VILANCETE
Disse Inês que me
queria
No tempo que me
enganava;
E eu queria, ela
zombava.
Deu-me mostras e
sinais
Que me amava de
verdade,
Cativou minha
vontade
Para assim
querer-lhe mais;
Cuidei que eram
naturais
Os extremos que
mostrava,
E eu queria, ela
zombava.
Era de mim tão
contente
Que assim mesmo
tinha inveja,
Que o que muito se
deseja
Logo se crê
facilmente;
Logo ela era tão
diferente
Que em tudo o que
me tratava
Eu queria, ela
zombava.
Foi-me assim, zomba
zombando,
Vencendo por graça
e riso;
Sem nunca me amar
de siso,
O siso me foi
tirando;
Fiquei doido, como
quando
Pelo amor, que me
mostrava,
Eu queria, ela
zombava.
Diziam-me os
guardadores:
– Olha ora por ti,
Joane,
Deixa Inês e não te
engane,
Que ela tem outros
amores. –
Cuidavam que eram
melhores
Os que comigo
tratava:
E eu queria, ela
zombava.
Primavera (1601)
4 comentários:
Ninguém!
Todo o mundo gosta deste poema.
Assentem aí, pessoas, assentem...
Olá, Companheiros!
Encontro-me em Coimbra, a realizar assentamentos tão raros e especiosos que nem a Berzebu ouso confessar.
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