Pouco vira
de praias para lá de Burgau e da Luz, desconheço mesmo se alguma vez se
aventurara do outro lado da costa, pelas rotas escarpadas de Aljezur e
Odeceixe. Fora da Ingrina, tinha como
certas, apenas, as idas diárias ao mercado de Sagres ou à lota da Baleeira. E,
mesmo assim, falava com alemães e ingleses como se conhecesse o mundo, os olhos cheios de claridade, enquanto virava o peixe no grelhador ou levava para as
mesas os jarros luminescentes de sangria coalhados de gomos de laranja e
quartos de maçã reineta.
O corpo,
como o dorso dum peixe, fizera-se poema de escamas de sal. O rosto era tisnado
e ignorante de tudo, mas os seios, nas horas em que descia à praia, conheciam as ondulações do mar, as carícias do sol, o vento fininho da tarde carregado de invisíveis
grãos de areia que lhe picavam, como agulhas, as rijezas escuras dos mamilos.
Ludovina da
praia da Ingrina! Como me fui encontrar com o teu nome?, logo agora que deves estar
carregada de anos, prenhe de filhos e netos, aboletada em algum esconso da vida
à espera que se esgote o tempo como um voo breve de gaivota.
Até um dia
destes, rapariga, se ainda houver dia.
4 comentários:
Cá está um texto sem moinhos de vento e sem noviriquismo intelectual. escreveste um excelente texto. Prenhe sim, mas de poesia. Só um espírito insensível que não conhece o Sul, estes dias,os risos e as lágrimas,o espanto e o silêncio do estio, ficará indiferente a esta voz, também, patética, de contista. Estou á espera das tuas páginas do Ribatejo.
Andam mouros nas costas!
Etelvina, Ludovina, Ingrina, sim senhor, também acabámos por descobrir a dita praia, sem a Etelvina, por acaso e, de Ludovina não procurámos o rasto...provavelmente perdido já, com tantos anos passados.
Bia disse...
A Etelvina já terá esquecido a confusão mas, com este "pedido de desculpas", até vai querer ter o seu nome trocado por outras Ludovinas ou Ingrinas com "os olhos cheios de claridade".
Concordo com o "mouro que deu à costa", muito belo!
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