«[É
difícil de ler quem escreve segundo o Acordo ortográfico] e quem não segue?
Claro que não. Habituemo-nos então às duplas grafias. Concordemos em
discordar», escreve Miguel Esteves Cardoso na sua crónica publicada no diário
português “Público”.
No
“Público”de [8/02/2012], graças à Cláudia Carvalho e à Isabel Coutinho, estava
a solução do desacordo ortográfico. Descobriram-nas nas palavras de dois
inteligentes amigos meus: as de António Emiliano, da Universidade Nova de
Lisboa, e as de António Feijó, da Faculdade de Letras de Lisboa. Os portugueses
gostam tanto de obedecer como de pôr os outros a obedecer. Brigam muito, mas
acham que abriga deve acabar por acabar.
Quando
isso acontecer, uns ganham e os outros perdem. A partir desse momento, os que perdem
devem obedecer aos que ganham. Numa coisa, secretamente sinistra, todos concordam:
uma vez estabelecida a"norma" (pense na ópera de Bellini) todos
devemos obedecer.
Porquê?
É difícil de ler o Miguel Sousa Tavares no Expresso que segue o AO? Ou o Rui
Tavares [no “Público”], que não segue? Claro que não. Habituemo-nos então às
duplas grafias. Concordemos em discordar.
Nos
dicionários registem-se as duas variantes, com a devida indiferença. Daqui a cinquenta
anos, ver-se-á quais são as grafias mais e menos populares. É assim que a
ortografia irá mudando: naturalmente, mas saudavelmente constrangida por apenas
duas versões, ambas correctas ou corretas. Eu leio a última palavra como se
rimasse com "forretas"e significasse quem corre e foge mal haja um
problema. Mas percebo que haja quem leia "correcto" como analmente
retentivo. E exija castigo correcional nas nádegas, somando o cu e o recto.
Vivamos
em Desacordo Ortográfico.
Miguel
Esteves Cardoso
*
In crónica publicada no jornal Público do dia 10 de fevereiro de 2012, na
coluna diária do autor, «Ainda Ontem»
Sugestão de publicação enviada pelo Leitor Helder Maia
Sem comentários:
Enviar um comentário