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O poeta
falhado expendeu, entretanto, algumas considerações sobre mulheres que conhecera
e amara: a morgadinha dos canaviais, Emma Bovary, a Barbara de Jacques Prévert.
Regurgitava
de gente a Cervejaria Virginal, Vaginal se chamaria se o produtor, atento ao
assunto, não tivesse intervindo no script para
corrigir a enormidade.
– Depois
deste filme, que me parece poder descambar em algumas ousadias torpes, só
investirei em histórias com meninas do tipo Jenny ou Joaninha dos Olhos Verdes –
terá dito.
A anotadora,
uma rapariga de cachecol ondulante e saia cor de tijolo da Mango, trocou um
olhar de entendimento com o realizador, enquanto a barra zebrada da claquete
era movimentada por um assistente, produzindo aquele ruído seco parecido com
uma palmadinha no pescoço ou um falso beijo repenicado. Iniciado o take, disse o ajudante de despachante
para o poeta falhado:
“Percebes bem
pouco de mulheres, meu caro amigo. Fica a saber que as piores gajas são as da
alta. Se te decidires a começar com alguma, escolhe uma costureirinha, uma
rapariguinha do shopping, uma
funcionária municipal com vencimento não superior a 550 euros. O meu patrão é
casado com uma tipa cheia de massa, e ainda por cima quinze anos mais nova do
que ele, sei bem o que se passa na vida daquele casal, nem me atrevo a falar. Razão tinha o nosso D. Francisco Manuel de
Melo na sua carta de guia de casados!”
O poeta
falhado contrapunha:
“Mas o amor,
meu amigo, e deixamos de acreditar no amor?”
O ajudante
de despachante mandou vir mais uma imperial; abriu a pasta de couro para se se certificar
de que não havia perdido o processo de despacho aduaneiro respeitante às peças
para submarinos do Ministério da Defesa; tirou de um dente lascado, com a unha
do dedo mínimo, um pedaço de tremoço que o afligia; deu liberdade, em discreto
flato, a um congestionante gás estomacal.
Ia finalmente
falar, mas foi interrompido pela realização. À porta da cervejaria, em grande
algazarra de concertinas, violas, cavaquinhos e passinhos, passava o rancho
folclórico de Aranda dos Montes, concelho de Alguidares da Beira, que tinha ido
a S. Bento cantar as janeiras ao senhor primeiro-ministro. Era nos dias a
seguir aos Reis, devem estar recordados.
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