Charolinha, Mata Nacional dos Sete Montes, Tomar
Quem não ouviu contar histórias na infância ou delas não guardou na memória o seu maravilhoso irrepetível, pode ter crescido e se tornado gente, pode até ser pessoa válida e de bem, mas encontrar-se-á fatalmente amputado na sua plenitude imaginativa e criadora. Para nos tornarmos homens, é preciso que, em meninos, tenhamos aberto os olhos de espanto perante o canto de sereia das narrativas.
Garrett deixou-nos o testemunho do efeito que nele causaram as histórias da velha Brígida, criada que tinha todo o jeito e traça de bruxa, e era cronista-mor de feitiços e milagres:
(…) Suas longas histórias recontando
De almas brancas trepadas por figueiras,
De expertas bruxas de unto besuntadas
Já pelas chaminés fazendo víspere,
Já indo, às dúzias, em casquinha de ovo
À Índia de passeio numa noite…
E ai! se o galo cantou, que à fatal hora
Encantos quebram, e o poder lh’ acaba. (1)
Amanhã vou a Tomar em passeio com a Comunidade de Leitores da Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana. Foi em Tomar que, em menino, ouvi as melhores histórias da minha vida: histórias de bruxas, de lobisomens e de almas penadas – histórias que não metiam medo e em que queria com toda a força acreditar. Acho que foram a base da minha formação e valeram tanto ou mais que todas as disciplinas e seminários da Universidade. Uma dívida que não paguei e só de uma forma conseguirei pagar: nunca esquecer quem me as contava.
(1) Dona Branca, canto terceiro, estrofe III.
2 comentários:
Manuel
E que tal amanhã lembrar algumas dessas histórias :)
Manuel, só para te dizer que talvez haja mais formas de agradecer a essas pessoas que te foram, e são-no ainda, tão queridas: tu sabes exactamente quais.
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