívia vão jantar ao
restaurante austríaco «Edelweiss«, nome de uma flor alpina de rara beleza.
Naquele dia, a psicologia bipolar do protagonista estava do lado da satisfação
e da autoestima. Com uma traqueotomia prontamente realizada salvara uma criança
em estado agudo de laringite diftérica. Até o seu ateísmo ressentido parecia
desaparecer: «Sim, Deus existia! – achava Eugénio. Recordações das lições da Bíblia
no Columbia College. A ressurreição de Lázaro. A filha de Jairo. Cristo era um
médico. Cristo podia ser aquela estrela pura.»
Edelweiss é
a flor nacional da Áustria e da Suiça. Em “Música no Coração” o nome da flor
aparece na letra de uma canção: «Edelweiss / Edelweiss / Bless my homeland
forever.»
O que não sabia é que em Lisboa também há um restaurante «Edelweiss». Fica no nº 2 da Rua de S. Marçal, ali perto de S. Bento. Passei por lá hoje à hora do almoço. É um restaurante suíço em cuja ementa há pratos como «Strogonoff de vitela», «Salsicha alemã com molho de cebolas» e «Massa fresca suiça com queijo Emmental». Só abre para jantares a partir da 17 horas. Talvez algumas das nossas leitoras ainda se disponham a ir a este restaurante experimentar os segredos da gastronomia alpina, e sempre com "Olhai os Lírios do Campo" em pensamento. O aspecto exterior do restaurante é frio e vulgar, mas por dentro, tanto quanto me apercebi, é simpático e acolhedor.
“…Seu Florismal... Para
Eugênio, esse nome tinha um secreto encanto. Florismal aparecia quase todas as
noites, chegava muito calmo, fumando o seu charuto de tostão, e ia logo
sentar-se na cadeira de balanço. Era um homem baixo, de cabelos ralos, quase
calvo. No rosto gorducho e redondo, a barba forte era sempre uma sombra
azulada, mesmo quando ele se escanhoava. Os dentes eram maus e miúdos. Florismal
tinha uma voz macia e uma certa dignidade de estadista. Era um espírito
conciliador e gabava-se de ter muita lábia. «Nasci para advogado - dizia. - Se
eu tivesse tido mais um pouco de juízo quando moço...» Calava-se, entortava a
cabeça, batia a cinza do charuto e ficava em atitude sonhadora. Decerto via
mentalmente o seu passado, os seus erros e uma carreira perdida. Ou então
pensava apenas no efeito que aquelas palavras e aquela sugestiva postura podiam
estar produzindo nos interlocutores…”
In “Olhai os Lírios do Campo”
de Erico Veríssimo -Pág 21, Edição “Livros do Brasil” Lisboa