24 outubro 2011

SER OU NÃO SER

Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.

Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.

Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.

Até quando? Até quando?

Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.

Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.

MANUEL ALEGRE

6 comentários:

Anónimo disse...

Sim, é preciso vencer os fantasmas que andam à solta...porque a vida é bem mais que o reino da Dinamarca. Hamleta

HAMLET, PRÍNCIPE DA DINAMARCA disse...

Há vida para além do défice... 5,9% do PIB? Bom espectro da esplanada do castelo, diz-me como consegui-lo!
Veja-se a minha fala no primeiro acto, cena II: " A economia! a economia, Horácio! Os restos frios do repasto dos funerais serviram ainda para o jantar de núpcias!"

Anónimo disse...

Há mais mundos para além da Dinamarca, meu Senhor. Mundos sem fantasmas. A vida é mais importante que uma vingança. O futuro é mais importante que qualquer deficit. ...Hamleta

HORÁCIO disse...

Nobre Senhora:
Eu que sou letrado, e fiquei vivo para poder contar, peço-lhe que não leve muito a peito a história do príncipe Hamlet. Mais do que vingança, aquilo é ilusão barroca. Ofélia, coitada, é que me causou pena. Tão novinha e com aquele fim tão mau!

Custódia C. disse...

Eu por mim cansei-me um bocadinho de tanta carnificina venenosa ... Morrer por algumas gotas que deslizam ouvido abaixo? Nunca tal ouvira eu !

Manuel José disse...

Sim, mas é uma obra de uma época. Temos de a ver dentro do seu tempo. Logo veremos isso.