25 abril 2011

Relembrando Camilo


Camilo e Ana Plácido - Casa Museu de S. Miguel de Seide (Foto minha Maio 2010)

Os Amigos

Amigos, cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais!

Amigos, cento e dez! Tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia
Que, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quasi rotos.

Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego não nos pode ver.
- Que cento e nove impávidos marotos!

Camilo Castelo Branco

Quem se lembra da D. Cândida, nossa excelente anfitriã, a declamar este poema na sala de Camilo?

3 comentários:

Joca disse...

Pois, não é mais que relembrar que é nas horas difíceis que se conhecem e se reconhecem os amigos. Neste caso, em verso.

Manuel disse...

Oportuna intervenção, Minha Cara Amiga.
Ai a D. Cândida, já tinha esquecido o nome dela.

Maria Amélia disse...

Ora aqui está mais uma prova da capacidade de ironia do nosso Camilo! Coincidência ou não, enquanto lemos a Queda de um Anjo, a Cláudia anda às voltas com O Dia do Desespero e os entrançados (palavra dela)de realidade e ficção de realizador e escritor...perguntando-se onde acaba uma e começa a outra ou, melhor ainda, em que medida não transformou o Camilo em ficção a sua própria realidade, a sua vida?